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Especialistas de São Paulo estudam programa que revolucionou maior rede de escolas públicas dos Estados Unidos

Nova York começou a mudar seu sistema de educação em 2002 e já vê resultados

Por Camila Antunes
Atualizado em 1 jun 2017, 18h49 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

                           

                                             

                                 

 

Antes de 2002, apenas 40% do total de 1,1 milhão de alunos das escolas públicas de nível fundamental do estado de Nova York atingia os conceitos “adequado” ou “avançado” nas avaliações do governo americano. Nas provas aplicadas neste ano, 82% ficaram acima da média em matemática e 69% em inglês. A melhoria deveu-se a um conjunto de medidas para apoiar os professores em suas dificuldades cotidianas. “Enfrentamos resistência dos sindicatos, tivemos de mudar algumas leis e trocamos 80% dos diretores”, disse o subsecretário de Educação de Nova York, Chris Cerf. “Decidimos colocar as crianças em primeiro lugar.” Ele esteve em São Paulo para o lançamento do estudo A Reforma Educacional de Nova York, Possibilidades para o Brasil, coordenado pelo Instituto Fernand Braudel, com o apoio da Fundação Itaú Social. VEJA SÃO PAULO perguntou aos pesquisadores, bem como ao secretário da Educação do estado, Paulo Renato Souza, se as ações que deram certo lá poderiam ser aplicadas aqui.

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Chris Cerf_ subsecretário de Educação de Nova York
Chris Cerf_ subsecretário de Educação de Nova York ()

O problema: as escolas tinham necessidades específicas, mas tratamento igual.

O que Nova York fez: deu mais autonomia às escolas, que ganharam poder para selecionar seus professores e decidir que tipo de assessoria pedagógica desejavam ter, podendo inclusive contratar um grupo privado ou uma ONG. Cada escola nova-iorquina administra um orçamento médio de 166 000 dólares por ano.

Como é em São Paulo: tudo, da compra da merenda à contratação de professores, é centralizado nas secretarias de governo. Uma exceção, o programa Dinheiro Direto na Escola, do MEC, repassa verbas de 10?000 reais, em média, para consertos e compra de material escolar. “Temos dificuldades legais e culturais para dar dinheiro e responsabilizar a escola por suas ações”, afirma o secretário Paulo Renato Souza.

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O problema: faltava um diagnóstico preciso do ensino.

O que Nova York fez: passou a aplicar cinco avaliações por ano, de inglês e matemática, e a publicar os resultados num grande banco de dados. O estudante e o professor têm acompanhamento de perto e uma meta a perseguir. Há uma equipe com a função de propor estratégias de trabalho a alunos com defasagem.

Como é em São Paulo: as avaliações oficiais como Enem, Prova Brasil e Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) foram incorporadas ao calendário e têm servido para sinalizar práticas que estão dando certo. Nos últimos anos, as provas foram transformadas em metas de melhoria, com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp). Entretanto, ainda falta orientação para que os professores compreendam seus erros e acertos.

O problema: motivar os educadores a trabalhar por metas.

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O que Nova York fez: combinou incentivos com sanções, fazendo com que professores e gestores saíssem de uma zona de conforto, criada pela estabilidade na carreira, que também existe por lá. Uma escola que falha por dois anos em bater sua meta corre o risco de ser fechada. Desde 2002, 95 unidades tiveram esse fim. Depois, reabriram com uma equipe nova de educadores.

Como é em São Paulo: há um programa de pagamento de bônus anuais a todos os funcionários da escola, baseado na meta estipulada pelo índice do Idesp. Na semana passada, o secretário Paulo Renato Souza enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei para instituir outro sistema de recompensa. Ele seria composto de provas a cada três anos, por meio das quais os melhores professores teriam aumento, independentemente do tempo de serviço. Falta um mecanismo de responsabilização, ou punição, especialmente dos diretores.

O problema: diretores tinham estabilidade na carreira e visão antiquada.

O que Nova York fez: mudou a lei para permitir aposentadorias antecipadas e ameaçou com demissão os diretores cujas escolas fracassassem por dois anos seguidos nas provas estaduais. Em paralelo, criou um sistema de recrutamento, aberto a professores da rede e profissionais de fora. Desde o início das reformas, em 2002, 80% dos diretores foram trocados.

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Como é em São Paulo: o diretor é titular do cargo. Só sai quando se aposenta ou em raros casos de falhas éticas ou desvios de verbas comprovados. Uma melhoria tímida, iniciada neste ano, foi a estruturação do curso de formação de educadores, no qual se ensinam princípios de gestão. “Alguns obstáculos legais, como a estabilidade na carreira, não deveriam ser tolerados pela sociedade”, diz Patrícia Mota Guedes, coautora do estudo.

O problema: os pais não acompanhavam a vida escolar dos filhos.

O que Nova York fez: contratou um funcionário por escola para ser a ponte entre os pais e o corpo pedagógico.

Como é em São Paulo: quase metade das escolas estaduais fica aberta nos fins de semana, por meio do programa Escola da Família. Essa é a iniciativa mais abrangente entre as que buscam a aproximação da escola à comunidade.

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O problema: crescentes casos de violência envolvendo estudantes, dentro e fora da escola.

O que Nova York fez: assumiu a questão como um problema de educação – e não de polícia ou da falta de estrutura familiar – e deu autonomia (e recursos) a cada instituição para buscar ajuda e propor atividades extras.

Como é em São Paulo: dentro da Secretaria de Educação formou-se, há dois meses, o Grupo de Supervisão de Proteção Escolar e Cidadania, que tem entre suas atribuições diagnosticar quais são os episódios de violência mais frequentes nos colégios paulistas.

O problema: sensibilizar a sociedade para as deficiências na educação.

O que Nova York fez: facilitou a atuação de ONGs e da iniciativa privada, na medida em que cada escola podia travar parceria com quem quisesse. Surgiram programas como o Teach for America, em que jovens egressos de universidades de elite dão aula por dois anos, com bolsas de estudo e tutoria proporcionadas por empresas como Google e McKinsey.

Como é em São Paulo: também há programas interessantes em curso, especialmente com proposições de gestão escolar. São raros os casos de colégios “adotados” por empresas, como o primeiro colocado paulista no Enem, mantido pela Embraer e localizado em São José dos Campos. Ainda estamos numa fase anterior à nova-iorquina, em que falta sensibilizar a comunidade para a gravidade da situação. Pesquisa do Ibope realizada pelo Grupo Abril no ano passado revelou que 91% dos brasileiros atribuíam nota superior a 5 aos colégios de seus filhos – ainda que o resultado nas provas nacionais e internacionais seja pífio.

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