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Dez bairros têm 50% das apreensões de drogas em São Paulo

Entre janeiro de 2015 e maio deste ano, foram apreendidas 9,6 toneladas de entorpecentes na capital; delegacias que lideram o ranking estão em áreas periféricas

Por Da Redação
Atualizado em 27 dez 2016, 16h32 - Publicado em 24 jul 2016, 10h45

Apenas dez bairros da cidade de São Paulo concentram mais da metade de toda a apreensão de drogas feita na capital paulista. Entre janeiro de 2015 e maio deste ano, as delegacias de polícia da cidade apreenderam 9,6 toneladas de maconha, cocaína, crack e drogas sintéticas – 4,9 toneladas (51,18%) em dez distritos, a maioria na periferia. A lista mostra ainda que é baixa a correlação entre esses bairros e aqueles em que a polícia registra mais crimes violentos, bem como as áreas em que há mais prisões. O Estado obteve o histórico de apreensões por meio da Lei de Acesso à Informação e comparou os dados com as demais estatísticas, divulgadas mensalmente pelo governo do Estado.

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Só três delegacias aparecem tanto na lista dos bairros que mais apreendem drogas quanto na dos que mais prendem criminosos na cidade. São os distritos do Brás (8.º DP), no centro, da Ponte Rasa (24.º DP) e Vila Jacuí (63.º DP), ambos na zona leste. Já na comparação com os que mais registram crimes violentos (homicídios dolosos, estupros, latrocínios e roubos somados), há duas delegacias nas duas listas: o 63.º DP e o 47.º DP, no Capão Redondo, zona sul. Publicidade O 3.º Distrito Policial (Santa Ifigênia), que atende a Cracolândia, é o quarto colocado no ranking. Mas não é o distrito que mais apreende crack. O líder é o 49.º DP, de São Mateus, zona leste, com 40 kg da droga. A delegacia da Cracolândia apreendeu 900 gramas – e ocupa a 16.ª posição. Das 10 delegacias do ranking, 7 são centrais de flagrantes que fazem plantão 24 horas e recebem ocorrências de distritos que fecham à noite – há 27 dessas delegacias na cidade.

Para o coronel reformado da PM José Vicente da Silva Filho, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a comparação dos dados “desmistifica o consenso que temos de que as drogas estão relacionadas à violência”. “O que tem relação direta com violência é cachaça, que desinibe muito”, afirma. Já o coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), Maurício Fiore, afirma que o consumo ainda só é associado à violência por causa da posição do Brasil em tratar o assunto como questão de polícia. “A Europa tem índices baixíssimos de violência, se comparada com o Brasil, e o consumo de drogas, em termos proporcionais, é maior. Isso porque a violência não está associada ao consumo”, diz.

Policiais nas delegacias que compõem o ranking se mostraram surpresos com os índices – não achavam que estavam acima da média. Segundo contam, as apreensões são feitas pela PM, em patrulhamento, e em investigações de outros crimes que terminam, também, com a descoberta dos entorpecentes. Pancadão. O campeão em apreensões é o 98.º Distrito Policial (Jardim Miriam), no limite com Diadema. Para a polícia, as características urbanas do bairro – 90 favelas – favorecem a ação do tráfico. “É um bairro extremamente pobre e carente, com poucas áreas satisfatoriamente urbanizadas”, explica o delegado titular, Altair Antonio Joaquim. Para ele, o consumo é feito por moradores da região. “Eles nem têm muitas armas”, afirma.

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O presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do bairro, Durval dos Santos, destaca ainda que a incidência dos “pancadões” na área estimula o consumo de drogas. “Moradores reclamaram e agora tentamos avisar a polícia antes.” Na outra ponta está o 36.º DP, de Vila Mariana. É a delegacia que menos apreendeu droga nos últimos 17 meses. “Aqui há muito roubo. Essa é nossa preocupação. Claro que há tráfico, há consumo. Mas nosso foco é solucionar roubos, assaltos”, disse um delegado do distrito. Explicação. Questionada sobre os dados pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, por meio de nota, que o “fato de uma grande apreensão ocorrer em um bairro não reflete, necessariamente, que o consumo da droga seja feito por pessoas daquela região”.

Segundo a pasta, “esses flagrantes ocorrem, muitas vezes, em galpões usados como esconderijos, para que a droga seja distribuída para pequenos traficantes”. O Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), afirma a SSP, “se concentra na investigação dos grandes traficantes” e “o combate das unidades territoriais consiste, majoritariamente, no cerco ao comércio local de entorpecentes”. A secretaria lembra que 7 dos 10 distritos que mais apreendem estão na lista dos 27 DPs que trabalham em esquema de plantão. Diz que dois dos demais distritos (3º DP, que atende Santa Ifigênia, e o 54º DP, de Cidade Tiradentes) são bairros com tradicional concentração de entorpecentes. E que a presença do 21º DP (Vila Matilde) na lista “se justifica pelo fato de ter sido apreendida, em poucas ocorrências, quantidade elevada de entorpecentes, o que colocou a unidade entre as que mais apreenderam”. Segundo a SSP, unidades de inteligência fazem a integração entre ações das Polícias Militar e Civil no Denarc.

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