Prédios montam vestiários para quem vai de bicicleta ao trabalho
Construtoras e comerciantes oferecem novos serviços e vantagens para os ciclistas
Percorrer os bairros da cidade sobre uma bicicleta parecia uma insanidade há cerca de cinco anos. A criação de 118 quilômetros de ciclovias e ciclorrotas e do programa da ciclofaixa de lazer, em 2009 — que soma 121 quilômetros e 120 000 usuários por fim desemana —, está ajudando a mudar um pouco esse cenário. Até o fim de 2016, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) pretende inaugurar outros 150 quilômetros de malha cicloviária. Estima-se que 500 000 paulistanos utilizem o meio de transporte pelo menos uma vez por semana. No último dia 15, a capital ganhou ainda um novo sistema de aluguel desses veículos, o CicloSampa, que funciona de maneira similar ao Bike Sampa, inaugurado em 2012.
Um dos movimentos que ilustram bem a mudança de status das bicicletas na capital são os investimentos realizados na infraestrutura dos novos prédios. Nos últimos três anos, surgiram por aqui mais de cinquenta empreendimentos residenciais e comerciais que oferecem serviços a quem pedala. O movimento ficou mais acelerado a partir de 2012, quando foi aprovada uma lei municipal que obriga as construtoras a incluir bicicletários em seus projetos. Além disso, a nova versão do Plano Diretor, divulgada pela prefeitura em agosto, procura dificultar o surgimento de vagas extras para carros em endereços próximos aos corredores de ônibus e estações de metrô, o que amplia a possibilidade de mais espaços voltados às bicicletas.
As medidas tiveram reflexo direto na planta de imóveis. “Em dois anos o número de projetos que incluem áreas exclusivas para ciclistas dobrou e, para isso, tivemos de abrir mão de cerca de três vagas de automóveis nas garagens e transformar esse espaço em bicicletários e até pequenas oficinas”, explica a arquiteta Chris Silveira, do escritório Claudia Albertini & Chris Silveira Arquitetos, que atende construtoras como Gafisa, Cyrela e Odebrecht.
Outra tendência do mercado é o bikesharing. Ou seja, o próprio edifício emprestará os veículos aos moradores. “O custo será incluído no condomínio, e cada usuário terá uma senha para controle”, explica Tomás Martins, dono da Compartibike, empresa especializada na instalação do serviço. “Esse tipo de negócio era mais comum em casas de praia e de campo, e agora está migrando para a metrópole”, completa. A incorporadora Abyara Brasil Brokers lançou no último ano vinte imóveis com a novidade, entre eles o VN Casa Topázio, na Aclimação. “Essa iniciativa atrai uma clientela jovem e traz um aspecto simpático ao negócio”, entende Paola Alambert, diretora de marketing da empresa.
A medida, porém, não é unânime. “As bikes acabam ficando descuidadas e, com o tempo, esquecidas”, opina Rafael Rossi, da incorporadora Huma. Há três meses, ele inaugurou o Huma Klabin, projeto em que investiu 20 milhões de reais, e apostou em outro formato. “Como estamos bem perto de uma ciclofaixa e a 500 metros da Estação Vila Mariana do metrô, optamos por oferecer bicicletas dobráveis de graça aos moradores”, conta. Cada proprietário (os apartamentos têm entre 44 e 67 metros quadrados e custam a partir de 550 000 reais) ganha na compra do imóvel o direito a ficar com um modelo aro 26 dobrável da Tito Bikes, que custa cerca de 1 000 reais. Das cinquenta unidades do condomínio lançado em outubro, metade já foi vendida. A arquiteta Lucianna Gerghi levou uma bicicleta.“Como ela é prática e pequena, fica mais fácil integrar as pedaladas à viagem de metrô e assim percorrer distâncias mais longas”, diz. O edifício vai oferecer ainda um bicicletário com capacidade para setenta veículos.
Quem sai da garagem de sua casa com um veículo do tipo rumo a bares e restaurantes recebe hoje descontos especiais em endereços como o Paribar (veja no quadro ao lado), criados para incentivar o hábito. Nos prédios comerciais, a tendência é a instalação de vestiários, para que os funcionários possam ir ao trabalho em duas rodas e tomar banho antes do expediente. Um dos pioneirosna iniciativa é o Itaú. Há dois meses, o banco instalou chuveiros dentro de contêineres no térreo de sua sede na Avenida Brigadeiro Luís Antônio. “A ideia permite oferecer o serviço sem precisar de obras. E, o mais importante, sem estourar o limite de área construída permitida dos prédios”, explica Luciana Nicola, superintendente de relações governamentais e institucionais do Itaú.
O custo médio da instalação do equipamento gira em torno dos 250 000 reais. “Antes eu vinha trabalhar de trem e demorava uma hora. Agora, pedalando, chego em vinte minutos”, conta Adriano Santos, funcionário da empresa há dois anos. Com capacidade para atender setenta pessoas por dia, o vestiário tem fila de espera de outras setenta e chega a causar conflitos entre os interessados. “Alguns colegas que têm vagas não usam a estrutura com frequência e mesmo assim não liberam o espaço”, reclama Santos. A incorporadora Vitacon, que adquiriu um prédio na Avenida Brigadeiro Faria Lima, também se mostra interessada nessa proposta. “Estamos em reforma para entregar um vestiário aos funcionários”, diz Alexandre Frankel, dono da empresa.