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Pai volta a se acorrentar e diz ter sido agredido por PMs

O protesto do carpinteiro José Elezoardo Soares foi em Brasília. Ele luta para que o filho de 2 anos possa ser operado nos Estados Unidos

Por Sara Ferrari e Adriana Farias
Atualizado em 1 dez 2017, 10h34 - Publicado em 30 nov 2017, 18h20

Mais um capítulo na saga do carpinteiro José Elezoardo Gomes Soares, que tenta um tratamento urgente para o filho, Samuel, de 2 anos, nos Estados Unidos. No início da semana, ele voltou a se acorrentar para pedir ajuda; mas, agora, em vez da Avenida Paulista, o local do protesto foi Brasília, em frente ao Ministério da Saúde.

Ficou ali por quatro dias, segurando um cartaz com o apelo: “Ajude o guerreiro Samuel”. A ideia era permanecer no local até que uma nova decisão fosse determinada pela Justiça. No entanto, na manhã desta quinta (30), o carpinteiro contou ter sido abordado por policiais militares, pedindo que desmontasse sua barraca. A ação, segundo Soares, foi agressiva. “Um deles me xingou de toda forma, xingou o Samuel, falou palavrões. Disse ainda que, se eu não saísse, seria todo ‘rasgado’”, denunciou ele, que teve de deixar o espaço.

Em áudio compartilhado com a reportagem de VEJA SÃO PAULO, é possível ouvir o diálogo entre dois policiais e Soares. “Isso aqui é uma área de segurança nacional. Se todo mundo quiser montar uma barraca aqui, como é que fica? Você precisa desmontar suas coisas, senão, vai ser preso”, diz um deles, em tom de ameaça. Desesperado, o carpinteiro responde que “não está quebrando nada nem desacatando ninguém”. Outro policial tenta negociar e pede que “conversem na manha”, afirmando que estão “cumprindo ordens lá de cima”, justificando que o colega estava “estressado e teve um dia ruim”.

Assim que soube do ocorrido, a deputada federal Mara Gabrilli enviou seu assessor parlamentar, Lennon Custódio, até o local. “Ela acompanha o caso do Samuel desde o protesto na Avenida Paulista e se prontificou a comprar uma passagem do próprio bolso para que Soares retorne a Porto Alegre; hoje é aniversário de dois anos de Samuel”, comentou Custódio.

A família, paulistana, é do Jardim Ângela, na Zona Sul, mas há um ano e sete meses vive em Porto Alegre, em esquema home care: médicos e enfermeiras visitam o menino em casa para mantê-lo estável. Soares e a esposa abandonaram seus empregos para cuidar do bebê. Sobrevivem com a ajuda de familiares e amigos. Eles criaram no Facebook a página Ajude o Guerreiro Samuel, na qual pedem auxílio e relatam a luta diária pela sobrevivência do filho.

Entenda o caso

Samuel sofre da síndrome de borden, doença que provoca uma série de malformações no intestino, bexiga e estômago. Ele não come desde que nasceu; em vez disso, faz uso da alimentação parenteral, ou seja, recebe os nutrientes diretamente na circulação sistêmica por meio de um cateter instalado numa veia do coração, sem necessitar do intestino. Dessa forma, defeca e urina apenas por meio de duas conexões criadas cirurgicamente, uma delas entre a bexiga e a pele da barriga.

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Para ter chance de sobreviver, o garoto necessita de um transplante multivisceral e está inscrito na lista de espera desde março. Porém, esse tipo de cirurgia nunca foi realizada com sucesso em crianças no Brasil. Assim, sua única chance seria o tratamento no exterior. A União, entretanto, nega fazer o pagamento dos custos do tratamento. Segundo parecer do Ministério da Saúde, o investimento para levar Samuel a Miami seria de um milhão de dólares.

Em protesto contra a decisão do governo, Soares passou um mês acorrentado nas escadarias do prédio da Justiça Federal, na Avenida Paulista, entre abril e maio deste ano.

Carta escrita por Soares com apelo para o tratamento do filho no exterior (Acervo Pessoal/Divulgação)

Em julho, a Justiça finalmente determinou que o garoto realizasse o procedimento em Miami, com tudo pago pelo governo brasileiro. No entanto, a União não cumpriu a determinação no prazo estipulado de dez dias e revogou da decisão em setembro. Para protestar novamente contra a decisão, o carpinteiro organizou uma marcha partindo do Teatro Municipal, na região do Vale do Anhangabaú. Em resposta, o Ministério da Saúde teria informado à família da criança que somente a unidade em Brasília teria autonomia para enviar a criança ao exterior.

Assim, Soares decidiu embarcar para Brasília. Chegou na última sexta (24) e tentou protocolar uma carta escrita a punho, explicando a gravidade do caso, em vários órgãos públicos como o Ministério da Justiça, o Mistério da Defesa e na Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo ele, o único que se recusou a receber o documento foi o Ministério da Saúde. “Parece que eles estão esperando meu menino morrer para não ter mais o que fazer. Estamos correndo contra o tempo”, diz o carpinteiro.

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Em nota, o Ministério da Saúde alega que Samuel já está sendo atendido em sistema de home care com acompanhamento especializado, e que o tratamento está sendo custeado e acompanhado pela instituição, o que “permitiu a evolução do quadro do paciente, com ganho de peso e estabilização de suas condições clínicas”.

O órgão também esclarece que a criança está inscrita na lista de espera para realização do transplante no Brasil “em situação de prioridade nacional”, e que nesta segunda (27), o Tribunal Regional Federal de São Paulo “suspendeu a liminar que havia determinado o encaminhamento do paciente para realização do transplante nos Estados Unidos”.

“Vamos tentar um diálogo com as autoridades, mas agora o Samuel precisa do pai ao seu lado. A luta dessa família não acaba aqui”, concluiu Custódio, assessor parlamentar de Mara Gabrilli. A advogada voluntária da família, Paula Roberta de Morais Silva, aguarda decisão final do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a revogação da liminar para entrar com uma ação e recorrer da decisão.

Em Miami, o bebê seria encaminhado para o Jackson Memorial Hospital, onde atua o maior especialista em transplantes multiviscerais da atualidade, o cirurgião brasileiro Rodrigo Vianna. “Somos o maior centro do mundo em procedimentos do tipo, fazendo 25 casos dessa complexidade por ano, com taxa de sobrevida de 83%, e tempo de espera na fila de seis meses para se conseguir os órgãos”, explica ele, que é coordenador do centro.

 

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