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Jovens de favelas são treinados para gravar vídeos de ações policiais

Objetivo é flagrar abusos, encontros com autoridades e reintegrações de posse

Por VEJA SÃO PAULO
Atualizado em 5 dez 2016, 13h42 - Publicado em 14 dez 2014, 17h08

Do encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) às batidas policiais quase diárias, nada deixa de ser gravado, editado e documentado por adolescentes e jovens da favela do Moinho, no centro de São Paulo. A iniciativa será disseminada por bairros da periferia, como Heliópolis, Paraisópolis, Brasilândia e Jardim Pantanal, com o objetivo de filmar com celular ou pequenas câmeras abusos policiais, encontros com autoridades e reintegrações de posse. Logo em seguida, tudo é compartilhado nas redes sociais.

Com 80 000 reais recebidos de um programa da Secretaria Municipal de Cultura, lideranças da favela do Moinho compraram três câmeras, tripé, projetor de luz e ilha de edição. Trinta jovens receberam neste ano treinamento para realizar filmagens semiprofissionais com a orientação de líderes comunitários, advogados de ONGs e defensores públicos.

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Quando um carro da Polícia Militar entra na ocupação localizada ao lado dos trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e embaixo do viaduto Rudge logo atrás aparecem jovens munidos de câmeras profissionais equipadas com microfones e projetores de luz. São adolescentes como Alessandra de Jesus, de 15 anos, Paulo Ivaldo, de 13, e André Ferreira, de 16, que fizeram parte do projeto de capacitação audiovisual “Moinhos de Imagem”.

“O problema é que a PM ainda não entende que filmar é um ato legal. O próprio André foi levado outro dia pelos policiais só porque estava filmando uma fiscalização da Subprefeitura da Sé nos bares daqui”, diz o ativista e fotógrafo Caio Castor, de 31 anos, um dos coordenadores da ONG Moinho Vive. “Depois que acabou a fiscalização pegaram o menino e queriam ver o que tinha na câmera dele”, conta Castor.

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“O vídeo serve, no Poder Judiciário, quase sempre como prova irrefutável de abusos que não deixam marcas, como um tapa na cara ou uma tortura verbal. E isso é corriqueiro nos bairros mais distantes da capital”, afirma o defensor público Raul de Carvalho Nin, de 32 anos, do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado.

Vice-presidente da União dos Moradores de Paraisópolis, na Zona Sul, Joildo dos Santos, de 29 anos, também incentiva os jovens a filmar as ações da PM. “Quando você compartilha um vídeo de violência policial na internet, a sociedade inteira passa a fazer a cobrança por uma postura melhor da polícia. Surte bem mais efeito do que antigamente, quando você tinha de ir reclamar para um político amigo ou para uma ONG”, afirma.

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Nesta terça (16), das 9h às 19h, a ONG americana Witness (Testemunha) promove, em parceria com a Artigo 19, seminário na Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo (Apesp). Fundada em 1992, a entidade incentiva o uso dos vídeos como prova contra abusos.

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Punição

Para o especialista em segurança pública Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), para se criar uma cultura de uso de vídeos entre os jovens é preciso haver, antes de tudo, punição para os culpados.

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“Não adianta incentivar o jovem a filmar a ação policial se nem ele vai ter segurança alguma depois, já que os acusados muitas vezes permanecem soltos”, diz o pesquisador. “É preciso haver a mesma punição que a Justiça americana criou como consenso nos casos de vídeos que mostram claramente a violência da polícia”, afirma Paes Manso. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo).

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