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Liberou geral

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Se sorriso fosse mercadoria, o vendedor ficaria milionário durante o Carnaval. No Natal todo mundo se sente compelido a lembrar da família. Nos dias de folia, a regra é botar os demônios para fora. E haja demônios! Um dos rituais que eu sigo todos os anos é acompanhar a transmissão dos bailes. Sempre tão iguais quanto as músicas que a gente sabe de cor. O apresentador aproxima-se de uma bonitona vestida com um biquíni menor que um lenço – frente e verso.

– Você faz o quê?

– Sou modelo e atriz.

– Está se divertindo?

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– Muuuuuuuuuuito.

E já se afasta, sacudindo a celulite. Vai para outra e… surpresa! Modelo e atriz se divertindo muuuuito! Antes eu pensava: de onde surge tal profusão de modelos e atrizes? Certamente não é das passarelas da Fashion Week, muito menos das faculdades de teatro. Há quem diga que muitas têm profissões menos confessáveis, mas de onde sairiam tantas? Minha conclusão é que no dia-a-dia devem ser recepcionistas, operadoras de telemarketing… Gente comum, que se encontra nas ruas. Mas que no Carnaval manda ver! Nunca vou me esquecer de uma amiga que ligou horrorizada, querendo saber se eu conhecia alguém de determinada revista. Perguntei qual era o problema.

– Eu fui fotografada fazendo topless em cima do ombro de um rapaz. Meu marido pensava que tivesse ido para o interior ver minha mãe!

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– Você não sabia que esses bailes são fotografados e transmitidos pela televisão?

– Na hora me deu uma loucura, nem pensei.

Quando abri a revista, surpresa! Ela não só se deixara fotografar como posara com o sorriso de foliã atarraxado. A separação foi instantânea!

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Uma vez, vendo a transmissão de um baile gay com um pessoal, outra surpresa. Uma drag montadíssima, com peruca, cílios, maquiagem, declarava – é claro – estar se divertindo muuuuuuuito. Um amigo saltou da poltrona.

– Aquele não é o gerente do banco?

Era. Um senhor circunspecto, sempre de terno, voz pausada. No horário comercial!

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E o desfile de fantasias? Em que outra oportunidade aquelas pessoas vão ter a chance de usar um figurino repleto de plumas, bordados, brilhos de todos os tipos? Roupas dignas de um imperador? De uma rainha? Aliás, reis e rainhas costumam ser homenageados na categoria luxo. Só me atrapalho um pouco durante o de originalidade. Todos os trajes me parecem iguais, ano após ano, seja onde for o desfile.

Eu nunca desfilei em escola de samba. Tenho vontade. Mas o tempo foi passando e hoje nem sei se teria forças para atravessar a avenida. Só uma vez, assistindo aos desfiles, pulei atrás de uma escola e segui. Um amigo, que sai todos os anos e às vezes fica machucado com as fantasias, insiste:

– Se até gringo, mal desembarca, pega a fantasia e sai sambando que nem um cabo de vassoura, por que você não pode?

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Há outro que sempre hesitou, mas realizou o sonho. Escolheu uma fantasia simples, que deixava os movimentos livres, em uma ala onde todos queriam se divertir. Ao ouvir a bateria, começou a pular.

– O som entra dentro da gente. De repente, fiquei tomado!

Nem percebeu o tempo da passagem pela avenida.

– Pareceu um minuto!

O cansaço, o calor, nada disso contou.

– Eu me senti felicíssimo! E, quando terminou, tive aquela sensação de… já acabou? Olhei a avenida e pensei: “Agora, só no ano que vem”. Dá uma tremenda nostalgia. Mas, no próximo, estou no asfalto de novo!

É uma grande liberação. Todo mundo tem de se soltar um dia na vida, seja no consultório de um terapeuta, seja num baile de Carnaval. Viva Momo!

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