“O Bom Canário” faz refletir sobre o individualismo
Montagem provocante conta com boas atuações e faz o espectador saltar da poltrona
Espalhou-se uma máxima na cena paulistana de que o público só aceita comédias e musicais. Logo, os produtores já demonstram desânimo diante de textos mais densos, pois o retorno de bilheteria torna-se arriscado. No Rio de Janeiro, porém, a ideia não parece tão disseminada. Pelo menos em relação aos espetáculos de lá que chegam até nós. Barra-pesadíssima sob uma embalagem delicada, o drama “O Bom Canário”, adaptação de Mauro Lima para peça do americano Zacharias Helm, revela-se uma montagem capaz de perturbar o espectador e fazê-lo dar saltos na poltrona.
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Tendo como ponto de partida o conflito de um casal, a história volta-se para um intrincado jogo de submissão, fragilidade e individualismo. Romancista promissor, Jack (o ator Joelson Medeiros) tem um grande obstáculo à frente: livrar a mulher, Annie (papel de Flávia Zillo), do vício em anfetaminas. Ao mesmo tempo, questiona a superficialidade do mundo literário, transformado em um poderoso mercado, e a falta de ética de muitos ao abrirem mão dos princípios pelo sucesso.
Sob a direção limpa de Rafaela Amado e Leonardo Netto, a montagem aposta em elementos básicos. O texto, muito bem construído e surpreendente a cada cena, é valorizado pela dupla de protagonistas. Com entrega vigorosa, Flávia Zillo imprime os altos e baixos da personagem, indo da delicadeza à agressividade, sem tropeçar nos exageros da caracterização de uma drogada. Joelson Medeiros, por sua vez, mostra-se o contraponto entre a angústia e o remorso, atingindo o ápice no emocionante e esclarecedor monólogo final.
Érico Brás, Leandro Castilho, Marcos Ácher, Roberto Lobo e Sara Freitas completam o elenco uniforme e fundamental — mesmo em participações rápidas — para a perfeita execução da trama. O público não vai sair leve, mas sim alimentado de bom teatro.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪