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“Uber gata”

"Sempre vinha o Ariovaldo, o Claudio ou o Altamir. Até que veio a Nara. Abri a porta do carro, falei bom dia e dei de cara com a cara linda dela"

Por Francine Bittencourt
Atualizado em 27 dez 2016, 18h55 - Publicado em 5 abr 2016, 18h09

Como se não bastasse todas as maravilhas que já sabemos que o Uber possui, como:

Banco de couro.

Água geladinha.

Revista semanal.

Chocolate belga.

Preço incrível.

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Ainda temos mais uma novidade.

Mulheres deslumbrantes no volante.

Toma essa, diz a vida com ironia.

Não me faltava mais nada.

Sofro de ciúme corrosivo, e tenho um marido que só usa esse transporte.

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Como não tenho o aplicativo, toda manhã peço para ele:

– Amor, pede um Uber para mim?

Ele pede, eu entro e vou.

Sempre vinha o Ariovaldo, o Claudio ou o Altamir.

Até que veio a Nara.  

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Abri a porta do carro, falei bom dia e dei de cara com a cara linda dela.

Virou-se para mim com a beleza e a leveza que as beldades dos comerciais de shampoo se movimentam.

Com uma voz rouca e sexy, perguntou:

– Vamos para onde?

Tive vontade de responder:

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– Para o inferno, sua cretina maravilhosa.

Eu, você e sua boca volumosa.

Mas fingi calma e simpatia.

– Vamos para a Vila Olímpia, querida.

Pelo brilho do cabelo dela eu podia ver minha cara inchada, sem maquiagem e perplexa.

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Desde quando mulheres perfeitas dirigem Uber?

Não era possível.

Essas moças tinham que estar numa passarela, num comercial de perfume francês ou em Búzios, tomando sol. Não aqui, dirigindo exclusivamente para o meu marido.

Mentira.

Feministas: eu não penso assim de verdade.

Só estou em choque.

Mando minha paranóia se calar.

Mas ela insiste.

Em silêncio, rezo um pai nosso para agradecer por a Nara ter vindo me buscar.

“Que para ele chegue o Ariovaldo, gordinho fofo e suado.

Amém”.

Não é nada fácil ser desequilibrada.

Como o trânsito estava parado começamos a conversar.

Eu, com a maldade de quem quer conhecer os inimigos.

Ela, com a doçura de quem só quer bater um papo e ser gentil. 

Me contou a vida.

Me ofereceu chocolate.

Se perdeu várias vezes no caminho.

Me implorou desculpas.

Eu ajudei, e ainda disse:

– Acontece, fica calma que eu vou te ajudar.

Por dentro eu tava feliz.

Linda e péssima no volante.

Não vai longe, não.

Mas ela disse que estava indo muito bem.

Tinha perdido o emprego, e o Uber foi a maneira que conseguiu de ganhar um dinheirinho.

 – Agora tá dando para pagar as contas.

Falou com uma humildade esplêndida, que fez toda minha maldade e insegurança descerem do carro com vergonha de existir.

Linda, atenciosa e legal para cacete.

Só me faltava essa.

Quando vi, estávamos falando do trânsito, da economia, sapatos, homens, livros e amenidades em geral.

Aos poucos, fui perdoando toda sua beleza.   

Aposto que ela também teria perdoado minha inveja.

Ela não tinha culpa de ser linda.

Nem eu de ser louca.

Ficamos amigas. 

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