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Ioga faz parte da rotina de muitos paulistanos

Encontro pela paz e congresso de medicina indiana mobilizam uma multidão e confirmam o crescimento das práticas orientais como alívio para o caos urbano

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h29 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

Caso a atração fosse um show de rock ou uma partida de futebol, reunir tanta gente dificilmente não acabaria em confusão. Mas, se as 15 000 pessoas esperadas no terceiro encontro Yoga pela Paz, no próximo domingo (17), repetirem a calmaria do ano passado, o Parque do Ibirapuera verá o lado mais zen dos paulistanos. Além de entoar o indefectível “ommmmmm”, o grupo vai assistir ao show de mantras de Krishna Das (um popstar entre os iniciados) e reproduzir práticas básicas de ioga auxiliado por setenta professores voluntários. A festa encerra um programa de seis dias de divulgação da filosofia iogue, que inclui o primeiro congresso bianual de ioga e ayurveda, a tradicional medicina indiana, com palestras de 25 profissionais da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos, entre terça (12) e quinta (14), na Câmara Americana de Comércio (veja o quadro ).

A redescoberta da ioga ocorreu nos anos 90, no embalo dos contorcionismos de personalidades como a cantora Madonna em capas de revistas. Nos últimos anos, deixou de ser apenas uma modinha originada numa cultura indiana de 5 000 anos. “Hoje, ela está assimilada como um estilo de vida”, acredita a professora Márcia De Luca, uma das organizadoras do Yoga pela Paz. Márcia reuniu grandes patrocinadores para bancar os custos de 800 000 reais do evento e lança, no dia 12, uma linha de roupas na butique Daslu. “Só na cidade de São Paulo a ioga é praticada em mais de 800 escolas e academias”, afirma Anderson Allegro, fundador da Aliança do Yoga, que congrega 250 professores de trinta modalidades, metade deles em São Paulo. Allegro estima que a cidade tenha 1 milhão de praticantes da popular hatha ioga indiana e de variações como iyengar (que busca o alinhamento usando cordas e fitas) e ashtanga (mais vigorosa e dinâmica), além de técnicas batizadas por aqui como swásthya e vidya. Todas propõem bem-estar e saúde por meio de técnicas como posturas físicas de alongamento e equilíbrio, respiração consciente e meditação. São os benefícios dessa última que atraem o diretor de cinema David Lynch (Twin Peaks, Veludo Azul e Cidade dos Sonhos). Na última quinta ele tinha uma sessão de autógrafos do seu novo livro, Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Lynch aproveitaria também para divulgar sua ONG, que estimula a prática nas escolas.

Boa parte dos paulistanos faz ioga de olho nos benefícios físicos e deixa a parte filosófica em segundo plano. “Pratico há oito anos pelas vantagens que percebo no meu corpo e na minha mente”, conta a apresentadora Eliana, da Rede Record. “Não é por causa de nenhuma crença.” Para Shotaro Shimada, de 80 anos, precursor da ioga na cidade, isso é quase um sacrilégio. “A ioga verdadeira é a união de corpo, mente e espírito”, diz Shimada. “Não acredito que milhares de pessoas juntas, como no Ibi-rapuera, consigam se exercitar em paz.” Responsável pela abertura do primeiro curso no estado, em 1958, ele teme que os professores formados a cada ano – cerca de 200 em quinze escolas – não tenham responsabilidade para difundir a filosofia corretamente, correndo o risco de machucar os alunos. Só a Uni-Yôga – assim, com circunflexo no “o” –, centro de instrução criado em 1994 pelo Mestre DeRose, contabiliza mais de 5 000 professores formados. Autor de 25 livros, DeRose é outro que não vai militar pela paz no próximo domingo. Planejou para o mesmo dia um evento concorrente, o Fest-Yôga, para 350 alunos de vinte escolas paulistanas. Seu método, a swásthya yôga, já está em onze países.

Apesar da competição dos líderes, o sucesso da ioga em São Paulo é inegável. Em abril, o Play Yoga, organizado pela Adidas no Pavilhão da Bienal, reuniu 1 500 mulheres em aulas com o intuito de divulgar as cinqüenta peças da coleção mundial da grife. Na academia Companhia Athletica, houve um crescimento de 15% na procura por ioga nos últimos três anos. A agência de viagem Latitudes, especializada em rotas para a Índia, lota 75% de suas sete excursões anuais com alunos de quatro escolas da cidade. Nos pacotes mais requintados, aspirantes ao desapego material pagam 10 000 dólares por 23 dias de hospedagem em hotéis de marajás. O comércio promissor desse meio inclui desde incensos e batas indianas até tapetinhos, CDs, DVDs e livros. E movimenta a clientela dos mais de cinqüenta restaurantes vegetarianos da capital.

Até a conservadora comunidade científica se rendeu aos benefícios da ioga. Ao menos três trabalhos de mestrado foram publicados na Faculdade de Medicina da USP. “A prática regular de três técnicas de respiração provocou uma melhora de 10% na distrofia muscular de 39 pacientes acompanhados por dois anos”, afirma Marcos Rojo, professor de educação física do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) e coordenador do curso de pós-graduação em ioga das Faculdades Metro-politanas Unidas (FMU). Pioneiro na cidade, o curso está completando dez anos e tem 200 alunos atualmente. Entre as novidades nessa área está a iniciativa do Hospital Israelita Albert Einstein. Ali, a ioga tem sido usada como terapia de apoio a pacientes com câncer e distúrbios psicológicos e psiquiátricos.

Agenda zen

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1º Congresso de Ayurveda

Câmara Americana de Comércio (Rua da Paz, 1431, Chácara Santo Antônio). De terça (12) a quinta (14), das 8h30 às 20h30

Shows de Ratnabali e Krishna Das

Esporte Clube Pinheiros (Rua Tucumã, 36, Jardim Europa). Quinta (14), 21h

Ioga de diferentes modalidades

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Companhia Athletica (Rua Kansas, 1582, Brooklyn). Sexta (15), das 7h às 20h

Aulas de várias linhas e mantras

Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195, Pinheiros). Sábado (16), das 10h às 20h

Ioga, meditação e show de Krishna Das

Praça da Paz do Parque do Ibirapuera. Domingo (17), das 9h às 12h45

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Mais informações, https://www.yogapelapaz.org

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