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Após hiato de dez anos, Lenine lança álbum e filme que exaltam o Nordeste

“É um trabalho muito pessoal, tudo na primeira pessoa. O disco inteiro assim. Tem muito a ver com questões relevantes para mim”, diz

Por Alice Granato e Tomás Novaes
5 dez 2025, 08h00
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Lenine: novo projeto (Camilla Maia/Veja SP)
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Os olhos de Lenine são verdadeiros faróis. Ele se expressa no seu olhar, de um azul-esverdeado, feito o mar de Boa Viagem, no Recife, onde nasceu, há 66 anos. O cantor e compositor acaba de lançar em São Paulo seu mais novo trabalho, que chega em forma de filme, um média-metragem (cerca de 30 minutos) e álbum, batizado de Eita ainda antes mesmo de nascer. De seu estúdio, no charmoso bairro da Urca, no Rio, onde vive desde 1979, ele conta que sempre se imaginou fazendo cinema. “Para mim é tudo no olhar. Todas as músicas que faço, não me recordo de nenhuma que eu tenha feito a partir de um estímulo sonoro, tudo é através do que vejo, do que percebo com o olhar”, revela. “Isso tem a ver com o cinéfilo que eu sou; eu me criei, me formei e me eduquei no cinema.”

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Lenine em seu estúdio na Urca: desde 1979 o artista vive no Rio (Camilla Maia/Veja SP)

Depois de um hiato de dez anos sem lançar um álbum, Lenine quis ir além e mostrar um “disco para se ver, um filme para se ouvir”. Incomodado com a velocidade com que as pessoas olham as coisas, ele quis criar uma experiência completa, uma imersão íntima no universo do disco. Quem assistir ao filme, agora disponível no YouTube, poderá conhecer o processo do artista, suas referências literárias e inspirações. “Cinema, para mim, nunca teve a ver com videoclipe. Fiz poucos, sempre evitei fazer, pois você se vê envolvido num roteiro de que não participou, para representar algo que já fez. Você atua para aquilo, sempre me pareceu uma coisa estranha”, afirma. “Eu não fiz um videoclipe, mas um filme em que divido a minha intimidade. Símbolos e ícones que foram fundamentais na formatação do álbum. O cenário desse filme são meus objetos, as coisas lá de casa, os livros que eu leio, que meus filhos leram… O que fiz foi expor o meu íntimo, mais do que dirigir um filme.”

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Lenine e a artista Luiza Morgado, que assina a capa: linogravura exclusiva (Camilla Maia/Veja SP)

O grande tema do disco é o Nordeste. “É um trabalho muito pessoal, tudo na primeira pessoa. O disco inteiro assim. Tem muito a ver com questões relevantes para mim”, reafirma.

Para o compositor, fica um sentimento de anacronismo no fato de insistir num álbum. Segundo ele, quase ninguém faz mais isso. “As pessoas fazem um EP, uma canção, um feat. A maioria dos ouvintes te dá quinze, vinte segundos de música inédita. Se não os capturar, já correm para outra coisa. O processo de imersão sonora parece que deixou de existir.” Daí seu mergulho profundo, para tentar reafirmar o “romance sonoro”. “Estou impondo isso. Te dando ferramentas para você, como a uma cebola, descascar o álbum. Se dê ao luxo, me entregue trinta minutos de sua vida para conhecer um inédito.”

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Isso o libertou da ideia de ter de atuar. O compositor pensa num disco como um romance musical. Ele conta que nunca entendeu quando lhe perguntam, na divulgação dos discos, qual é a música de trabalho. “Como assim? Se for pensar num livro, eu teria que escolher um capítulo? Ouve o disco inteiro! Escolha a sua música preferida depois”, sugere.

A interjeição “eita” o vinha perseguindo. E ele diz ser um colecionador de palavras e títulos de disco. Caiu como uma luva. O filme, gravado em plano-sequência, é uma grande homenagem ao Nordeste. “O Brasil tem um débito gigante com o Nordeste. Estamos vivendo em um tempo não medieval graças ao Nordeste, que elegeu o Lula”, afirma. As músicas são sobre isso, e o álbum é dedicado a quatro criadores contemporâneos nascidos no Nordeste: aos pernambucanos Naná Vasconcelos (1944- 2016) e Dominguinhos (1941- 2013), ao baiano Letieres Leite (1959-2021) e ao alagoano Hermeto Pascoal (1936-2025). “Não se pode dizer que a música desses quatro é nordestina. Eles fazem uma música universal”, afirma.

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Lenine, seu neto Otto e o filho Bruno: produtor musical de Eita (Camilla Maia/Veja SP)

Para Lenine, até hoje os nordestinos sofrem com preconceito. “A xenofobia ainda existe. As pessoas associam o Nordeste à fome, à aridez, a um povo feio, uma raça menor”, diz. “Precisamos largar essa ideia preconcebida. Cada estado do Nordeste tem sua expressão, seu sotaque. Temos de rever o que o não nordestino imagina que seja o Nordeste.” Lenine fez esse álbum com a participação efetiva dos seus três filhos, João, Bruno e Bernardo. “O núcleo duro foi fundamental.” E também pertinho da companheira, a empresária Anna Barroso, e dos cinco netos (Tom, Martin, Rudá, Otto e Luna, única menina). “Um benefício unir trabalho com estar junto da família. Essa convicção me faz ter certeza do caminho que escolhi.”

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Seis discos para conhecer Lenine

Olho de Peixe (1993)
Influente, feito em parceria com Marcos Suzano, é o seu segundo álbum, após Baque Solto (1983).]

O Dia em que Faremos Contato (1997)
Seu primeiro disco solo tem hits pop como Hoje Eu Quero Sair Só.

Na Pressão (1999)
Com Jack Soul Brasileiro e Paciência, é síntese da sua assinatura musical, das baladas existenciais ao violão suingado.

Chão (2011)
Primeiro álbum com produção de Bruno Giorgi, seu filho.

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Carbono (2015)
Traz conexões com a música nordestina, movimento concretizado em Eita (2025).

Em Trânsito (Ao Vivo) (2018)
Seu penúltimo trabalho, disco ao vivo com músicas já conhecidas e outras inéditas, como Leve e Suave

Publicado em VEJA São Paulo de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973.

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