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Quem herda não rouba

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 12h16 - Publicado em 17 jul 2015, 18h04

Chego de carro ao pequeno conjunto comercial em Mira Mesa, nos arredores de San Diego, na Califórnia, onde fica a empresa da minha família. O automóvel é um híbrido, antigo já, da primeira leva, ou quase, movido a gasolina e a eletricidade. Estamos aqui eu e dois dos meus filhos para “visitar a vovó”. Faço essa mesma viagem, sempre no verão americano, desde que me mudei daqui para São Paulo, em meados dos anos 80.

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Minha mãe pedira que eu visse na empresa se não quero  levar alguns dos livros do meu pai de volta para minha casa, em Sampa. Duvido um pouco que haja qualquer título do meu interesse. Desconfio que já tenha visto isso em anos anteriores, aliás. E conheci, com o passar do tempo, as consequências potencialmente nefastas de fazer longas viagens internacionais com malas carregadas de livros. Mas mãe é mãe, sabe como é. Não há outra saída.   

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Samuel, meu caçula, de 12 anos, veio comigo no carro até a empresa. Ele se instala com o videogame na cadeira que foi do meu velho enquanto examino os livros na estante. A sala está do jeito que meu pai a deixou quando partiu desta para a melhor, há quatro anos. Não é utilizada mais. Ninguém teve coragem de mexer ali. Talvez esteja na hora, penso. Afinal, há apenas cinco salas na empresa toda, que funciona, ainda, normalmente.

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Sempre foi difícil explicar aos amigos o que meu pai fazia. Sua profissão estava longe de ser tradicional. Inventava jogos de treinamento para empresas é a resposta curta. Foi sempre muito interessado em diferenças culturais (tal como eu… quem herda não rouba) e tecnologia.  

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Não resisto a um livro chamado Games of the North American Indians (Jogos dos Índios Norte-Americanos). Separo-o para levá-lo de volta a São Paulo. Outro que me chama a atenção, baseado no jogo joquempô é Rock, Paper, Scissors: Game Theory in Everyday Life (Pedra, Papel, Tesoura: a Teoria dos Jogos na Vida Cotidiana). Começo a ler ali mesmo na sala. É  fascinante. Empolgo-me.

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A teoria dos jogos, ou game theory, em inglês, ficou conhecida por meio do filme Uma Mente Brilhante, no qual o ator Russell Crowe faz o papel do matemático John Nash, dos seus maiores expoentes, aprendo no livro. É relevante para alguns dos nossos principais desafios de hoje em dia, como corrupção e mudanças climáticas. Busca superar conflitos entre indivíduos e entre grupos com interesses distintos, promovendo de alguma forma a cooperação. Joquempô é um exemplo de jogo capaz de eleger um vencedor sem um árbitro ou alguma autoridade externa, explica o autor do livro, Len Fisher. Basta uma rodada. É praticado no mundo todo, com nomes distintos, há séculos. No Canadá é chamado de ur­­so-homem-espingarda. No Japão existe uma versão com o nome maravilhoso de “chefe da tribo-urso-mãe do chefe da tribo”. 

Depois de meia hora ali, Samuel me pergunta por que alguém escreveria um livro inteiro sobre joquempô. É uma pergunta razoável. Ensaio uma explicação. Não está claro se cola. Ele volta a atenção para o videogame. 

No carro, já no caminho de volta para a casa da minha  mãe, reflito que devemos dar mais atenção à teoria dos jogos no Brasil. O banco de trás está cheio de livros do meu pai. Vou ter de dar o braço a torcer.  

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