‘Os Inquilinos’ de Sérgio Bianchi é drama autêntico e sutil
Diretor de 'Cronicamente Inviável' encontra seu melhor momento em seu sexto longa-metragem
Nascido no Paraná em 1945, o cineasta Sérgio Bianchi construiu uma consistente filmografia em São Paulo, onde mora há 42 anos. Autor de fitas polêmicas e inquietantes como ‘Cronicamente Inviável’ (2000), ele encontra seu melhor momento no cinema no drama ‘Os Inquilinos’, sexto longa-metragem de sua carreira. Desta vez, deixou de lado as falas pomposas e a verve ácida dos trabalhos anteriores para investir numa radiografia profunda da classe baixa paulistana.
Outros diretores tentaram retratar os menos favorecidos da capital paulista. Para não ir longe, Ricardo Elias focou a vida de um motoboy em ‘Os 12 Trabalhos’ e Walter Salles saiu do Rio de Janeiro para captar tristes instantâneos de uma doméstica em ‘Linha de Passe’. Ambos, contudo, são filmes artificiais. Sem maiores pretensões e muito mais autêntico e sutil, Bianchi se vale de uma história tensa e original. Apoiado por elenco afiado, abre um debate sobre como a violência se entranha na periferia, deixando seus moradores reféns do medo.
Na trama, o carregador de frutas Valter (o excelente ator de teatro Marat Descartes, em cartaz na peça ‘Toc Toc’) tem um cotidiano regrado. Sai de casa cedinho ao lado do melhor amigo (Ailton Graça), deixando os dois filhos aos cuidados da mulher (Ana Carbatti). O dia a dia da família passará por turbulências. Tudo por causa de três rapazes grosseiros que se mudaram para a casa do vizinho (Umberto Magnani). Eles não ameaçam diretamente, mas só a presença barulhenta dos “inquilinos” vira sinônimo de incômodo e perigo. Um dos melhores personagens da ficção nacional nos últimos anos, Valter traduz um sentimento que muitos brasileiros enfrentam — o de viver acuado dentro da própria casa. Dica esperta: na terça (2), às 19h20, haverá projeção no HSBC Belas Artes seguida de bate-papo com Sérgio Bianchi e Marat Descartes.