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O lado bom da nostalgia: paulistanos retomam atividades antigas em casa

Com o futuro ainda incerto, amigos e familiares recorrem a passatempos analógicos para se distrair no isolamento e se reconectar com boas lembranças

Por Humberto Abdo
28 ago 2020, 06h00

Um quebra-cabeça de 4 000 peças ocupou por várias semanas a rotina de Bettina Quinteiro e sua família. “Nosso ritmo sempre foi frenético, nunca convivemos tanto como agora”, conta Bettina. “No fim do dia, nos reuníamos para montar. Quando ficou pronto levou um tempo para desapegar.” Lazeres analógicos viraram opção de passatempo para muitos paulistanos que, confrontados pela pandemia, se voltaram para atividades com um clima nostálgico. “A nostalgia aumenta o sentimento de continuidade, aquela conexão entre passado e presente que, em momentos de stress, nos ajuda a lembrar que já sentimos prazer”, resume André Felipe Martins, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein. Para Wilson Gava, 52, essa conexão surgiu com o projeto Old Friends, produzido pelos membros de uma banda da qual fez parte na década de 80. “Após três anos de ensaios, acabamos não lançando trabalhos, mas conservei as amizades”, relembra o preparador vocal. Em isolamento, eles decidiram gravar uma canção a distância, lançada após mais de um mês de trabalho remoto. “Eu me peguei deixando de fazer algumas obrigações para cuidar das gravações, que me deram tanto prazer. É um sonho que tinha ficado para trás”, celebra. “Esse novo contato trouxe frescor e renovou as amizades, mesmo após trinta anos. Relembramos piadas e nos divertimos com nossas mazelas.”

O músico Wilson Gava: retomada das gravações com membros de banda dos anos 1980. (Rogério Pallatta/Veja SP)

Músicas antigas, filmes clássicos, jogos retrô e referências que remetam a boas memórias são, segundo especialistas, um mecanismo positivo para buscar conforto na crise. “Retomar momentos felizes traz de volta elementos que podem ter sumido com o isolamento”, observa Luciana Siqueira, psiquiatra do Ambulatório de Ansiedade. “Rever fotografias e diários ajuda a resgatar o espírito coletivo.”

Para a mentora de palestrantes Tathiane Deândhela, 35, o tabuleiro de War e as cartas de Uno trouxeram os amigos de volta à mesa de casa nos fins de semana. “Esses passatempos ajudam a tirar nosso foco das coisas negativas. Até de verdade ou consequência já brincamos!”, diverte-se. Os encontros costumam durar até de madrugada e já renderam ideias para o trabalho. “Por exercitar a parte estratégica, tive muitos insights para aplicar nos negócios.”

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Laura Lima, sócia de novo comércio em Pinheiros: objetos vintage são atração. (Manoela Lima/Divulgação)
Lata vintage de biscoito, do catálogo do Garimpo Bar. (Laura Lima/Divulgação)

O saudosismo revalorizado na quarentena rendeu lucro e inspirações a Laura Lima, 28, sócia do Garimpo Bar, previsto para ser inaugurado em setembro, em Pinheiros. Com decoração retrô, o local leva objetos antigos adquiridos em leilões e antiquários — e todos estão à venda. “Mal abrimos o espaço e já tivemos clientes interessados em comprar”, conta Laura. Entram na lista itens como latas vintage de biscoito, móveis antigos, chaveiros e carrinhos de coleção. “A intenção é que as pessoas tenham a nostalgia de um espaço aconchegante, como a casa da nossa avó, onde nos sentimos acolhidas e lembramos da infância. É isso que nos dá segurança.”

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702.

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