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Personal dancers cobram 50 reais por hora para rodopiar com mulheres nos salões

Só toma chá-de-cadeira quem quer, pois os dancarinos profissionais encaram qualquer ritmo

Por Fernando Cassaro
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

A preparação começa horas antes do baile, quando a dama vai ao cabeleireiro fazer as unhas e arrumar as madeixas. Seu vestido é escolhido com todo o cuidado. A festa começa, a primeira música toca e a espera por um cavalheiro que a tire para dançar provoca ansiedade. Três, quatro, cinco canções depois… ela continua sentada, com aquela cara de quem dançou sem sair do lugar. É para evitar micos assim que muitas habituées da noite recorrem aos personal dancers. Os pés-de-valsa de aluguel são, em geral, homens boa-pinta, bem-vestidos, cheirosos e, ainda por cima, bailam sem tropeço. Também podem buscar a senhora e levá-la para casa, com direito a abrir a porta do carro. “Saber dançar não é tudo. A gente precisa ser educado”, afirma o personal Vilson Malaquias, de 31 anos. Ele é um dos mais procurados do ramo e dificilmente tem brecha na agenda. “Faço um baile por dia”, gaba-se ele, que assim como a maioria de seus colegas cobra 50 reais por hora de serviço (o equivalente a dançar 22 vezes ininterruptamente o bolero Besame Mucho na gravação de Ray Conniff, que tem 2,39 minutos de duração). Como fica em média cinco horas rodopiando pra lá e pra cá, fatura 250 reais por noite.

O filme brasileiro Chega de Saudade, que estréia nesta sexta (21), retrata bem o mundo dos bailes para a terceira idade ao situá-lo como pano de fundo para a história. Ali estão presentes mulheres de todos os perfis: das tímidas às coroas mais saidinhas. Os personal dancers já eram figuras carimbadas em escolas de dança. A novidade é que agora estão cada vez mais presentes nos salões. Para aumentarem a carteira de clientes, eles costumam participar de um chá dançante organizado a cada quinze dias pelo professor Ricardo Liendo. Funciona como uma vitrine ao vivo. Participam do evento, realizado no Buffet Colonial, em Indianópolis, cerca de sessenta personals e 100 mulheres. A seleção inclui três músicas de cada ritmo, como tango, samba de gafieira, soltinho e valsa. As que pagam 150 reais têm direito de contar com os préstimos de um personal em uma canção de cada seleção. Quem desembolsa 200 reais dança umas oito músicas e aquelas que gastam 250 reais (e a sola de sapato) podem ficar na pista o tempo todo. É nesse contexto que as mulheres conhecem profissionais e viram suas clientes.

Como a dança é uma arte sensual, os profissionais sempre enfrentam alguma saia-justa, como um marido enciumado ou uma cliente mais fogosa que confunde as bolas. O rostinho colado e o corpo juntinho já causaram situações embaraçosas para Roberto Honório dos Santos, de 28 anos. Moreno de cabelos encaracolados, com pinta de galã latino, ele teve de literalmente rebolar para escapar da fúria do companheiro de uma cliente. “Ele achava que éramos amantes. Quase apanhei até convencê-lo”, lembra. O personal é procurado constantemente por viúvas, solteiras ou mulheres casadas cujo marido não gosta de baile.

A experiência faz com que esses profissionais saquem facilmente quando alguma mulher está misturando ritmos com romance. “Costumam elogiar e abraçar com um pouco mais de entusiasmo”, conta o comerciante Sergio Augusto de Oliveira, de 52 anos, personal nas horas vagas. “Mas já estou acostumado a sair da cantada sem ser indelicado”, diz ele, cabeleira branca, sorriso aberto e 1,72 metro de altura. Em um mundo de muitos saltos, os dançarinos baixinhos têm mais dificuldade para achar um par. André Cortopassi do Nascimento, de 20 anos, é exímio em bolero e samba de gafieira. Com 1,67 metro de altura, definiu seu público-alvo: “São mulheres baixinhas que não gostam de dançar com homens mais altos. Essas são as minhas clientes em potencial”.

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