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Greves causam caos em São Paulo

Semana foi marcada pela paralisação dos ônibus, que resultou em trânsito e lotação em outros transportes públicos; houve ainda passeata dos professores e ato do MTST

Por Júlia Gouveia e Felipe Schmieder
Atualizado em 1 jun 2017, 17h20 - Publicado em 23 Maio 2014, 18h23

A histórica dificuldade que o paulistano enfrenta para realizar os mais simples trajetos ganhou um componente dramático na semana passada. Como se não bastassem o usual rolo no trânsito e a saturação nos transportes públicos, a capital viveu dias de caos na terça (20) e na quarta (21), provocado pelos protestos organizados por diferentes entidades de classe.

O maior transtorno foi causado por uma paralisação-surpresa dos motoristas de ônibus, que deixou mais de 2 milhões de passageiros na mão. Cerca de 12 000 funcionários, sem uma liderança específica, simplesmente decidiram parar de trabalhar na manhã de terça — e, assim, sem avisar as autoridades nem o próprio sindicato, travaram a metrópole. O ato ocorreu um dia após o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo ter conseguido um reajuste salarial de 10% para a categoria — os grevistas, no entanto, exigiam um aumento de mais de 20%. Apesar de manifestações trabalhistas serem fundamentais para o exercício pleno de um Estado democrático, a atitude intempestiva tornou a cidade inteira refém das reivindicações de uma minoria da população.

 

Em um efeito dominó, os prejuízos se espalharam por todos os lados. Segundo estimativa do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), o rombo na arrecadação das viações girou em torno de 8,5 milhões de reais. “É um dinheiro perdido, que não tem como ser recuperado”, afirma o presidente da associação, Francisco Christovam. No total, mais de 3 000 veículos ficaram parados, o que representa cerca de um terço da frota. No auge da crise, ao longo da quarta-feira, quinze dos 28 terminais de ônibus da cidade permaneceram fechados, com os veículos de cinco empresas impedidos de deixar o pátio de doze garagens. Sem ônibus, muitas pessoas tiraram o carro de casa e o trânsito bateu vários recordes do ano.

Na noite de terça, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) contou 261 quilômetros de congestionamento. Mesmo na manhã de quinta (22), quando a greve já havia sido encerrada, registrou-se a máxima do horário em 2014: 168 quilômetros de lentidão. Com as vias entupidas, os trilhos também sofreram a sobrecarga de usuários. Cenas de tumulto e empurra-empurra puderam ser testemunhadas em várias estações. Na de Pinheiros, da Linha 4 – Amarela, muitas pessoas passaram mal e algumas chegaram a desmaiar em meio ao aperto. O Metrô contabilizou cerca de 225 000 passageiros a mais que o normal na terça. No mesmo dia, as linhas da CPTM também receberam quase 170 000 pessoas acima do fluxo médio diário.

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Manifestação professores 2375
Manifestação professores 2375 ()

Os efeitos na mobilidade não foram os únicos: a educação e o comércio reforçam a lista de atingidos. Paralisados desde 23 de abril, professores da rede municipal estão deixando 140 000 alunos sem aula em setenta escolas. Na mesma terça caótica, cerca de 15 000 educadores se reuniram na Avenida Paulista e marcharam pela Rua da Consolação, com uma lista de 205 reivindicações, até chegar à sede da prefeitura, no Viaduto do Chá. “Exigimos melhores condições de trabalho, como reajuste salarial, redução de alunos por classe e mais segurança nas escolas”, afirma o presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal, Claudio Fonseca. Houve ainda reflexo no número de vendas registradas nas lojas da cidade. “Em dia de paralisações e passeatas, os comerciantes deixam de faturar algo em torno dos 2 milhões de reais”, diz Fabio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

As perdas são maiores nas áreas que mais atraem manifestantes. “Um lojista da Avenida Paulista, que eventualmente é tomada por protestos, perde 50% das vendas no dia”, afirma o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Rogério Amato. Um dado que é facilmente comprovado na região. “Na terça tivemosde fechar às 16 horas, com metade do faturamento planejado para o dia”, conta a vendedora Ivone Gomes, que trabalha há dezoito anos em uma loja de lustres na Rua da Consolação. Dona de uma livraria na mesma via há 35 anos, Maria Cristina Teixeira viu a rua tornar-se palco de manifestações no ano passado. “Concordo que os trabalhadores devem cobrar os seus direitos, mas não podem, com isso, inibir o direito de ir e vir dos outros”, opina.

MTST 2375
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Na mesma terça, cerca de 1 500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) invadiram a sede da construtora Viver, na Vila Olímpia. Eles são contra a reintegração de posse de um terreno da empresa que atualmente abriga 4 000 famílias na ocupação chamada de Copa do Povo. Na quinta (22), reuniram pelo menos 6 000 pessoas no Largo da Batata. Na sexta, os professores municipais planejavam voltar para a frente da prefeitura. E, para a próxima terça (27), há a ameaça de paralisação dos metroviários e professores da USP. Faltando menos de vinte dias para a Copa do Mundo, os protestos reforçam o clima de “panela de pressão” que paira sobre a cidade. Para o cientista político Rubens Figueiredo, da Fundação Espaço Democrático, os atos ainda são reflexo das manifestações de junho do ano passado. “As pessoas perceberam que, se saíssem às ruas, conseguiriam o que queriam”, diz. O apoio da população, no entanto, tem diminuído.

Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na semana passada, 73% dos paulistanos acham que as manifestações trazem mais prejuízos do que benefícios. “Depois dos black blocs e rolezinhos, agora chegou a vez das greves corporativistas”, diz Figueiredo. A ironia da enxurrada de protestos é que ela prejudicou até mesmo um deles: o da Polícia Civil. Marcado para a quarta, não ocorreu, pois os agentes não conseguiram chegara o ponto de encontro por falta de ônibus. “E, como a visibilidade seria reduzida, o movimento se diluiu”, explica o presidente da Associação dos Funcionários da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Hilkias de Oliveira. O que indica o nível do caos: num futuro próximo, talvez nem as passeatas consigam mais se deslocar por São Paulo.

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