Travessia: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
Irandhir Santos, o único ator de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, não aparece nenhuma vez no filme brasileiro de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. É sua voz que nos guia na viagem que José Renato, seu personagem, faz pelo sertão nordestino em uma pesquisa de campo para a construção de um canal. Mas […]
Irandhir Santos, o único ator de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, não aparece nenhuma vez no filme brasileiro de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. É sua voz que nos guia na viagem que José Renato, seu personagem, faz pelo sertão nordestino em uma pesquisa de campo para a construção de um canal.
Mas na primeira sessão do filme na Mostra, na sexta-feira à noite, no Unibanco Arteplex, o Irandhir apareceu. Marcelo Gomes apresentou o protagonista e ressaltou a paciência do ator, que passou 10 horas no estúdio gravando diversas vezes a narração, e seu talento, que permitiu que ele passasse toda a emoção de José Renato (recém-separado da mulher) sem auxílio de gestos e do olhar: só falando. Irandhir, com o microfone, disse que o convite foi um desafio apaixonante, “dar corpo à emoção sem o corpo”.
O colchão de palha com forro de chita secando ao sol depois de uma noite de amor. Cena de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
“A gente quer fazer as pessoas sentirem o mesmo que a gente sentiu, quer compartilhar essas imagens lindas que a gente conseguiu”, disse Marcelo Gomes em entrevista para Laila Abou Mahmoud, no site da revista Bravo!. Ele também conta sobre o processo de criação do longa, que levou dez anos para ficar pronto.
No Festival do Rio, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo levou dois prêmios: de melhor direção e de melhor fotografia – dividindo este último com O Amor Segundo B. Schainberg, também presente na Mostra deste ano. Já saíram algumas críticas na internet.
Casal que passou a noite namorando na bilheteria do circo. Cena de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
Na revista Cinequanon, Fernando Oriente destaca a relação entre as imagens e o fluxo digressivo do narrador: “Estradas, vilarejos, casas, ruas e pessoas passam pela tela com a aparência que o olhar singular do protagonista (o olhar da câmera, dos diretores) distorce de acordo com suas incertezas. A fragilidade e o desamparo do personagem dão o tom do registro visual do filme.”
Na Revista Moviola, Paulo Ricardo de Almeida chama atenção ao percurso de José Renato: “A jornada, no entanto, progride: da saudade e do apego originais à esposa, José Renato lentamente reestabelece o contato que perdera com o mundo: o caos da Feira de Caruaru, os romeiros de Juazeiro e do Padre Cícero, as prostitutas das pequenas cidades – encontros que permitem ao geólogo se libertar das memórias que o sufocam para respirar outra vez.”
Luiz Zanin, do Estado de S. Paulo, traça em seu blog um belo panorama das produções que colocam o nordeste brasileiro em cena e situa o filme de Aïnouz e Gomes: “Então, há a ‘paisagem’ interna do personagem, desolada pela separação, que se rebate na paisagem externa sertaneja, atravessada nesse road movie existencial. Mas o filme não se conforma a um personagem ensimesmado. Ao tentar o reencontro consigo, o geólogo Zé Renato não pode deixar de observar o que se passa em volta”.
O longa vai estrear no país em março de 2010. Começou a passar agora, às 14h, no Cinema da Vila, mas ainda passa em uma última sessão na Mostra: amanhã, segunda-feira, às 15h30, no Cine Bombril 1.