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Silvio de Abreu, “Crimes no Horário Nobre” e os tempos de ator de teatro nos anos 60

Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata, A Próxima Vítima, Belíssima, enfim… Só as novelas já rendem muito assunto para a gente falar sobre Silvio de Abreu. Paulistano de 70 anos e cheio de histórias para contar, o autor é tema do livro Crimes no Horário Nobre – Um Passeio Pela Obra de Silvio de Abreu, […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 01h03 - Publicado em 27 jun 2013, 18h52
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Silvio de Abreu é tema da biografia “Crimes no Horário Nobre” (Foto: Felipe Fittipaldi)

Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata, A Próxima Vítima, Belíssima, enfim… Só as novelas já rendem muito assunto para a gente falar sobre Silvio de Abreu. Paulistano de 70 anos e cheio de histórias para contar, o autor é tema do livro Crimes no Horário Nobre – Um Passeio Pela Obra de Silvio de Abreu, escrito pelo jornalista Raphael Scire. Em suas páginas, detalhes de uma fase da vida do novelista que é pouco lembrada: o início da carreira como ator de teatro em São Paulo.

Durante a década de 60, Silvio de Abreu passou pelas aulas da EAD (Escola de Arte Dramática) e integrou o elenco de mais de dez espetáculos. Foi dirigido por, entre outros, Antunes Filho, José Renato, Ademar Guerra e Antonio Abujamra. Ao seu lado no palco estavam Cleyde Yáconis, Maria Della Costa, Lélia Abramo, Raul Cortez, Aracy Balabanian e Rosamaria Murtinho. É sobre essa fase, fundamental para o futuro dramaturgo, que Silvio conversa com a gente. A biografia Crimes no Horário Nobre – Um Passeio Pela Obra de Silvio de Abreu tem lançamento neste sábado (29), às 16h, na Livraria da Vila, da Alameda Lorena, 1731, nas Jardins, como diria a Dona Armênia.

Qual foi a maior contribuição da experiência como ator de teatro para o futuro autor de novelas?

Novela não é para ser lida pelo público. É para ser interpretada por atores que vão levar o texto e as ideias a ele. Sem os atores escalados corretamente o produto fatalmente não terá um bom resultado. Como fui ator, eu sei o quanto de estímulo, carinho e atenção um ator necessita para imprimir o seu melhor na tela e também consigo entender o raciocínio de cada um e suas reivindicações.

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Você dividiu o palco com atores que mais tarde fariam suas novelas, como Aracy Balabanian e Cleyde Yáconis. O que essa convivência contou para você criar personagens marcantes para elas? 

Conhecendo profundamente essas grandes atrizes no seu cotidiano e privando da sua amizade, eu pude descobrir muito além da imagem pública de cada uma. Jantávamos depois do espetáculo nas mesas do Gigetto ou do Piolin, conversávamos sobre nossas vidas e os nossos sonhos. Ninguém desconfiava que Aracy Balabanian, uma atriz consagrada em tragédias, em textos de William Shakespeare e Arthur Miller e também em novelas dramáticas, tivesse uma magnífica veia cômica. A nossa convivência me possibilitou saber disso e a confiança que ela tinha em mim, como amigo e autor, fez com que encarasse o desafio de fazer Dona Armênia em Rainha da Sucata. Cleyde Yáconis tinha receio de ir para a Globo e aceitou o convite para fazer a Isabelle de Rainha da Sucata porque eu era o autor e ela sabia que seu nome e sua posição seriam respeitados. Criar personagens para atrizes que a gente conhece e admira é, além de um prazer, um enorme privilégio.

Cleyde Yáconis e Silvio de Abreu dividiram o palco na peça “Tchin-Tchin”, em 1965 (Foto: Divulgação)

A ditadura militar o levou a repensar os rumos profissionais?

Era realmente uma época muito difícil, mas a convivência com diretores como Antonio Abujamra, Ademar Guerra e Antunes Filho foi essencial para a minha formação. Adoro teatro e vou sempre que posso aqui no Brasil ou no exterior. Optei pela televisão porque escrever novela é um exercício fascinante de imaginação e de alguma maneira acabei me viciando nisso. Hoje, para mim, é difícil pensar em qualquer história que não se desenvolva em capítulos.

Ainda consegue se imaginar como um ator hoje? Que tipo de trabalho estaria fazendo?

Nunca me considerei um bom ator, apesar de ter feito estágio até no Actor’s Studio, com aulas do ator e professor de dramaturgia Lee Strasberg e do cineasta Elia Kazan. Nunca me senti à vontade no palco ou na frente das câmeras. Sabia como tudo devia ser feito, mas alguma coisa me impedia de realizar o que estava dentro da minha cabeça. Em outras palavras, a minha visão sempre foi de diretor e daí derivou para a de autor. Se eu tivesse insistido na carreira de ator, provavelmente hoje estaria desempregado, tentando ser atendido pelos produtores de elenco. Dou graças a Deus de ter enxergado este futuro muito antes que ele chegasse.

Cena da peça “Marat/Sade”, dirigida por Ademar Guerra em 1967 (Foto: Divulgação)

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