“Rock In Rio – O Musical” surpreende pela dramaturgia
Sobram motivos para o espectador mais atento desconfiar de Rock In Rio – O Musical, em cartaz no Teatro Alfa. Primeiro, a superprodução pode ser apenas mais uma na linha de montagem do mercado brasileiro. Depois, a criação de um espetáculo teatral em torno do megafestival, que já teve quatro edições nacionais e oito internacionais […]
Sobram motivos para o espectador mais atento desconfiar de Rock In Rio – O Musical, em cartaz no Teatro Alfa. Primeiro, a superprodução pode ser apenas mais uma na linha de montagem do mercado brasileiro. Depois, a criação de um espetáculo teatral em torno do megafestival, que já teve quatro edições nacionais e oito internacionais desde 1985, parece mero efeito publicitário para divulgar o próximo Rock In Rio, marcado para setembro na capital fluminense. E até é, mas…
Com direção cênica de João Fonseca e musical de Delia Fischer, o espetáculo, no entanto, apresenta-se como um saboroso programa, capaz de agradar as gerações saudosistas e também de dialogar com jovens pouco familiarizados com o teatro. O festival de rock é apenas o pano de fundo para contar a história de amor de Sofia e Alef (muito bem defendidos pela dupla Yasmin Gomlevsky e Hugo Bonemer), dois jovens isolados da sociedade por traumas de infância. A menina, filha do organizador do evento, não suporta ouvir música, e o rapaz mudo, por sua vez, se expressa justamente através das canções. Os dois encontram dificuldades para digerir o passado.
Construída por Rodrigo Nogueira, a dramaturgia revela-se a grande surpresa pela eficiência com que costura o grande leque de referências culturais, históricas e de comportamento. Ao abrir mão de uma cronologia precisa, o autor localizou a trama em um país em crise na iminência de uma crise política e usou músicas que embalaram o festival para teatralizar as situações. Pro Dia Nascer Feliz, Freedom, Pessoa Nefasta, Marvin e Fear of the Dark estão na trilha sonora. Como a mãe de Alef, Lucinha Lins destaca-se principalmente ao extrair dramaticidade de temas improváveis, como Sorte Grande, o sucesso de Ivete Sangalo, e Desesperar Jamais, de Ivan Lins e Vitor Martins.
Guilherme Leme (em revezamento com Cláudio Lins), Marcelo Várzea (hilário no número em que imita Shakira), Kacau Gomes, Caike Luna, Luiz Pacini e Ícaro Silva também figuram no elenco. Muitos deles cantam bem, a maioria com vontade de cantar e não apenas de mostrar virtuosismo. Vá, confirme e pense ao sair do teatro… Com uma história bem contada, tudo fica mais fácil. Foram mais de três horas, ok? Mas não bateu tédio.