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‘A Marca da Água’ revela domínio de encenação da Armazém Cia de Teatro

A trama bem contada é defendida por um elenco afinado e vem aliada a uma plasticidade impecável

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 16h16 - Publicado em 1 mar 2013, 17h38

Em 25 anos de estrada, os paranaenses radicados no Rio de Janeiro da Armazém Cia. de Teatro conseguem um feito incomum entre os coletivos brasileiros. Na maioria de seus espetáculos, o grupo estabelece uma unidade entre dramaturgia e encenação. A plasticidade impecável vem aliada de uma história que, mesmo recheada de semiologia, não soa hermética nem pedante. O drama A Marca da Água é mais um acerto. A parceria dos autores Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes, também diretor, prova que uma trama bem contada e defendida por um elenco afinado serve de moeda de troca para desafiar o público.

+ Leia mais sobre a trajetória da Armazém Cia. de Teatro

O ponto de partida veio de estudos do neurologista inglês Oliver Sacks sobre os distúrbios do cérebro. Se a ideia pode meter medo, a cena inicial então beira o surreal. Laura (a atriz Patrícia Selonk) vê sua rotina transformada com o aparecimento de um peixe em seu jardim. Enquanto o ser estranho fica instalado perto da piscina, a mulher inicia uma viagem ao inconsciente e vasculha pontos desconhecidos até para seu marido (o ator Marcos Martins) e seu irmão (Marcelo Guerra).

A esquisitice inicial se desfaz aos poucos, diante da reconstituição do histórico familiar da personagem e seus desdobramentos na vida dos outros, principalmente na da mãe (Lisa E. Fávero). Nessa trilha, desvendam-se as intenções da montagem. Como a Armazém facilita gradualmente a vida dos espectadores, prepara também o terreno para provocá-los. Na bela cena final, Laura encontra um escafandrista (Ricardo Martins) e ali termina seu acerto de contas. A plateia deve decifrar a mensagem — caso isso não aconteça, pelo menos não desistirá de encontrar explicações.

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