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Aumenta clima de tensão na região da Cracolândia

Após confusão com a polícia, usuários impedem até o recolhimento de lixo

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 Maio 2017, 19h25 - Publicado em 19 Maio 2017, 17h46

Há mais de duas décadas a Cracolândia é um território com leis próprias, a exemplo das favelas dominadas pelo comércio de drogas. Naquela região degradada do centro, como se sabe, quem manda mesmo são os traficantes. As tentativas de ação do poder público para tirar das ruas os viciados e oferecer a eles tratamento digno obtiveram até agora resultados decepcionantes.

O “feirão” de drogas ocorre de forma escancarada, apesar da presença de guardas no pedaço. A mais recente novidade dentro dessa realidade desoladora é que nem a coleta de lixo vem sendo realizada no lugar, tamanho o medo dos empregados das companhias de limpeza de circular por lá. Resultado: na semana passada, pilhas de detritos espalhavam-se pela Alameda Dino Bueno e pela Rua Helvétia.

Na prática, funcionavam como barricadas contra o acesso de pessoas indesejadas ao local. Caminhões de jatos d’água deixaram de circular pela área. “Temos medo de entrar e acontecer o pior”, explicou um dos lixeiros à reportagem de VEJA SÃO PAULO. “Parece a Faixa de Gaza”, contou outro funcionário. “Um colega levou uma paulada no rosto só porque estava tentando fazer o seu trabalho.”

Confronto do último dia 10: loja de instrumentos musicais saqueada (Newton Menezes/Estadão Conteúdo/Veja SP)

No último dia 10, policiais militares e guardas municipais entraram em confronto com os frequentadores da Cracolândia por causa de um roubo de celular. Bombas de efeito moral eram revidadas com pedradas. Traficantes e viciados fizeram um arrastão nas vizinhanças, saqueando lojas e roubando pedestres.

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Desde então, o clima de tensão só aumentou no local, culminando com a barricada do lixo. Além de os servidores da limpeza terem sumido, assistentes sociais do município e agentes da saúde do governo estadual relataram dificuldades para entrar no “fluxo”, o nome que se dá ao aglomerado de viciados que consomem crack nas ruas.

Na terça (16), a prefeitura dizia que a situação havia se normalizado e contabilizava a coleta de 20 toneladas de detritos. Mas isso não foi suficiente para pôr a casa em ordem, conforme constatou a reportagem de VEJA SÃO PAULO em visitas ao local nos dois dias seguintes.

Essenciais no trabalho, os caminhões de jatos d’água ainda não operavam com força total. Na manhã da quinta (18), a despeito das evidências, o poder público municipal continuava garantindo que a variação estava ocorrendo regularmente.

Confronto no último dia 10: bombas revidadas com pauladas e pedradas (Danilo Verpa/Veja SP)

Ocorre diariamente na Cracolândia uma feira de drogas com cerca de trinta barracas. Elas possuem tetos forrados com lonas pretas e azuis. As pedras e os tijolos de crack são vendidos sob mesinhas de metal. Os bandidos sentem-se tão à vontade que deixam até revólver e maço de dinheiro em cima. Nessa área, há uma placa branca, como se fosse um banner, com a inscrição PCC em vermelho.

No início de maio, o socorrista Bruno de Oliveira entrou no “fluxo” para resgatar uma mulher de 27 anos a pedido da mãe da garota. Ele ficou quatro dias desaparecido e acabou sendo encontrado morto nas imediações. Seu corpo estava amarrado e cheio de ferimentos. O 3º Distrito Policial (Campos Elíseos) ainda investiga o caso.

No dia 12, o governador Geraldo Alckmin anunciou que o lugar será alvo de uma operação conjunta com a prefeitura para combater o tráfico, mas não deu detalhes da ação. “Teria de ser realizado algo urgente, mas o estado tem atuado com a agilidade de um paquiderme”, critica Antonio de Souza Neto, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do centro. “Espero que alguma coisa diferente seja feita.”

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