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Canal Trace Brazuca estreia na TV paga com muita música e cultura negra

De origem francesa, novidade tem o programa Trace Trends como carro-chefe, que traz matérias de entretenimento, empreendedorismo, arte e tendências

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h43 - Publicado em 7 ago 2020, 06h00
Trace Brazuca: novo canal da TV fechada foca na cultura negra  (Divulgação / Reprodução Youtube / Divulgação/Veja SP)
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Ao zapear canais da TV fechada, uma opção diferente de entretenimento surgiu no fim de julho. O Trace Brazuca começou suas transmissões fiel a seus princípios: com muita música negra, de diferentes locais e gêneros, personagens negros e apresentadores negros. Carro-chefe do canal nas posições 624, pela Claro, e 630, pela Vivo, o programa Trace Trends traz em cerca de uma hora matérias de entretenimento, empreendedorismo, arte e tendências. “Estamos acostumados a ver os jovens negros no jornal associados a violência, morte e racismo”, diz Ad Junior, head de marketing do projeto. “Abrimos um espaço para que eles se vejam de forma positiva, resgatem raízes e se inspirem.”

De origem francesa, o grupo de mídia surgiu em 2003 pelas mãos de Olivier Laouchez com o objetivo de reunir vozes e tendências afro-urbanas. Hoje está presente em cerca de 120 países, com 27 canais da TV paga. Desembarcou em terras brasileiras no ano passado na RedeTV!, onde passou a exibir justamente o Trace Trends. “A ideia sempre foi entrar antes na TV paga, mas o programa na rede aberta veio mais rápido”, diz José Papa, CEO da Trace Brasil. Papa, que passou pela WGSN Global e Cannes Lions, abraçou o projeto em 2018. “Eu me apaixonei por seu propósito e cheguei aqui perdido. Sabia que, como branco, não tenho legitimidade para fazer acontecer, por isso fui atrás de nomes importantes no debate por aqui, como o Ad”, explica. Na equipe de oito pessoas, apenas Papa e a diretora comercial são brancos. Com roteiro e direção do jornalista Alberto Pereira Jr., o Trace Trends entrou na produção da sua segunda temporada no início deste ano. “Ao longo desses meses, conseguimos mostrar que o negro na TV pode falar de outros assuntos além do racismo: somos médicos, advogados, empresários, artistas, atletas, com conhecimento e histórias para contar”, diz o diretor Pereira Jr.

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Quando estavam prontos para colocar o canal no ar, com novos episódios do programa, veio o anúncio da suspensão das atividades em razão do necessário isolamento social. A estreia atrasou dois meses e as produções precisaram ser finalizadas em casa. Pereira Jr. acabou assumindo também o papel de um dos apresentadores. “Em um primeiro momento, levamos muito das redes sociais para a transmissão”, diz. Um dos exemplos são as pílulas do Trace — Sua Voz, com representantes da sociedade civil e organizações sociais comentando um tema. Com a extensão da quarentena e a inviabilidade de voltar para a rua, o jeito foi se virar com conversas e reportagens feitas em casa mesmo. Da equipe de quarenta pessoas, ficaram apenas oito na ativa para finalizar e colocar o resultado no ar. “A parte técnica demandou mais. Como entender o melhor microfone e a luz do apartamento?”, diverte-se. Entre as vantagens do formato, viu aumentar o número de entrevistas, feitas on-line, e temas a serem explorados. “É um convite para que conheçamos as mais diversas narrativas”, afirma Pereira Jr.

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Há duas semanas no ar, a música domina a maior parte da programação, com atrações como o Djouba, faixa de horário com clipes de artistas de países africanos, e Gospel Vibes. “A origem da música negra americana vem desse gênero, e todo mundo da periferia em algum momento teve contato com esse som”, explica Ad. Há lugar para matérias que fazem o resgate de raízes e para documentários no Trace+. “Queremos também incentivar a produção nacional. Produzam, porque temos espaço”, encoraja Ad.

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“Há muito tempo o Brasil é um país de interesse da Trace Global”, diz Papa. Por isso, está prevista a implantação da Trace Academia, com o objetivo de disponibilizar cursos vocacionais focados em empreendedorismo para a população entre 18 e 30 anos que não conseguiu se profissionalizar. “O sonho é que a plataforma como um todo inspire pretinhos e pretinhas e brancos também a terem novas referências e uma relação positiva com a diversidade, para a construção de uma sociedade igualitária”, finaliza Ad.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 12 de agosto de 2020, edição nº 2699.  

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