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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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“O relacionamento esfriou e não fazemos mais sexo”

Algumas situações comuns que contribuem para a diminuição da atividade sexual no relacionamento e como tentar resolver a questão

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 27 nov 2017, 21h24 - Publicado em 24 nov 2017, 16h19

A vida sexual de casais juntos há bastante tempo “esfriar” é um problema relativamente comum. Para se ter uma noção, perto de um quinto dos casais estadunidenses fazem sexo menos de uma vez por mês.

Embora os brasileiros em geral façam sexo mais frequentemente que o povo do norte do continente, aproximadamente um terço afirma que o casamento atrapalha a vida sexual.

Mesmo namorados podem testemunhar a diminuição do sexo no relacionamento com o passar do tempo. Por que isso acontece e o que fazer diante do problema?

Primeiramente, uma coisa que não deve ser esquecida jamais: dificuldades sexuais dentro do relacionamento são sempre uma questão do casal, mesmo naqueles casos nos quais um dos parceiros esteja enfrentando uma dificuldade pessoal (impotência devido a uma cirurgia, perda da libido como efeito colateral de algum medicamento etc). Encarar a questão como sendo um problema apenas do outro ou apenas de si é o primeiro passo para que dê tudo errado.

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Aqui estão algumas situações comuns que contribuem para a diminuição da atividade sexual no relacionamento:

  • Habituação do casal a uma rotina monótona e cheia de tarefas nada prazerosas (trabalhar sem sentimento de realização, pagar contas, cuidar da casa como se fosse um fardo, encarar os filhos como pessoas que sugam seu tempo…).
  • Desentendimentos e brigas muito frequentes. Isso é quase óbvio… você dificilmente se sentirá atraído por alguém com quem você tenha pendências emocionais. Aqui cabe um alerta para o efeito paradoxalmente oposto. Há casais que terminam as brigas com sexo. Quando este esquema se torna um hábito para o casal, a relação fica explosiva e o risco de violência e frustração aumentam.
  • Problemas de saúde que acarretam o rebaixamento da libido ou mesmo a interferência na fisiologia da resposta sexual (lubrificação, ereção…), sejam eles de natureza puramente fisiológica ou emocional. É muito comum, por exemplo, que stress, ansiedade e depressão interfiram na resposta sexual do indivíduo e, consequentemente, na relação.
  • Mudanças no corpo. Elas podem desencadear o desinteresse do parceiro habitual, que passa a evitar as relações sexuais.
  • Perda do condicionamento físico. A diminuição do ritmo e da duração do sexo por esgotamento aeróbico pode produzir frustrações em relação ao parceiro.
  • Aparência e higiene. Não cuidar desses aspectos também influencia negativamente no interesse.
  • Quem só pensa no próprio prazer durante o sexo verá um cônjuge cada vez menos satisfeito e frustrado com o sexo.
  • Perda da autoconfiança sexual. Quando isso ocorre, a tendência é passar a se esquivar do sexo sem expor para o outro as razões para tal.
  • Excesso de masturbação. Pode condicionar o indivíduo a alcançar apenas por este meio o clímax do prazer sexual. Buscar o orgasmo no sexo passa a parecer trabalhoso demais.
  • Sobrecarga de um dos membros por tarefas que deveriam ser divididas entre o casal. Não há nada mais broxante em um relacionamento do que isso. A cena típica para os padrões ocidentais é o homem tomando cerveja no sofá diante da TV enquanto a mulher está lavando a louça.
  • Mágoas latentes com o cônjuge.
  • Excesso de trabalho e/ou de atividades.

Todos esses fatores podem ocorrer na vida de qualquer casal mas a dificuldade em superá-los e em evitar que eles comprometam a vida sexual pode ser resumida na dificuldade de diálogo, que por sua vez pode ser composta tanto pela dificuldade de ouvir quanto pela dificuldade de falar.

Sem saber como o(a) parceiro(a) pensa e sem explicar a ele(a) como você pensa é impossível construir uma solução compartilhada, que se mostra absolutamente a única possível para superar o problema da ausência de sexo na relação. O diálogo é a chave para a superação das dificuldades porque, sem ele, as dicas e estratégias que até fazem sentido não terão efetividade alguma.

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Como facilitar a reaproximação

Satisfeito este contexto de diálogo permanente, também são importantes algumas condutas que podem facilitar a reaproximação sexual entre duas pessoas que se amam bem como evitar que o sexo esfrie e deixe de fazer parte do cotidiano do casal. Variar a forma como o sexo ocorre ajuda bastante. Tudo pode ser um elemento de variação… o lugar, a sequência, a duração, o momento, partes do corpo, posições. Também é importante buscar manter o clima de sedução e interesse mútuo – sem exageros e sem atropelar a própria identidade/personalidade. Ou seja, não precisa deixar de ser quem você é.

A única coisa que pode começar no plano individual é o autoerotismo. Se você não está à vontade com sua própria sexualidade, não tem como experimentar uma relação sexual plena. O sexo é um diálogo em si mesmo. Um diálogo de corpos que representa uma integração entre os eus em cada corpo.

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A falta de sexo potencializa o stress e a agressividade e também prejudica o funcionamento do sistema imunitário e retarda a formação de novas conexões no hipocampo, uma importante área do cérebro que é essencial para a consolidação da memória.

Em alguns casos a ausência de sexo na relação é simplesmente a constatação de que aquela relação já não se sustenta. Neste caso, é só uma manifestação do que já está posto. Duas pessoas que não se gostam mantendo um vínculo por conveniência ou por medo. Mas para a maioria dos casais que enfrentam o problema da diminuição do sexo, as causas estão na dificuldade em cuidar da relação. E neste caso é possível aprender a superar esta dificuldade. Se o diálogo parecer impossível, é a hora de buscar ajuda profissional.

Para terminar, coloco aqui a transcrição de um diálogo do filme The Misfits (Os Desajustados, 1961), selecionada por Rita Abundancia no El País, quando a personagem de Marilyn Monroe dança com um cowboy, com quem fala de sua ex-esposa:

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RoslynSua mulher não dançava?

GuidoNão como você, ela não tinha graça.

RoslynPor que não a ensinou a ter graça?

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GuidoIsso é algo que não se aprende.

RoslynComo sabe? Ela morreu sem nunca saber que poderia dançar. De certa maneira vocês eram dois estranhos.

GuidoNão quero falar de minha mulher.

RoslynNão se zangue. O que estou querendo dizer é que, se a amava, devia tê-la ensinado. Porque todos, maridos e esposas, estamos morrendo a cada minuto e não estamos ensinando uns aos outros o que sabemos.

Quem sabe o dia da mudança seja hoje! O mais importante para recuperar o diálogo e o sexo na relação é a generosidade. Ensine seu parceiro ou sua parceira a dançar. Ensine o que você sabe e aprenda também tudo o que puder!

Assista ao bate-papo ao vivo com Arnaldo Cheixas na fanpage de VEJA SÃO PAULO:

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