Luciana Paes e Thiago Amaral dividem, mais uma vez, a cena em “Ãrrã” e, aqui para nós, pagam o preço da intimidade
Eles já contracenaram em espetáculos que deram o que falar nos últimos anos. “Cachorro Morto”, “O Jardim” e “Ficção”, todos da Cia. Hiato, são alguns deles. Fora do palco, existe uma amizade que já atravessa quase uma década, cheia de toques não menos teatrais. Os atores Luciana Paes, de 34 anos, e Thiago Amaral, de 32, […]
Eles já contracenaram em espetáculos que deram o que falar nos últimos anos. “Cachorro Morto”, “O Jardim” e “Ficção”, todos da Cia. Hiato, são alguns deles. Fora do palco, existe uma amizade que já atravessa quase uma década, cheia de toques não menos teatrais. Os atores Luciana Paes, de 34 anos, e Thiago Amaral, de 32, agora, protagonizam a comédia “Ãrrã”, escrita e dirigida por Vinícius Calderoni, em cartaz no Sesc Belenzinho até 11 de outubro. Desafiada pelo blog, a dupla vasculhou a memória e fica a divertida conclusão: “a intimidade é linda, mas…”.
A chave do ex,
por Thiago
“Durante o espetáculo ‘O Jardim’, há um momento mais próximo do fim em que falamos como ‘nós mesmos’ com o público. Ali, mostramos objetos caros a nossa memória, como um ursinho de pelúcia, a primeira roupa ou o vestido que alguém usou na gravidez. A Luciana sempre mostra uma foto do ex-marido e a chave da casa que era deles. Um dia. o próprio foi nos assistir e, nesse momento, ela entregou a chave de volta para o ex. Ele ficou transtornado e “emburacou” naquele sentimento. Aquela imagem me desestabilizou muito até o fim da apresentação.”
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Brincadeira nos bastidores,
por Luciana
“O Thiago adora se enfiar no meio das minhas pernas. Sempre que começo a me aquecer para entrar em cena e estou em alguma posição esdrúxula – com a bunda para o ar, por exemplo –, o Thiago dá um jeito de enfiar a cara e perguntar do meu dia. Isso é algo que ele faz há anos. Em 2008, durante a temporada de ‘Cachorro Morto’, cinco minutos antes de abrir o Teatro Imprensa para o público entrar, lá estou eu… O Thiago decide colocar a cabeça no meio das minhas pernas e levantar. Detalhe: não me avisou que faria isso. Eu ralei a cara na parede, e o lado esquerdo do meu rosto não respondia. Começou a apresentação, e eu não sabia o que estava acontecendo. O Thiago carregou aquela culpa durante todo o espetáculo. Deste evento, surgiu a frase: “ai, Thiago, você tem merda na cabeça.”
Colo de mãe,
por Thiago
“Fazíamos um espetáculo no Centro Cultural São Paulo chamado ‘Caminhos’, com direção da Cristiane Paoli Quito. Era pura improvisação e havia espaço para interação com o público. Em certo dia, um espectador muito, mas muito participativo quase não nos deixou falar. Ele até chegou a pedir que o Fabrício Licursi e eu nos calássemos porque queria ouvir as meninas. Em uma cena, Lu cantava lindamente uma música do Chico Buarque, ‘Valsa Brasileira’. Ela foi até o cara e o abraçou, meio que o segurou no colo. Foi muito forte. Ele silenciou. Mais para o fim do espetáculo, o espectador voltou a falar e disse, emocionado, que, naquele momento, se lembrou de sua mãe.”
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A intervenção da Dona Baratinha,
por Thiago
“Também em ‘Caminhos’, desta vez em uma apresentação no Sesi, em 2007, nesse mesmo momento em que a Luciana cantava a música do Chico, apareceu uma barata que tirou o foco de atenção e toda a poesia que a cena alcançava. As pessoas ficaram incomodadas. Não havia como disfarçar. Público e atores ocupavam o mesmo espaço, sentados no mesmo tapete. Para tentar cooperar com a parceira de cena, eu peguei a barata pela antena e fiz um duo dançando com ela até retirá-la do espaço do mezanino, ao som de “Valsa Brasileira’, aquela música.”
Balada sobre o Nilo,
por Luciana
“Corta para 2012, estamos em um barco no Rio Nilo. Quando recebemos o primeiro convite para apresentar “O Jardim” em Berlim, não sabíamos que seria o primeiro de muitos e, como bons brasileiros, organizamos um tour no inverno pelo Leste Europeu e Egito. O Egito passava por revoluções políticas. Nós da Cia. Hiato e um grupo de australianos parecíamos os únicos turistas daquele dezembro. Uma festa não precisa ser boa se o Thiago vai. Ele já é a festa. Era seu aniversário e decidimos comemorar no barco. Tinha tudo para fracassar. Mas havia o Thiago. Em pouco tempo, todos – incluindo a família australiana – estávamos enlouquecidos dançando… O Thiago foi se empolgando, se empolgando e teve uma brilhante ideia: abrir o extintor de incêndio na pista de dança. Em menos de um minuto, todos cobertos daquele pó branco, a avó australiana tossindo e a música de Florence and the Machine desligada no rádio. As luzes brancas acesas, o alarme toca e uns sete homens vestidos de preto entram falando coisas em árabe num tom alarmante. Fim da festa. Eu olho pra ele rindo e digo: ‘Thiago, você tem merda na cabeça’.”
Suicídio de parar o trânsito,
por Thiago
“Estávamos em um laboratório de criação de cenas da Cia Hiato. A Luciana foi para a rua e colocou cinco pessoas em seu carro, saiu gritando inconformada com a vida e querendo explodir a ficção em que ela estava inserida. Num momento em que estávamos parados no semáforo, Lu desceu, foi pra frente do carro e ameaçou se suicidar com um revólver que era sua própria mão. Louca! Atirou e caiu. Aquilo era muito bizarro. Era muito engraçado ver até onde ela tinha chegado no quesito cara-de-pau e, ao mesmo tempo, muito constrangedor, pois éramos cúmplices amontoados naquele Fox.”
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Cai o pano,
por Luciana
“Fomos apresentar ‘Ficção’ no Sesc Osasco. Na parte final, momento ápice do solo, o cenário cai em cima do Thiago. Silêncio. Alguma brincadeira do Thiago provavelmente. Não, ele tinha desmaiado mesmo. Com ajuda do público, dos funcionários do Sesc e do seu pai, ele levanta. E continua a peça, como se nada tivesse acontecido. O Thiago não desiste nunca.”
Cuidado, menina,
por Thiago
“Bem, essa última lembrança eu relutei um pouco em citar aqui. A verdade é que se tornou habitual eu ter que avisar para a minha amiga Luciana quando ela menstrua na calça. Logo, suja a cadeira em que está sentada e não tem mais como disfarçar. Desculpa, Lu (risos)”
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