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Por Arnaldo Lorençato
O editor-sênior Arnaldo Lorençato é crítico de restaurantes há mais de 30 anos. De 1992 para cá, fez mais de 16 000 avaliações. Também é autor do Cozinha do Lorençato, um podcast de gastronomia, e do Lorençato em Casa, programa de receitas em vídeo. O jornalista é professor-doutor e leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Don Curro faz paella e outros pratos espanhóis há 55 anos

Com 55 anos comemorados neste mês, o Don Curro é o mais antigo restaurante espanhol da cidade. Vá lá. Um pouco mais velho, o Fuentes surgiu em 1954, mas em Bauru, no interior do estado e só se mudou para capital em 1960. Ou seja, o Don Curro reina como o veterano espanhol-paulistano, sim. Aliás, uma […]

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Atualizado em 27 fev 2017, 10h39 - Publicado em 25 Maio 2013, 02h47

Os irmãos Rafael (em pé) e José Maria: no comando da casa inaugurada pelos pais deles na Água Rasa e um sucesso há mais de cinco décadas (Foto: divulgação)

Com 55 anos comemorados neste mês, o Don Curro é o mais antigo restaurante espanhol da cidade. Vá lá. Um pouco mais velho, o Fuentes surgiu em 1954, mas em Bauru, no interior do estado e só se mudou para capital em 1960. Ou seja, o Don Curro reina como o veterano espanhol-paulistano, sim. Aliás, uma categoria de restaurantes quase sempre de vida breve em São Paulo. Tome-se como exemplo a recente baixa do Eñe.

O longevo Don Curro foi fundado por Francisco Ríos Dominguez e sua mulher Carmen Escalona  García. Ao chegar à cidade em 1957 vindo de uma Espanha ainda muito empobrecida pela Segunda Guerra Mundial, o casal trazia uma família grande. Além da pouca bagagem, havia quatro filhos: José Maria, Carmen, Isabel e Rafael. Fixaram-se primeiro na Água Rasa, um bairro da Zona Leste considerado bem distante do centro naquela época. “Era difícil chegar naquela parte da cidade. Não havia avenidas como a Radial Leste”, lembra-se Rafael, 58 anos, responsável com o irmão, José Maria, 65 anos, por administrar o restaurante herdado dos pais.

Para sustentar tantas bocas, a medida foi comprar um misto de boteco e restaurante. Enquanto com enorme simpatia o ex-toureiro don Curro recebia a clientela, dona Carmen encarava a cozinha. Ela era uma especialista em culinária espanhola clássica. “Minha mãe aprendeu tudo com uma tia dela, Rosário, que foi cozinheira do Palácio Real de Granada no início do século passado. Tudo era feito no fogão a lenha”, conta José Maria.

A primeira medida de Francisco no novo negócio foi banir a venda de cachaça. “Ele não queria pinguços no restaurante”, conta Rafael. Como conheceu e se encantou pelo litoral paulista, tratou de fazer uma homenagem no nome do restaurante, que se passou a chamar Marisqueria Playa Grande. Desde o início, o estabelecimento, embora muito simples, ganhou a atenção dos patrícios, que sem ser incomodar com a distância, cruzavam a cidade para provar as poucas receitas reunidas no cardápio.

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“Minha mãe fazia lula frita, sardinha escabeche e rãs empanadas. As rãs, antes de serem preparadas, ficavam penduradas em uma vitrine sobre camarões”, conta Rafael. “Se alguém quisesse paella, era preciso encomendar na véspera e só depois era comprada a matéria-prima fresca.” Como o restaurante não tinha telefone, os pedidos eram feitos em uma loja vizinha, que vendia material de construção. “Eram os donos e funcionários dessa firma que anotavam as encomendas para a gente.”

A sorte de Francisco e Carmen começou a mudar quando, em 1962, a colônia espanhola da cidade ganhou uma ambulância do governo federal. Para fazer a entrega, uma turma de políticos participou de um almoço comemorativo na Marisqueria Playa Grande. Durante a celebração, esses personagens souberam da história de Francisco nas praças de touros da Andaluzia e passaram a chamar o dono do restaurante de don Curro, nome adotado por ele quando estava na arena. “Depois disso, se espalhou pela cidade a fama do restaurante, que ficou conhecido como o restaurante do don Curro”, diz José Maria.

Paella: prato campeão de pedidos que fez a fama da casa (Foto: Mario Rodrigues)

Com o dinheiro que passou a ganhar, Curro Dominguez montou a casa de Pinheiros. “Viemos para cá por insistência dos clientes que moravam desse lado da cidade”, completa José Maria. A nova sede, onde permanece até hoje, foi inaugurada em 13 de maio de 1966, uma sexta-feira. O número, que para muitos pode ser falta de sorte, para o empresário era um signo de êxito. “Meu pai sempre gostou do 13”, garante Rafael. O nome do restaurante mudou para Don Curro a partir dessa data emblemática.

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No início, era apenas um sobradinho. A família morava no piso superior e o salão para refeições ocupava o térreo. Desde a inauguração, a cozinha era aberta e ficava entrada. Hoje no fundos, do salão, permanece envidraçada, o que permite a clientela acompanhar a preparação de seu pedido.

A paella, que consagrou a casa, era feita de maneira completamente diferente de hoje. “Levava mais arroz. Fazíamos com coelho, porco e vagem em pequena quantidade, porque o espanhol valoriza o arroz”, diz Rafael. Com o passar do tempo, foi adaptada para o paladar paulistano, com o acréscimo de uma quantidade exuberante de frutos do mar. Rafael conta que às vezes alguns espanhóis que visitam o restaurante reclamam: “Essa paella não é igual a da Espanha”. Ao que ele e o irmão respondem: “Aqui, fazemos paella para brasileiros.”

+ Aprenda a fazer a paella Don Curro

 Confira uma galeria de fotos que contam a história do restaurante:

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