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Alessandra Maestrini: “A vida pode ser profundamente espirituosa”

A atriz reestreia "O Som e a Sílaba", de Miguel Falabella, no Teatro Opus, do Shopping Villa-Lobos, e fala da importância de abordar as diferenças

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 18 jan 2019, 18h51 - Publicado em 18 jan 2019, 18h49
Alessandra Maestrini: atriz e produtora de O Som e a Sílaba (Pedro Jardim de Mattos/Divulgação)
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Em O Som e a Sílaba, Sarah Leighton (representada por Alessandra Maestrini) é uma jovem portadora da síndrome de Asperger com talento apurado para dons específicos, no caso a música. Ao procurar uma professora de canto (papel de Mirna Rubim), ela sai do deslocamento social e encontra um sentido para a vida. A peça, escrita e dirigida por Miguel Falabella, vai além de apresentar uma personagem especial. Entre o drama, a comédia e o musical, o espetáculo, em cartaz desde 2017, trata de como o diferente pode ser visto na sociedade de forma surpreendente. Alessandra conversou comigo sobre o retorno do público e como a trama, aparentemente pesada, comove os espectadores. O Som e a Sílaba voltou ao cartaz, desta vez no Teatro Opus, no Shopping Villa-Lobos, nas sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h. Os ingressos custam entre R$ 50,00 e R$ 120,00.

Como você percebe a responsabilidade de fazer um espetáculo que apresenta uma jovem autista que luta para transformar a própria realidade?  

O Som e a Sílaba comove um público muito amplo. Ouço as pessoas falarem “essa peça sou eu, é sobre a minha vida”. Um senhor, um dia, me disse que o espetáculo veio para ajudá-lo a falar com o próprio filho. Um rapaz transgênero comentou o quanto era importante a gente tratar das diferenças, sejam elas quais forem. Uma mulher me revelou que sempre sonhou em cantar e, agora, estava decidida e estudar canto. Teve outra que foi mais longe. Ninguém a incentivava a trabalhar fora e, com o espetáculo, percebeu a importância de correr atrás do que se quer.

Você já percebeu relação semelhante da plateia em outro trabalho?

Com Yentl, tive retornos significativos e isso só vem consolidar uma ideia na minha cabeça. É esse tipo de espetáculo que eu gosto de trabalhar e quero sempre produzir. Tanto que banquei tudo do meu bolso. Depois que recebemos um patrocínio, faz pouco. O Miguel escreveu para mim e estava com essa ideia há uns 10 anos. Como ele me conhece bem, enxergava algumas afinidades minhas com a personagem.

Quais são essas afinidades?

Eu também tenho foco, a mesma determinação, a mesma obstinação dela.

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Você conheceu ou conviveu com portadores da síndrome de Asperger para criar a personagem?

A Júlia Balducci, uma jovem cineasta. É uma figura carismática, charmosa, senti a energia e o ritmo dela, algo que é muito importante para mim. Eu li o texto com ela e pedi para que ela o lesse para mim. E trabalho muito com o sentido, de onde vem cada emoção. Júlia me ajudou muito a construir o raciocínio da personagem. Foi um encontro transformador para mim e para o espetáculo. O resultado não teria sido o mesmo sem esse contato.

Mesmo embalado como uma comédia, o espetáculo trata de um tema delicado e ainda traz números operísticos. Comercialmente, era um risco e demorou um pouco para pegar. Vocês sentiram esse perigo?

Sim, sim, lá no início. Sacamos que as pessoas antes de ver a peça formavam uma imagem errada. Imaginavam uma coisa pesada, densa, triste. Só que o público que comparecia nos revelava essa surpresa, achava leve, divertido, transformador. Alguns não entendiam bem o título, achavam o cartaz misterioso. Opa, estamos vendendo a peça de maneira errada. Mudamos a programação visual e estabelecemos uma outra divulgação. Demos uma mexida em tudo e surtiu efeito. O profundo também pode ser leve. Eu sempre digo que a vida pode ser profundamente espirituosa.

O Falabella coloca essa questão do canto lírico na peça de um jeito muito perspicaz, capaz de despertar interesse em quem só quer ver a Bozena, do seriado Toma Lá, Dá Cá, e chega lá… Dá de cara com algo que não consumiria habitualmente.

Temos essa pegadinha, não é? Eu brinco que você vai ao teatro pensando no Toma Lá, Dá Cá e, de repente, percebe que está no The Voice (risos). O Miguel foi muito inteligente nessa intenção. Ele oferece o canto lírico a pessoas que não procurariam naturalmente um espetáculo de ópera. São coisas da capacidade dele de surpreender o público, de colocá-lo diante do inesperado e mostrar que todos podem gostar daquilo. E nisso também entra a proposta da história de O Som e a Sílaba. Devemos valorizar o diferente, de abraçar o diferente da gente e de valorizar o sonho dos outros. Se você ignora uma pessoa “diferente”, você pode abrir mão de uma joia para sua vida e talvez até para a humanidade. A Sarah, minha personagem, fez muito bem para ela mesma, fez bem para a professora e também tem feito bem para o público.

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