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“Processo de Giordano Bruno”, a intolerância e mais algumas coisas

Depois da temporada no Sesc Vila Mariana, o drama “Processo de Giordano Bruno”, escrito por Mario Moretti, transferiu-se imediatamente para o Ágora Teatro, logo ali na Bela Vista. E merece a atenção do público por vários motivos. O principal deles é trazer à tona um tema que, mais de quatro séculos depois, ainda soa assombrosamente […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 12h23 - Publicado em 22 jun 2012, 23h15
Photo: Joao Caldas Fº/5D II (/)
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Celso Frateschi no drama “Processo de Giordano Bruno”, cartaz do Ágora Teatro (Foto: João Caldas)

Depois da temporada no Sesc Vila Mariana, o drama “Processo de Giordano Bruno”, escrito por Mario Moretti, transferiu-se imediatamente para o Ágora Teatro, logo ali na Bela Vista. E merece a atenção do público por vários motivos. O principal deles é trazer à tona um tema que, mais de quatro séculos depois, ainda soa assombrosamente atual. Os oito últimos anos do filósofo e escritor italiano ­(interpretado por Celso Frateschi) são retratados na montagem dirigida por Rubens Rusche. Giordano Bruno (1548-1600) foi perseguido pela Igreja Católica e morreu queimado na fogueira da Inquisição por suas ideias. Para eles, tratava-se de um herege. A encenação torna-se oportuna por mostrar a força da palavra religiosa e o quanto fica difícil questioná-la. Com sua forte presença habitual, Frateschi tem os afinados Angelo Brandini, Dagoberto Feliz, William Amaral, Hermes Baroli e André Corrêa como companheiros de palco.

Mas esse post, na verdade, tem outras duas razões de existir. A primeira é que o público paulistano parece de tempos em tempos eleger alguns teatros e esquecer de outros. Nesse segundo caso, vale a pena lembrar do Ágora, ali naquele ponto tranquilo da Rui Barbosa, quase no encontro com a Brigadeiro. Um espaço da melhor qualidade, confortável, bem projetado, com uma programação quase sempre interessante. E está quase sempre também vazio. Por que será? Afinal, é fácil de chegar lá. O saguão agradável tem ainda um ambiente externo. Ah.. Antes que eu esqueça, também costuma ser bem ok estacionar (inclusive na rua). Entendo quando alguns lugares, de agenda irregular e estrutura precária, penam para encontrar ou reencontrar seu público. O Ágora, sei lá por qual a razão, parece estar meio à margem. Um teatro “alternativo” de verdade entre tantos arremedos de teatro que vemos aí. Tomara que a estreia no Sesc Vila Mariana tenha ajudado a divulgar e despertar a curiosidade do público e que “Processo de Giordano Bruno” encontre sua plateia.

Outro ponto é perceber como alguns nomes ainda valorizam o poder da mensagem e isso está cada vez mais raro, como volta e meia faço questão de frisar. Celso Frateschi é um desses caras. Seus espetáculos  lançam questões latentes e quase sempre camufladas, aproveitando bem as entrelinhas. Algumas vezes, a gente pode nem gostar, pode achar enfadonho – desculpa a sinceridade -, mas Frateschi continua fiel a essa missão do teatro. Coisa da geração dele? Não sei. Mas é importante.  “Processo de Giordano Bruno” vem falar de religião e intolerância. Ali, a flecha dispara em cheio contra a Igreja Católica. Hoje várias outras potências da fé estão por aí e, muitas vezes, pregando ideias e ideais de vida em que o debate não parece muito aceito ou até permitido. Uma verdade se estabelece e todo o resto vai aos poucos se adequando a essa forma de pensar. E talvez por isso também o Ágora Teatro deixou de ser um lugar frequentado pelos paulistanos.

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