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Startups antenadas com o “novo normal” captam milhões em investimentos

A pandemia acelerou transformações de consumo e trabalho que beneficiam alguns negócios, como contratação online, delivery e telemedicina

Por Pedro Carvalho
17 jul 2020, 06h00

A baixo do radar do catastrófico noticiário econômico, um grupo de startups (empresas tecnológicas e novatas) de São Paulo recebeu investimentos milionários, feitos por fundos privados, durante a quarentena provocada pelo coronavírus. Elas estão ligadas às tendências do mundo pós-pandemia, como o trabalho remoto, a telemedicina e o delivery. “A única certeza que temos sobre essa crise é de que ela vai passar”, diz Marcos Toledo, sócio do fundo Canary, que participou de catorze investimentos desde março, dos quais dez na capital. “No geral, o período foi ruim para o mercado de startups, com investidores de ‘freio puxado’. Mas a pandemia acelerou transformações de consumo e trabalho que beneficiam alguns negócios”, ele explica. Para esses empreendedores, o clichê de que “toda crise é uma oportunidade” funcionou.

DIVÃ DA ERA DIGITAL

Rui (de preto) e o sócio José Simões: em alta na crise (Zenklub Diola/Divulgação)

O novo coronavírus tem levado as profissões que dependem de encontros presenciais a se reinventar. “Em março, da noite para o dia, o número de psicólogos e psiquiatras cadastrados na nossa plataforma se multiplicou por dez”, conta Rui Brandão, 30. O Zenklub, um serviço de saúde mental baseado em videochamadas, agora tem mais de 20 000 profissionais ativos. O número de consultas mensais saltou de 5 000 em janeiro para 30 000 em junho. As empresas também correram para contratar a startup e oferecê-la como um benefício aos funcionários. “Tínhamos dez clientes corporativos, agora são mais de 100. Antes, eram apenas negócios ‘moderninhos’, mas passamos a atender marcas como Votorantim, Tecnisa e Natura”, diz o empresário. Com o crescimento, a startup paulistana recebeu um investimento de 16,5 milhões de reais em maio. “Queremos criar a primeira marca de referência do mercado de psicologia”, ele aposta.

O NOVO DELIVERY

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Em um passado remoto, os restaurantes faziam o próprio delivery. Veio, então, a revolução dos aplicativos, como o Rappi e o iFood. Com eles, surgiram diversas dark kitchens pela cidade, cozinhas feitas para atender somente às entregas. Essa saga ganhou mais um capítulo. Em novembro, nasceu em São Paulo uma “startup de dark kitchens”. A Mimic é a terceirização total do delivery. O restaurante “aluga” sua marca para a empresa, que toca o dia a dia nas cozinhas fantasmas. Em maio, a Mimic recebeu um cheque de 13 milhões de reais de um grupo de fundos de investimento. A startup, que operava apenas uma cozinha (na Avenida Rebouças), abriu outras quatro na pandemia (Vila Mariana, Mooca, Barra Funda e Avenida Bandeirantes). “O delivery explodiu. Estamos levando 50 000 pedidos por mês”, diz o fundador, Andres Andrade, 34.

CONTRATAÇÕES (VIRTUAIS) EM ALTA

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(Guilherme Henrique/Divulgação)

O trabalho remoto, uma tendência do mundo pós-pandemia, incentiva as empresas a ter suas equipes espalhadas por diferentes cidades e países. O novo modelo promete dar embalo à Gupy, uma startup paulistana que permite recrutar pessoas de maneira totalmente digital. A tecnologia surgiu em 2015 e já ajudou a preencher mais de 200 000 vagas, mas decolou mesmo na quarentena — apesar do desemprego em alta. “Em junho, batemos nosso recorde de contratações. Foi o triplo do índice de março”, diz a cofundadora Mariana Dias, 33.

A Gupy levantou uma bolada expressiva em abril, no auge das preocupações com o vírus. Um grupo de investidores (como Oria, Valor e Maya Capital) aportou 40 milhões de reais no negócio para acelerar sua expansão. “Converso com muitas startups da cidade. Naquele momento, quase todos os investidores do mercado ‘deram para trás’ e cancelaram os desembolsos”, diz Mariana. “No nosso caso, precisamos até recusar o dinheiro de alguns fundos”, ela afirma.

A própria Gupy, com 170 funcionários (e quarenta vagas abertas), abraçou esse futuro pautado pelo home office e entregou o escritório que usava no Largo da Batata. “Enquanto não estivermos seguros, não vamos retomar o trabalho presencial”, diz a empresária.

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SAÚDE PARA O GRUPO DE RISCO

Victor, Isadora Kimura e Rodrigo Grossi, sócios da Nilo: inauguração na pandemia (Victor K Neves/Divulgação)

A Nilo Saúde, uma clínica virtual para pessoas com mais de 50 anos, não somente recebeu um investimento durante a crise: a startup começou a funcionar justamente na pandemia. Por atender o grupo de risco da Covid-19, o negócio (que, formalmente, tinha sido constituído em janeiro) passou a rodar, de fato, em maio. No mês seguinte, atendeu 200 pacientes, alguns deles contaminados pelo novo coronavírus — o número de usuários deve triplicar em julho, indicam os dados das primeiras semanas do mês. “Até por questões sociais, estamos fazendo a primeira consulta de forma gratuita por enquanto. No futuro, vamos cobrar dos planos de saúde, que vão oferecer a plataforma aos pacientes dessa faixa etária”, diz o cofundador Victor Oliveira, 31. O serviço tem uma equipe médica própria, com gerontólogo, geriatra, enfermeiro e psicólogo. “A maioria dos usuários se cadastrou para evitar ir a um hospital neste período, pelo risco de contaminação”, ele afirma.

Para entrar no ar, a startup recebeu um investimento de 8 milhões de reais de fundos como Canary e Maya Capital no fim de abril. “Temos conversado com muitos investidores e percebemos que a telemedicina 100% digital será uma tendência forte”, diz Oliveira. “Mas existiam poucas startups focadas em idosos”, explica.

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Entre os desafios de começar um negócio na pandemia, a Nilo precisou recrutar e treinar seus dez funcionários de maneira remota. “Montamos a empresa na base da videoconferência”, diz o empreendedor. A startup terá uma sede em Pinheiros.

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COMPREM DA CONCORRÊNCIA

Felipe (à esq.), com os sócios Rodrigo Monteiro e Thadeu, seu irmão gêmeo: loja nos Jardins (Divulgação/Divulgação)

Com os paulistanos trancados em casa, as vendas de ração e produtos para bichos feitas pelo aplicativo Zee.Now saltaram 80% em abril. “Eram tantas entregas que publicamos uma carta pedindo aos clientes que comprassem da concorrência”, diz o cofundador Thadeu Diz, 30. Em julho, a marca — cujo escritório principal fica em Pinheiros — recebeu um investimento de 100 milhões do fundo Tree Corp, que tem entre os maiores cotistas o empresário Roberto Justus. O dinheiro vai turbinar a expansão do app, mas parte dele será usada na loja de 600 metros quadrados que a Zee.Dog (a “marca mãe” da Zee.Now) começa a construir neste mês nos Jardins.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de julho de 2020, edição nº 2696. 

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