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1. Saiba a importância de Nóbrega e Anchieta para São Paulo

Padres escreveram textos memoráveis sobre a fundação da cidade

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h31 - Publicado em 22 out 2010, 21h45

“Fermosa” e “feliz”. Dois textos de autores diferentes, datados de 1554, em que se encontram esses adjetivos, conferem um ar de graça ingênua ao ato que resultou na fundação de São Paulo. O primeiro texto, de autoria do padre Manuel da Nóbrega, é uma carta ao rei dom João III. Nela, o missivista informa que, no lugar “que se chama Piratinin”, ele e seus companheiros jesuítas ajuntaram um grupo de índios, para lhes ensinar o Evangelho, e assim “vai-se fazendo uma fermosa povoação”. O segundo, do padre José de Anchieta, é uma das cartas com as quais os jesuítas prestavam contas a seus superiores na Europa. Nela, ele descreve que vivem, ele e os demais religiosos, numa “pobre casinha feita de barro e paus, coberta de palhas, tendo apenas catorze passos de comprimento e dez de largura”, que serve ao mesmo tempo de escola, enfermaria, dormitório, refeitório, cozinha e despensa. É pobre, desconfortável, não protege contra o frio, mas, apesar de tudo isso, é uma “feliz cabanazinha”.

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Nóbrega e Anchieta são os mais notáveis entre os doze ou treze religiosos que participaram da missa que, no dia 25 de janeiro de 1554, deu por inaugurado o Colégio dos Jesuítas no Planalto de Piratininga. Não há certeza quanto ao número exato de padres, mas há certeza quanto ao local em que ficava a “feliz cabanazinha”, centro de uma “fermosa povoação”: o ponto do centro velho de São Paulo que ainda hoje, como lembrança daqueles tempos, é conhecido como Pátio do Colégio. São Paulo é uma das poucas cidades do mundo que sabem precisamente, e documentadamente, onde nasceram.

Nóbrega tinha então 36 anos, idade já de plena maturidade, na época. Anchieta só completaria 20 em março de 1554. Foi de Nóbrega a ideia de fundar um colégio naquelas lonjuras, obcecado que estava pela missão de arrebanhar para a cristandade os povos que viviam nus e soltos pelas terras recém-apropriadas pelos portugueses. Foi dele também a escolha do local, a colina existente na confluência do Rio Tamanduateí com o Riacho Anhangabaú. Era um bom local sob os pontos de vista de segurança e de abastecimento de água. Ao redor, espalhavam-se várzeas e vastas áreas descampadas.

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Anchieta só chegou ao planalto alguns dias antes da inauguração do colégio. Todo o trabalho de implantação coube a Nóbrega. Mas, entre os dois, quando se fala no fundador, ou fundadores, de São Paulo, o primeiro nome que vem à mente é o de Anchieta, repetindo uma tradição consagrada em obras literárias e livros escolares. Em parte, isso se deve à simpatia que inspira Anchieta, mais dócil e autor de textos mais vivos e interessantes. Em outra parte, pelo trabalho de mais paciência e maior empenho, como continuador da obra de Nóbrega.

O tom risonho e franco das primeiras cartas da dupla, embalado de entusiasmo pela “fermosa povoação” e pela “feliz cabanazinha”, não duraria muito. Os índios não assimilavam a doutrinação, abandonavam a aldeia fixada junto ao colégio e reincidiam nos antigos hábitos de poligamia e antropofagia, o que deixava os padres desalentados. O inquieto Nóbrega, que antes de Piratininga se entregara a missões similares na Bahia e em São Vicente, acabou, já em 1556, desistindo de São Paulo. Como das outras vezes, o entusiasmo inicial foi substituído pela exasperação. Anchieta escreverá regularmente “de Piratininga” ou “de São Paulo de Piratininga” até 1562. Depois disso assinará de São Vicente, da Bahia, do Rio de Janeiro ou do Espírito Santo, e raramente do planalto paulista. Nóbrega morreu em 1570, aos 53 anos, no Rio de Janeiro. Anchieta em 1597, aos 63 anos, em Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo.

 

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