Quatro perguntas para Nicette Bruno
A atriz divide o palco com Eva Wilma no espetáculo O que Terá Acontecido a Baby Jane?, que estreia no Teatro Porto Seguro.
Protagonizar um espetáculo desse porte na maturidade é uma chance rara, não?
Quanto mais idade e experiência, nós ganhamos novas possibilidades de aprendizado. Então, não acredito que bons papéis desaparecem com a idade. Eu me senti desafiada com o convite do Charles Möeller e do Claudio Botelho porque logo me lembrei do desempenho de Bette Davis e de Joan Crawford no filme.
O filme homônimo, tão marcante, pode prejudicar a composição?
De imediato, nós não revimos o filme para não sofrer influência. A construção das atrizes é tão perfeita que nos induziria a um ou outro caminho. Só um mês depois dos trabalhos é que, cada uma na sua casa, assistiu ao longa. A minha personagem é racional, mais introvertida. A loucura fica mais concentrada nas mãos da Eva.
Aos 83 anos, a memória se torna um problema para decorar textos?
Claro que não sou a mesma de quando tinha 20 anos. Não é tão fácil, mas a gente toca em frente. Decorar é consequência do entendimento, então, se esquecemos uma ou outra palavra, recorremos a um leve improviso. Cada uma de nós tem uma assistente que nos ajuda. Minha personagem se expressa nos gestos, nos olhares. Tenho menos falas.
Nesse trabalho, você diversifica as parcerias e se descola um pouco da memória de seu marido, Paulo Goulart (1933-2014)?
Eu não consigo me descolar nunca, nem vou conseguir. É maravilhoso ter a chance de concentrar energia nos personagens. Estou envolvida com outros colegas, em uma peça distante do meu universo. O trabalho me ajuda a viver de uma forma equilibrada. Sei que onde quer que o Paulo esteja, está feliz pela forma como toco minha vida.