2026 não será sobre tendências. Será sobre convergências
Quando o impacto não está no avanço, mas na fusão dos avanços
Com 2026 chegando, começa aquela conhecida enxurrada de previsões: “as dez tendências do ano”, “o que vem por aí”, “as apostas que vão transformar o mundo”. É quase um ritual moderno, uma espécie de horóscopo que tentamos consultar para nos orientar no caos. Mas, segundo a futurista Amy Webb, em análise publicada na Fortune, talvez estejamos olhando para o lugar errado. O ano que vem não será sobre tendências isoladas, mas sobre convergências, e isso muda absolutamente tudo.
Tendências são movimentos. Elas funcionam como pequenas lanternas que iluminam movimentos emergentes, comportamentos nascendo e mudanças discretas, apontando direções, sugerindo possibilidades e revelando sinais fracos que podem, ou não, se tornar algo maior. Já as convergências são forças estruturais e criam novos territórios. A grande virada não está no que surge, mas em como as tecnologias passam a evoluir umas às outras, acelerando processos num ritmo que nenhum setor consegue acompanhar. É como se o tempo estivesse se dobrando. Em vez de ondas de inovação, vivemos uma compressão histórica: indústrias nascem e desaparecem em ritmo de start-up; modelos de negócios evaporam antes mesmo de serem compreendidos; carreiras se reinventam enquanto ainda estão sendo executadas. É vertiginoso!
Nesse cenário, a inteligência artificial deixa de ser um bloco isolado e passa a se entrelaçar com sensores avançados e biotecnologia, dando origem ao que Amy Webb chama de inteligência viva. Não são apenas máquinas que calculam, mas sistemas que observam humanos, aprendem com nuances e ajustam comportamentos em tempo real, quase como um organismo. Imagine um hospital em que paredes, camas e equipamentos conversam entre si: sensores detectam micro variações na respiração de um paciente, a IA antecipa um risco e aciona cuidados antes mesmo que a equipe perceba. A tecnologia ganha tato, timing e, sobretudo, presença.
Ao mesmo tempo, começamos a assistir à queda silenciosa do trono que o smartphone ocupou por quase duas décadas. Os primeiros protótipos, ainda tímidos e imperfeitos, apontam para um mundo pós-tela, em que hardware e IA deixam de ser objetos separados e passam a formar um único ecossistema. Em vez de esperarmos por comandos, a tecnologia passa a antecipar contextos, humores e necessidades. É o momento em que a tecnologia começa a parecer senciente, mesmo que ainda não seja.
E, na outra ponta, a força de trabalho se torna ilimitada. Robôs humanoides e muitos que não se parecem nem de longe com humanos, começam a ocupar funções na logística, na indústria, na saúde e, em breve, nas casas. Eles aprendem observando, memorizando e repetindo. A fronteira entre ferramenta e trabalhador começa a se desfazer. O debate sobre substituição de empregos perde seu centro. O verdadeiro dilema passa a ser: quem será dono da força de trabalho automatizada?
Enquanto isso, a própria internet muda de forma. A busca, que por décadas foi nossa porta de entrada para o conhecimento, dá lugar à conversa. Não digitamos mais, nós perguntamos. Você não vai mais pesquisar no Google qual liquidificador comprar. Você provavelmente perguntará a uma IA e ela vai te vender um. Sem anúncios. Sem cliques. Sem intermediação. Nesse cenário, a economia digital perde suas engrenagens mais conhecidas e ninguém está realmente preparado para o que vem depois.
E, como se a transformação cognitiva não bastasse, mexemos agora na matéria. Metamateriais se comportam de formas que a natureza nunca imaginou. Eles podem dobrar luz ou som ao contrário. Podem assumir formas impossíveis. Podem alterar suas propriedades em resposta a calor, pressão ou luz. Na Escócia e na Itália, por exemplo, engenheiros projetaram um metamaterial torcido impresso em 3D que se reconfigura no impacto, oferecendo proteção de última geração para veículos.
O que tudo isso significa não é apenas aceleração. É condensação. É a sensação de que o futuro não está só se aproximando, ele está colidindo com o presente. Para quem trabalha, como eu, com cenários futuros, este é ao mesmo tempo terreno fértil e assustador. Mas para quem insiste em olhar para o retrovisor, é um período de descontrole. No fundo, não se trata de entusiasmo ou medo, mas de perceber que as possibilidades antes inimagináveis agora são parte do cotidiano e que cada uma carrega riscos e oportunidades na mesma medida.
2026 não quer nossas listas de tendências. Quer nossa capacidade de interpretar essas inúmeras interseções para entender esse efeito dominó acelerado. E quem aprender a ver as convergências ganhará algo raro no mundo de hoje: a clareza em meio ao caos.
Francisco Bosco: “Há uma confusão entre a crítica ao machismo e a crítica aos homens”
Quem foi Ângela Diniz e por que sua história atrai tanta atenção?
Caso Ângela Diniz: o que aconteceu com Doca Street depois de matar namorada?
30 frases e mensagens natalinas para compartilhar com a família e os amigos
João Gomes é atração principal de festival de forró no Parque do Carmo, em SP





