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‘Caboclo foi o melhor presidente da CBF para o futebol feminino’, afirma Formiga

No entanto, jogadora da seleção e do São Paulo diz ser contra situações de assédio das quais dirigente afastado é acusado

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 jul 2021, 00h05 - Publicado em 2 jul 2021, 06h00

Prestes a disputar sua sétima Olimpíada, a volante Miraildes Maciel Mota, a Formiga, 43, retornou há duas semanas ao time feminino do São Paulo, seu segundo clube na carreira, depois de quatro anos no Paris Saint-Germain, da França. Diz que espera jogar no estádio do Morumbi, não em campos menores, como ocorre na maioria das disputas do futebol feminino no Brasil, e afirma que os antecessores de Rogério Caboclo na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não permitiam que as jogadoras utilizassem a academia e a sauna da concentração na Granja Comary, em Teresópolis. “Só podíamos usar os campos e os dormitórios. O melhor era sempre reservado para os homens.”

Qual a diferença entre o futebol feminino no Brasil e na França, sua última casa?

Na Europa, em geral, a estrutura é muito melhor que a daqui. Lá, tudo funciona, tem disciplina, horário. A federação francesa está ajudando muito nossa categoria, pois tem ex-jogadoras lá dentro. No Brasil, precisamos disso também, temos de ter ex- atletas qualificadas e experientes no comando das decisões. A ex-jogadora sabe por onde ir, mas nossos dirigentes preferem homens que não sabem o caminho.

Nos clubes do Brasil, mesmo entre os grandes, a estrutura do feminino é até hoje inferior na comparação com o masculino.

Estamos longe do masculino. As pessoas só enxergam o masculino, mas temos de virar o jogo. O futebol feminino poderia estar muito maior do que está hoje. Para recebermos mais visibilidade, temos de ganhar títulos com a seleção. Não é isso o que vocês queriam? Olha a medalha aqui.

Quando as mulheres vão jogar campeonatos em estádios grandes, de primeira linha, não em centros de treinamento?

Essa é mais uma barreira que temos de quebrar. Os presidentes dos clubes deveriam ser os primeiros a reforçar isso e dar a oportunidade de jogarmos nos principais palcos. Temos de quebrar esse preconceito também. Quando o clube aceita o futebol feminino, tem de falar que as meninas têm de jogar nos estádios, mas não é o que geralmente ocorre. Espero que no São Paulo seja realmente diferente.

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A diretoria do São Paulo prometeu que vocês jogarão no Morumbi?

Falou, sim. Quando a pandemia passar, os torcedores vão ao Morumbi e verão o futebol feminino. Em 1997 jogamos com a torcida nos vendo lá. Um dos objetivos do São Paulo é mudar a mentalidade atual.

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E quando as mulheres vão fazer os jogos principais e os homens, os de abertura?

Desejamos que isso aconteça um dia. Temos de continuar sonhando. Aos poucos vamos quebrando barreiras, buscando nosso espaço. Mas não temos de forçar nem dar murro em ponta de faca.

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Como estão os preparativos da seleção para a Olimpíada? A pandemia prejudicou de que forma o time?

Prejudicou porque não pudemos nos reunir nas datas (específicas estabelecidas pela Fifa). A Pia (Sundhage, treinadora sueca da seleção brasileira) pedia para que a gente se cuidasse, mas agora é aproveitar o tempo que falta. Trinta dias de treino serão muito pouco, mas é o que temos.

Na última Olimpíada da carreira, o seu papel mais importante será dentro ou fora de campo?

Dentro e fora, tanto eu quanto a Marta podemos ajudar o elenco. Pena que não teremos a Cris (Cristiane, que não foi convocada). A Olimpíada é algo fora da realidade das meninas, é importante que elas mantenham o foco, não saiam. Há muitas coisas tentadoras lá.

“O Caboclo foi o melhor presidente para o futebol feminino. Antes não tinha nem material. Mas infelizmente aconteceu isso (denúncias de assédio)”

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Como o quê?

A circulação na vila, por exemplo. Com a pandemia isso é mais complicado. Tem atleta que vê alguém famoso e fica admirada. Temos de tomar cuidado com a exposição, principalmente com as redes sociais.

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Elas não poderão tirar fotos na Vila Olímpica?

Podem, claro. Somos seres humanos. As meninas gostam de tênis, de basquete. Mas muita gente pode atacá-las pelas redes sociais e elas podem perder o foco.

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Por que a Cristiane (atacante de 36 anos) não foi convocada? Ela não está em condições de jogar em alto nível?

Com certeza está, pois se cuidou bastante. Tudo o que foi pedido ela fez. São coisas que não conseguimos entender. Não temos acesso aos critérios técnicos. Vamos buscar a medalha por ela também.

Como a senhora recebeu as denúncias de assédio contra o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo?

Sou totalmente contra assédio, seja de quem for. Poderia ser meu irmão. Jamais iria aceitar. Mas é justo falar que ele foi um presidente que entrou e ajudou o futebol feminino. Se as coisas agora estão acontecendo, foi com o aval dele, mas infelizmente aconteceu isso. Espero que o próximo presidente venha com o mesmo carinho que ele teve com o futebol feminino e não tire o que vem dando certo.

De que forma o Caboclo atuou em prol da seleção feminina?

Antes dele não tínhamos material, não tínhamos contato com o marketing da CBF. Se precisávamos falar sobre dinheiro ou direitos de imagem, não conseguíamos falar diretamente. Com ele tudo mudou. Os antecessores do Caboclo não cumprimentavam nem o técnico. No passado, na época do Ricardo Teixeira (até 2012), não podíamos nem usar a academia e a sauna da Granja Comary. Só podíamos usar o campo e os dormitórios. Com certeza o Caboclo foi o melhor presidente para o futebol feminino.

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O manifesto contra assédios sexual e moral que as jogadoras da seleção publicaram há algumas semanas foi visto por alguns como pouco contundente.

Para mim foi mais do que suficiente. Deixamos nosso recado e influenciamos outras mulheres a se pronunciar contra qualquer tipo de assédio. Não tínhamos de fazer declarações de três ou quatro páginas. Poucas palavras bastam.

*Colaborou César Costa

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Publicado em VEJA São Paulo de 07 de julho de 2021, edição nº 2745

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