USP quer que Instituto de Arte Contemporânea deixe prédio na Vila Buarque
Acordo entre a universidade e o espaço cultural está prestes a terminar e não será renovado
Após dez anos, o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), misto de museu e centro de documentação, terá de deixar o prédio Joaquim Nabuco, que pertence à USP. O acordo entre a universidade e o espaço cultural, localizado na Rua Maria Antônia, está prestes a terminar e não será renovado. No início do mês passado, o reitor João Grandino Rodas enviou uma carta ao IAC comunicando que quer o local vazio em 19 de janeiro de 2011, um dia após o fim do contrato. O presidente do instituto, o advogado Pedro Mastrobuono, recebeu a notícia com espanto. “Não passava pela nossa cabeça sair daqui”, afirma. “É um absurdo desalojar uma instituição cultural a toque de caixa.” Segundo ele, antes da fatídica carta os diretores não haviam recebido nenhuma sinalização da USP. “Neste ano, fizemos reuniões com a reitoria defendendo a renovação, mas não tivemos nenhuma resposta”, conta. A pró-reitora de Cultura e Extensão da universidade, a professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, afirma que no começo de 2010 a diretoria do IAC foi avisada de que o convênio chegaria ao fim. “Não entendo o motivo para tanta celeuma. Contratos são assim mesmo”, diz ela.
Com um orçamento anual de pouco mais de 2 milhões de reais, o IAC sustenta-se por meio de doações de patrocinadores e leis de incentivo. Entre seus diretores figuram o cineasta Hector Babenco e o editor Charles Cosac, dono da Cosac Naify. Realizou cinco exposições em 2010 — entre elas, uma de Hélio Oiticica —, que receberam juntas 11 000 visitantes. Seu centro de documentação e pesquisa, no subsolo do prédio, armazena quase 17 000 documentos (entre projetos, desenhos, fotos e correspondências pessoais) dos artistas Sergio Camargo e Willys de Castro. Fica em uma sala com portas computadorizadas e sistema antifogo que inclui gás importado dos Estados Unidos. “Transportar a administração e o acervo fixo para outro endereço não seria tão complicado, mas esses documentos são extremamente sensíveis”, diz Mastrobuono. “Teremos de adaptar um novo local, e para isso precisamos de tempo.”
Quando o convênio foi firmado, em 2001, a universidade pediu que, em contrapartida, fosse realizada uma reforma no edifício no valor de 1 milhão de reais. “Como imaginávamos uma parceria de longo prazo, fizemos uma obra que custou quase 5 milhões”, conta Mastrobuono. O primeiro contrato durou até 2006, quando foi renovado por mais cinco anos. Outra insatisfação do presidente é em relação às exposições programadas para 2011. “Não posso interromper projetos que já estão patrocinados.” Ele diz ainda que, após o comunicado, tentou diversas vezes entrar em contato com o reitor, mas não foi recebido. “Não pretendo reverter a decisão da universidade. Quero apenas um prazo maior para a desocupação.”
Em nota oficial publicada em seu site, a USP ressaltou que o comunicado foi feito no momento oportuno. “E, mesmo se tivéssemos avisado só com dois meses e meio de antecedência, qual seria o problema?”, questiona Maria Arminda. A universidade também informa que um dos motivos para requisitar o local de volta é a intenção de expor ali a coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, do falido Banco Santos, hoje espalhada por diversos locais. “Recebemos essas obras e, como somos uma entidade pública, queremos mostrá-las à sociedade”, afirma. Resta esperar que o IAC encontre outro lugar para guardar e expor seu importante acervo.