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Paulínia: refino cultural

Maior polo petroquímico da América Latina, Paulínia agora impressiona pelas produções cinematográficas e por sua programação de concertos internacionais

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h32 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

A partir de domingo (9), a Orquestra Filarmônica de Israel, uma das melhores do mundo, retorna à Sala São Paulo para três apresentações. Os ingressos por aqui estão esgotados, mas ainda é possível assistir ao maestro indiano Zubin Mehta regendo Beethoven e Richard Strauss. Basta pegar a estrada e rodar 118 quilômetros rumo a Paulínia, cidade de 79 000 habitantes no interior do estado. A Filarmônica abrirá, no sábado (8), sua turnê sul-americana no palco do novo Theatro Municipal Paulo Gracindo e voltará a se exibir ali no dia 12. Ainda restam 560 das 2 600 entradas postas à venda para as duas sessões. Inaugurado há um ano, o teatro tem 12 000 metros quadrados e custou 53 milhões de reais aos cofres públicos. Desde então, abrigou 25 encenações de peças e foi palco de duas edições do Festival Paulínia de Cinema. Na última, realizada há vinte dias, circularam num tapete vermelho maior que o de Cannes e o de Veneza – pelo menos é o que garantem seus organizadores – artistas como Tony Ramos, Selton Mello e Guilhermina Guinle.

A fachada em estilo grego esconde uma impressionante sala com 1 300 lugares – para efeito de comparação, a Sala São Paulo, no bairro da Luz, conta com 1 484 poltronas. Há quem ache, inclusive, que a acústica do teatro pauliniense seria melhor que a da sala paulistana. “Na Sala São Paulo, o som varia conforme o lugar em que o espectador se senta”, diz o violoncelista Roberto Ring, que tocou na Orquestra Sinfônica de São Paulo por cinco anos. “Em Paulínia, o som é mais uniforme.” Até dezembro, outras duas orquestras estrangeiras, a Filarmônica de Buenos Aires e a da Academia de Viena, também devem se apresentar lá. Serão oito concertos internacionais e oito nacionais, num investimento feito pela prefeitura de 2 milhões de reais – destes, 700 000 reais foram para a Filarmônica de Israel. “Nosso objetivo é ser um polo cultural de referência na região”, afirma o secretário de Cultura, Emerson Alves.

Trata-se de uma reviravolta para um município que se apresenta orgulhosamente com o título de “cidade do petróleo” por reunir uma refinaria (a Replan, a maior do Brasil), 346 indústrias (em boa parte, químicas) e inúmeras distribuidoras. Mais do que uma tentativa de – o trocadilho é inevitável – se refinar, Paulínia quer desprender-se dos royalties do petróleo para criar mais empregos e alavancar o setor de serviços. “Preci-sávamos de uma segunda fonte econômica para abrir mais postos de trabalho”, diz Alves. “Chegamos à conclusão de que a indústria cultural e cinematográfica era o caminho.” A meta é que 1 500 empregos sejam criados por ano.

Desde 2006, a cidade investiu 100 milhões de reais em seus projetos cinematográficos. Exageros à parte, ganhou o apelido de Pauliniwood. Além do teatro municipal, foi erguido um estúdio de 600 metros quadrados em que foram rodados longas como Hotel Atlântico, de Suzana Amaral, Jean Charles, de Henrique Goldman, e O Contador de Histórias, de Luiz Villaça. O complexo abriga ainda duas escolas de cinema. A de animação Stop Motion, voltada para alunos de 5º a 8º ano, e a Magia do Cinema, especializada em formar mão de obra para os filmes rodados ali. Outros quatro estúdios deverão ser construídos até 2010.

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As cifras e as estruturas superlativas chamaram a atenção do Ministério Público, que investiga se o prefeito José Pavan Junior privilegia a cultura em detrimento dos investimentos sociais. “Não é verdade. Paulínia investe 33% do orçamento em educação e 23% em saúde”, declara o secretário Alves. Por suspeita de compra de votos na última eleição, Pavan Junior teve seu mandato cassado em primeira instância pela Justiça Eleitoral no último dia 16. Ele recorreu da sentença, conseguiu liminar favorável e permanece no cargo até que o recurso seja julgado.

Maior polo petroquímico da América Latina, Paulínia é a quarta cidade do estado que mais arrecada impostos – perde apenas para São Paulo, Guarulhos e São Bernardo do Campo. Os tributos lhe rendem uma receita anual de 750 milhões de reais. Segundo prevê uma lei de 2006, 1% desse total tem de ser destinado a projetos culturais e 10% da receita dos Impostos Sobre Serviços (ISS) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) deve ser direcionada a um Fundo Municipal de Cultura. Tudo isso rende por ano cerca de 15 milhões de reais à administração municipal. A prefeitura destina metade desse total a produções cinematográficas rodadas ali desde 2007. Neste ano, dez dos 44 projetos inscritos devem receber entre 600 000 reais e 1,5 milhão de reais cada um. Em contrapartida, os filmes beneficiados têm de gastar pelo menos 40% do valor recebido em Paulínia. Um exemplo. Praticamente todos os 250 figurantes do longa As Vidas de Chico Xavier, do diretor Daniel Filho, que está sendo filmado desde a semana passada na cidade, são moradores da região – das crianças que interpretam os irmãos do médium ao cachorro de estimação do personagem. Daniel Filho recebeu verba de 1,5 milhão de reais da prefeitura para rodar a produção, orçada em 8,5 milhões de reais. “Os estúdios são de ótima qualidade, estamos a poucos minutos de São Paulo e de aeroportos internacionais como Viracopos e Guarulhos”, afirma o produtor executivo do longa, Julio Uchôa. “Como os custos aqui são mais baixos, chegamos a economizar até 30% com a produção.” Metade dos 98 integrantes da equipe de Uchôa é de Paulínia. Caso de Neila Freiria, responsável pela seleção dos figurantes. Ex-gerente de uma empresa de alimentação da cidade, ela foi uma das primeiras alunas a se formar na Escola Magia do Cinema e já trabalhou em três projetos. “Hoje ganho 10% a mais em relação ao que recebia no meu antigo emprego”, diz ela, em tom de happy end.

O que é que Paulínia tem

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79 000 habitantes PIB per capita de 104 728 reais – o quádruplo do índice da cidade de São Paulo (25 674 reais)

Orçamento municipal de 750 milhões de reais

A Replan, a maior refinaria do Brasil

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346 indústrias (em boa parte, químicas) e inúmeras distribuidoras de petróleo

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