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Religião e cachaça: como começou a história da Freguesia do Ó

Bairro da Zona Norte, que completa 440 anos no sábado (29), foi fundado por um bandeirante e teve o primeiro pedágio da cidade

Por Guilherme Queiroz
28 ago 2020, 03h26

Quem vê de longe a igreja no alto da Freguesia do Ó não imagina que ela só está lá por um acidente. Foi construída no lugar da antiga, depois que, sem querer, um sacristão colocou fogo no imóvel quando tentava afastar um enxame de abelhas que estava na torre.

Um dos bairros mais antigos, a Freguesia guarda outras histórias peculiares. A data de fundação, 29 de agosto de 1580, é uma aproximação de quando o bandeirante Manuel Preto teria instalado a sede da sua fazenda na região. O auge do negócio se daria por volta de 1623, quando contava com 1 000 indígenas escravos que cultivavam cana-de-açúcar e criavam gado.

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A primeira capela do bairro foi erguida entre 1610 e 1615, quando Preto, católico fervoroso, não queria se deslocar até a Sé para fazer suas preces. Um povoado começava a se formar ao redor do templo. Da religiosidade vem o nome: Freguesia é o sinônimo antigo para “bairro”, e o “Ó” aparece na abertura dos versos das antífonas, versículos cantados para Nossa Senhora da Expectação (ou Nossa Senhora do Ó), da qual Preto era devoto. A travessia do Rio Tietê era penosa e levou à criação do primeiro pedágio da cidade, na precária ponte de madeira que ligava a Freguesia ao restante de São Paulo, em 1741. Uma igreja maior, substituindo a capelinha onde tudo começou, veio em 1794. Ela ficava bem próximo da atual Paróquia Nossa Senhora do Ó. Imagens da época mostram como era a construção, que sobreviveu por cerca de 100 anos, até o incêndio acidental. O bairro tinha em torno de 2 400 habitantes e sofria ainda mais com o isolamento. A estrada de Ferro Santos-Jundiaí, inaugurada em 1867, prejudicou o lugar, que deixou de ser um ponto de parada para as comitivas que vinham do interior, e o crescimento demográfico estagnou por algumas décadas. A igreja que até hoje está por lá só veio em 1901, época em que os moradores viviam da agricultura e ganharam destaque com a cachaça: a Caninha do Ó, de 1905, era famosa na cidade.

A inauguração da Ponte da Freguesia, que facilitou o acesso, ocorreu em 1960. A construção substituiu a antiga ponte de madeira e, no mesmo período, o distrito teve um boom demográfico. Em 1940 tinha 13 322 habitantes; em 1950, 51 012; e em 1960, 133 712 pessoas.

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O Largo da Matriz, onde fica a centenária paróquia, concentra até hoje importantes aspectos da vida cultural dos moradores. Estão ali a Pizzaria Bruno, uma das mais antigas da cidade, de 1939; a Casa de Cultura Salvador Ligabue, que leva o nome de um artista plástico que retratava a Freguesia em suas telas; e o Frangó, conhecido pela coxinha e pela carta de cervejas. O bairro coleciona apaixonados pelo clima interiorano, como o diácono Benedito Camargo e o jornalista Rodrigo Carvalho: eles cuidam do Portal do Ó, que conta com um acervo iconográfico da região, como as fotos ao lado.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702.

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