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A Invasão Americana

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 14h42 - Publicado em 17 abr 2014, 17h44

Imagine a minha surpresa ao descobrir que a segunda maior torcida durante a Copa do Mundo deverá ser a dos Estados Unidos. Só vai perder, em tamanho, para a brasileira.

É o que se conclui com base no número de ingressos vendidos. Foram pouco mais de 1 milhão no Brasil e 154 000 no território americano. Quem diria? O terceiro lugar, igualmente improvável, ficou para os australianos: 40 000. A partir daí, a ordem das torcidas, em número de bilhetes, faz mais sentido: Inglaterra, Colômbia, Argentina, Alemanha, Canadá, Chile e França completam os dez primeiros lugares. São países, em geral, com mais tradição no futebol, como se sabe.

Perguntado por gente daqui no Twitter sobre como explico tamanho interesse na Copa por parte dos meus conterrâneos, não vacilei. “É a confiança na taça!”, respondi, com gosto e um pouco de ironia. Desde a primeira vez que vim ao Brasil, no longínquo ano de 1976, como aluno de intercâmbio, sou obrigado a dizer por que os gringos não gostam de futebol. Nunca foi fácil. Ninguém aqui conseguia entender como um povo capaz de ir à Lua preferia o beisebol à beleza do chamado esporte bretão. Cheguei a estudar a questão, depois de voltar para os Estados Unidos no tempo da faculdade. Escrevi sobre a idiossincrática tradição esportiva americana, motivado pela minha primeira experiência no Brasil. Fiquei com uma pulga atrás da orelha, como se diz. 

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Hoje, mais de trinta anos depois, sou chamado para explicar exatamente o contrário. O mundo dá as suas voltas. Meus amigos brasileiros querem saber o que aconteceu nos Estados Unidos. Estão um pouco tensos com a chegada iminente de 30 ou 40 ou 50 000 torcedores americanos, desconfio. É um contingente maior do que o de corintianos que invadiram o Japão em 2012. “Quando é que os gringos passaram a gostar de futebol?”, questionam-me. “Como se explica essa transformação? Eles acreditam que podem ganhar a Copa? Onde vão ficar? Passarão por São Paulo?”

Não tenho dados concretos, mas a minha impressão é que a transformação do americano em torcedor de futebol se consolidou na primeira década deste século. A ESPN americana registrou um aumento sensível na audiência da Copa de 2010 em comparação com edições anteriores, por exemplo. Alguma coisa já havia mudado àquela altura. Se há uma explicação genérica é a tal da globalização, suponho. Com a TV a cabo e, sobretudo, a internet, o mundo está cada vez menor. Da mesma forma que os americanos passaram a apreciar o sushi dos japoneses e o vinho da Argentina, aprenderam a gostar de futebol mundial. Seguir o esporte mais cultivado em Londres, Paris, Roma e Madri passou a ser chique e gostoso.

Os americanos não acreditam que vão ganhar a Copa, mas esperam passar, sim, da fase dos grupos. Só jogarão no Arena Corinthians se chegarem por um caminho — tortuoso — à semifinal. Mas o time dos Estados Unidos vai se concentrar na capital. Não vai faltar gringo por estes lados.

A maior atração desta Copa é a chance de participar da grande festa da sua nova paixão na meca do futebol, o Brasil. O torcedor americano não pretende perdê-la. Prepare a caipirinha.

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