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Grupos secretos sobre sexo promovem eventos na cidade

Membros das páginas Espartilho e Afrodites, que discutem questões sobre relacionamentos, fazem festas neste domingo (27)

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 24 ago 2017, 19h13 - Publicado em 24 ago 2017, 18h25

A psicóloga Jordana Freitas, de 37 anos, aguarda ansiosa pelo domingo (27). Às 16 horas, ela e as amigas vão se ver no The Blue Pub, na Bela Vista, na sétima edição do encontro do Afrodites, grupo feminino no Facebook que debate sexo e relacionamentos. Exclusiva para membros, a festa terá ingressos a 68 reais e palestras a respeito de temas como orgasmo e sexo anal. Entre as apresentações, oito go-go boys animarão a turma.

“A comunidade foi fundamental para superar o fim do meu casamento de dez anos”, diz Jordana. Criado em fevereiro de 2016 pela empresária Luciana Vilela, 44, o negócio mistura terapia, workshop e balada. Atualmente, conta com mais de 21 000 seguidoras.

Meninas animadas do Afrodites: Claudia Cruz,
Jordana Freitas, Caroline Naline e Luciana Vilela com o gogo boy Adrianinho (Alexandre Battibugli/Veja SP)

No outro lado da cidade, no Espaço Kaeru, em Alto de Pinheiros, rola no mesmo domingo a reunião do coletivo Espartilho. Começa às 14 horas e o ingresso sai por 50 reais. Ali, também podem entrar mulheres que não seguem a página. Em um clima low-profile (nada de dançarinos), haverá três palestras para 200 mulheres: “Segredos da Sexualidade”, pelo terapeuta tântrico Jivan Pramod; pensão alimentícia, comandada pelo advogado Rafael Gonçalves, líder do grupo Convento das Poderosas; e outra sobre prazer na cama, pela coach Camila Fernandes. Ela criou o endereço há cinco anos e hoje junta 51 000 membros.

Casada desde 2005 e mãe de quatro filhos, a instrutora de 35 anos fatura 15 000 reais por mês com os eventos mensais, além de ensaios sensuais e produtos licenciados, como chaveiros, canecas e, óbvio, espartilhos. “Trocamos experiências de vida, conselhos e dicas apimentadas, mas sem baixaria”, explica Adriana Rutter, empresária de 41 anos, uma fiel “espartilhete”.

Há dezenas de outras iniciativas do tipo para diversos públicos: mulheres, homens, gays. Essas páginas funcionam como um “consultório sentimental”. Lá, as pessoas pedem opiniões para lidar com questões como traições, uma nova paixão, uma enrascada amorosa ou compartilhar as novidades do mercado erótico. Para entrar nessas panelinhas, é preciso procurar as lideranças do grupo na internet, mandar um convite de amizade e enviar uma mensagem. Como estão na categoria “secreto” do Facebook, nem adianta procurar o nome da comunidade.

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Henrique Lopes, entre suas “palitas” Mayara Seguro e Caroline Vizaco (Leo Martins/Veja SP)

Uma das exceções é o Grupo da Gina Indelicada 2, classificado como “fechado”, ou seja, é possível achá-lo na busca e mandar uma solicitação diretamente aos administradores. Um dos maiores, com mais de 610 000 moças (a maioria na faixa dos 20 anos), também promove reuniões na cidade. Elas se chamam de “palitas” e devem se reunir em setembro em um lugar público, como o Parque do Ibirapuera. “É bom a gente sair do ambiente virtual para o real, criar novas amizades”, diz o publicitário Henrique Lopes, de 24 anos, o “palitão” criador do espaço. “Experimento todas as dicas com meu namorado e ele adora”, diz Mayana Seguro, estudante de direito de 22 anos.

Volta e meia há uma “coincidência” entre as datas dos encontros dos grupos, como no caso do Espartilho e do Afrodites na tarde deste domingo (27). Na caça a patrocinadores e novos membros, há muita rivalidade entre líderes. Como é possível participar de várias comunidades ao mesmo tempo, uns acusam os outros de “infiltrar espiãs” e até de sabotagem. A mais comum: alguém solta uma imagem pornográfica e a denuncia no Facebook até derrubar a página.

O advogado Rafael Gonçalves, do grupo Convento das Poderosas: além de sexo e relacionamento, dicas jurídicas sobre pensão alimentícia (Leo Martins/Veja SP)

Às vezes, o mal-estar vira bate-boca público. Em abril, trocaram ofensas na internet o publicitário Henrique Lopes, do Gina Indelicada, e o advogado Rafael Gonçalves, 27, o todo-poderoso do Convento das Poderosas (com quase 400 000 integrantes e debate também de questões jurídicas, como pensão alimentícia).

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Homossexual assumido, Lopes postou que um heterossexual jamais poderia se colocar no lugar de uma mulher ou de um gay. Gonçalves retrucou, chamando o publicitário de “heterofóbico”. E Lopes rebateu: disse que o advogado de certa forma o copiava e não poderia usar o nome “palitas”. Semanas depois, fizeram as pazes, também em post, mas ainda se evitam em eventos.

Apesar do posto de “best-seller do Facebook”, com suas milhares de seguidoras, Lopes e Gonçalves ainda não capitalizam diretamente com suas turmas. Normalmente, os eventos da Gina são gratuitos ou beneficentes. Já o advogado faz participações em encontros de parceiros (como o Espartilho, neste domingo) e também promove ações solidárias. Para os dois, a principal moeda de troca é a popularidade.

Lopes se tornou DJ e tem convites para tocar até o fim do ano, com um cachê entre 4 000 e 7 000 reais. Gonçalves virou o porta-voz das mulheres que travam batalhas jurídicas contra os chamados “pais de Facebook”. “São aqueles que exibem fotos dos filhos nas redes sociais, mas, na vida real, mantêm-se ausentes ou ‘fazem mimimi’ ao pagar pensão”, define o profissional, que viu sua clientela triplicar no último ano. Hoje, cobra 4 000 reais pela ação mais simples.

O jornalista Geraldo Müller, o administrador Weverton Pedro e integrantes do Ponto Gê, na última festa do grupo há dois meses, no Alto de Pinheiros: turma mista, boa para paquera (Divulgação/Veja SP)

Na linha “paz, amor e amigo de todos”, o jornalista Geraldo Müller comanda o Ponto Gê, criado em janeiro. Já possui quase 25 000 membros, conquistados graças a uma parceria com o Espartilho e o Convento das Poderosas. “Somos um dos raros que aceita todos os gêneros e aborda o tema sem baixaria nem palavrão. Quem posta besteira é excluído”, define.

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Em setembro, deverá reunir suas meninas e meninos uma festa no Espaço Kaeru. Ele toca a página (com clima de paquera) ao lado do amigo de infância, Weverton Pedro. Por ora, tiram 2 000 reais por mês com o negócio. “O bacana desse novo fenômeno é apresentar ao leitor diversão, informação e novas amizades”, diz Müller.

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