Guilherme Pereira de Oliveira: “O pessoal da escola fica curioso”
Aos 17 anos, o estudande luta contra um tumor malígno nos ossos
“Levei um tombo de bicicleta na rua, em Itaquera, bairro onde moro. Machuquei o pé e alguns dias depois meu joelho inchou. Por causa dessa coisa tão boba, descobri ter osteossarcoma, tumor maligno dos ossos que aparece durante a adolescência. Quando o ortopedista deu a notícia, comecei a chorar mesmo sem entender o significado cado daquilo. Sabia só que era uma coisa ruim. Havia o risco de a minha perna esquerda ser amputada. Passei por uma cirurgia de seis horas em que a parte necrosada do osso foi arrancada e substituída por uma prótese. Hoje, apesar da fisioterapia, não consigo dobrar a perna totalmente. Ainda assim, ando de bicicleta e jogo futebol — sou corintiano roxo. Fiz quimioterapia durante um ano e repeti a oitava série por causa do tratamento. Vomitava mais de dez vezes por dia. No ano passado, o osteossarcoma se espalhou para os meus pulmões. Em outubro, fiz duas novas cirurgias de quatro horas cada uma para retirar os nódulos. Ainda passei por outros três ciclos de quimioterapia. O pessoal da escola fica curioso, mas para mim é normal. Já fui internado oito vezes. Às vezes tenho vontade de
desistir. Agora estou melhor, mas a doença pode voltar a qualquer hora. Ainda bem que minha mãe me dá força e não me deixa cair.”
+ A vida depois do diagnóstico de câncer
Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca)
Surgiu em 1998 para auxiliar no tratamento de tumor cerebral em crianças e adolescentes, por isso a sigla Tucca. Ampliou sua atuação para outros tipos de câncer e funciona em parceria com o setor de oncologia pediátrica do Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, na Zona Leste.
Pacientes atendidos por ano: 600
Novos casos por ano: 200
Sessões de quimioterapia por ano: 6.000
Número de cirurgias oncológicas por ano: 200
Porcentual de atendimentos pelo SUS: 97%
Há espera para consulta? Não (tel.: 2524-4945)
Avanços e novidades: a entidade vem angariando fundos para construir uma casa de apoio até o fim do ano. Com quinze quartos, o lugar abrigará pacientes e seus acompanhantes de fora da cidade durante o tratamento. Outro projeto é a criação de um hospice, unidade de cuidados paliativos para crianças em estado terminal. “Queremos atenuar os sintomas e proporcionar dignidade nos momentos finais”, afirma a psicóloga Claudia Epelman, vice-presidente da Tucca.
A recém-reformada enfermaria, localizada no Hospital Santa Marcelina, conta com quinze leitos. Entre os avanços na área clínica, está a quimioterapia intraarterial para o tratamento de retinoblastoma (câncer da retina). “Com uma dose menor de medicamento, chega-se mais perto do tumor e há menos risco de danos ao olho”, explica o oncologista pediátrico Sidnei Epelman, presidente da associação.