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Chuvas fortes transformam árvores em perigo nas ruas de São Paulo

Só no último domingo (14), mais de noventa árvores tombaram na cidade - cupins e podas irregulares aumentam o risco de queda

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 18h45 - Publicado em 19 mar 2010, 17h11

Diante da desigual distribuição de áreas verdes em São Paulo, ter árvore perto de casa é privilégio de poucos. Liderados por tipuanas, fícus e alfeneiros, as três espécies mais encontradas na cidade, cerca de 2 milhões de unidades embelezam a paisagem, amenizam temperaturas elevadas, atraem pássaros e valorizam regiões. Em dias de tempestade, no entanto, muitas delas passam de mocinhas a vilãs. No domingo (14), 95 árvores tombaram, atingindo residências, carros e fios da rede elétrica. A chuva, que começou por volta do meio-dia, teve rajadas de vento de até 80 quilômetros por hora. Ruas em bairros como Jardins, Lapa, Santana e Morumbi foram total ou parcialmente obstruídas. Alguns quarteirões ficaram mais de 36 horas sem luz. “As lâmpadas de casa estouraram quando o tronco ficou suspenso pelos cabos de energia”, conta a advogada Nathalia Mazzonetto, moradora do City Boaçava, na Zona Oeste. Geladeira, telefone sem fio, bateria do alarme e parte da fiação foram queimados. “Tive prejuízo de 1 900 reais”, calcula.

Moacyr Lopes Júnior / Folha Imagem

Rua Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena: ventos de até 80 quilômetros por hora

 Todo esse transtorno se apequena diante do acidente que envolveu o paulistano Ricardo Dutra Nicacio, de 28 anos. Laboratorista de uma faculdade privada, ele tinha como grande paixão correr maratonas. No domingo, treinava com seu professor Jorge Arueira na Avenida Brasil, no Jardim América, quando, às 14h20, foi atingido na cabeça por um tronco. O choque causou-lhe traumatismo craniano. Depois de quatro dias em coma, foi anunciada a morte cerebral de Nicacio pelo Hospital das Clínicas. “Ele era uma pessoa iluminada, carinhosa e preocupada em ter um estilo de vida saudável”, diz Patricia Nicacio, sua única irmã. “O que conforta minha família foi ter autorizado a doação dos órgãos dele.” Outras pessoas foram atingidas. Na terça (16), por volta das 18 horas, uma árvore caiu na Praça Vitor Del Mazo, em Higienópolis. Não chovia no momento. O garçom Evaldo Dantas, de 38 anos, falava ao celular com o pai quando foi atingido. “Saí correndo ao escutar uns estalos de madeira podre”, diz ele. Não deu tempo para escapar. “Quando caí no chão e vi que estava respirando, agradeci a Deus por estar vivo.”

 

Clayton de Souza/Agência Estado/ AE

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Canteiro central da Avenida Brasil: atingido na cabeça enquanto corria, o biólogo Ricardo Nicacio morreu após quatro dias em coma

Essa é uma situação gravíssima, que se repete ano após ano. Entre janeiro e fevereiro, 297 árvores tombaram. Uma média de cinco por dia. Além das tempestades e raios, a negligência da população, que poda árvores irregularmente, e do poder público explica as quedas. “Tem gente que corta galho para não se dar ao trabalho de varrer as folhas que caem na calçada”, afirma o ambientalista Ricardo Cardim. Quando isso ocorre, o centro de gravidade da planta fica comprometido. Como a copa (ou o que sobrou dela) retém até 70% da água da chuva, há desequilíbrio com o peso adicional. O corte irregular também propicia a entrada de cupim. Cimentar o entorno do tronco é outra atitude condenável, uma vez que impede a absorção de água da chuva. Nesses casos, o vegetal se nutre com o que capta do lençol freático e suas raízes enfraquecem. Espécies que não fazem parte do ecossistema daqui — caso da tipuana, natural da Bolívia e da Argentina — caem com mais facilidade. “Nosso clima quente permite que ela cresça o dobro do que deveria, mas sua madeira é frágil”, explica Cardim. 

 

Mario Rodrigues

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Tomada por cupins: tipuana cai na Praça Vitor Del Mazo, em Higienópolis, e fere garçom na terça (16)

 Em agosto do ano passado, a prefeitura começou a catalogar as árvores de São Paulo. De autoria de André Graziano, coordenador de áreas verdes da Secretaria de Subprefeituras, o projeto conta com uma equipe de 97 agrônomos. Esse grupo tem a missão de fazer a ficha médica de cada arbusto. “Além de fotografar cada vegetal em diversos ângulos, são preenchidos setenta itens sobre ele”, diz Graziano. Perdizes foi o primeiro bairro que teve suas 1 300 unidades cadastradas. Com a conclusão do estudo, decidiu-se remover 170, realizar 700 podas de correção e plantar outras 700. A ideia é radiografar toda a vegetação da cidade ainda neste ano. “Queremos fazer um plano de manejo e arborizar nossas calçadas.”

 

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