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Christine Laï roda o mundo para entender a pirataria

Diretora da União dos Fabricantes Franceses, Christine Laï roda o mundo para entender a cadeia das falsificações. A convite de VEJA SÃO PAULO, visitou a Rua 25 de Março e ficou horrorizada com o que viu

Por Lúcia Monteiro
Atualizado em 5 dez 2016, 19h33 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

De bermuda cáqui, paletó com listras coloridas e óculos escuros com armação verde e amarela, a francesa Christine Laï, diretora da União dos Fabricantes Franceses, desembarcou em São Paulo no último dia 28 e foi direto para a Rua 25 de Março. Não, a ideia não era fazer compras. Tratava-se de uma visita de trabalho. Christine, formada em direito e ex-promotora, tinha a missão de pesquisar o mercado paulistano da pirataria para uma apresentação sobre o tema, na próxima sexta (11), durante a Atualuxo 2009 — Conferência Internacional do Negócio do Luxo, organizada pela MCF Consultoria e Conhecimento no hotel Grand Hyatt. Já do alto da Ladeira Porto Geral, vizinha da 25, Christine olha pela janela do carro e se impressiona: “Parece que há de tudo”.

Ela ganhou uma massagem-relâmpago nas costas (demonstração de um aparelho que funciona com uma bola de borracha), foi chamada de bonitona por um ambulante, ouviu reclamações de outro que não queria ter seus produtos fotografados e recebeu ofertas para levar as mais diversas mercadorias. Só cedeu em um caso: o DVD da comédia Brüno (3 reais), do inglês Sacha Baron Cohen, que estreou nos cinemas brasileiros há menos de um mês. “Quero ver o conteúdo”, disse. Por conteúdo entenda-se a qualidade das imagens – e sua diferença com relação às originais. “Muitas vezes são crianças que fazem a captação dessas imagens, de dentro do cinema.” Ao colocar o filme para rodar em seu computador, nada das aventuras do repórter de TV austríaco gay que abala o mundinho fashion. O menu trazia o atrapalhado esquilo Scrat, de A Era do Gelo 3. “Pior são os casos de gente que compra DVDs infantis e acaba com uma fita só para adultos em mãos”, afirma. O tal Brüno de araque terá como destino o Museu da União dos Fabricantes Franceses, que reúne os mais variados objetos piratas.

Com os olhos espertos de quem rodou o mundo para compreender a cadeia das falsificações, Christine logo notou os jacarezinhos das camisas expostas no chão e aproximou-se para examiná-los. “A costura está malfeita, passa por cima da cauda do jacaré”, explicou, identificando uma cópia grosseira da Lacoste. Ao lado, o símbolo da Polo Ralph Lauren chamou sua atenção. “O bicho está desfigurado, nem parece um cavalo.” Quando ouviu o preço – 10 reais cada uma – ela ficou espantada. Foi um vendedor boliviano, há quatro anos em São Paulo, que lhe relatou o esquema. De acordo com ele, as camisas são todas feitas ali perto, no Bom Retiro, em confecções comandadas por coreanos e chineses, com empregados bolivianos.

“Quem compra uma bolsa de imitação ou um relógio falso não tem a impressão de fazer algo ruim”, diz Christine. “Mas é errado.” Seu objetivo é alertar a opinião pública para o fato de que a pirataria está frequentemente ligada ao crime organizado. “Em qualquer país do mundo, a indústria das falsificações recorre a empregados clandestinos, que são mal pagos e têm condições de trabalho precárias.” Paralelamente, a União dos Fabricantes Franceses se empenha para fazer com que os consumidores entendam por que o produto de luxo é tão caro. “Trata-se de um conhecimento construído ao longo de muitos anos, e isso tem um custo.” Citou como exemplo uma autêntica bolsa Hermès, que leva vinte horas para ficar pronta. Uma cópia é feita em série, em poucos minutos.

Da França, Christine conferiu os desfiles da última São Paulo Fashion Week pela internet. “Gostaria de ser mais jovem para vestir as peças que vi na passarela”, conta. “Só espero que estejam todas protegidas pela lei, senão as cópias logo vão dominar o mercado.” Segundo ela, o produto brasileiro mais falsificado no mundo são as sandálias Havaianas. “Fico triste ao ver a bandeira brasileira colada sobre uma borracha que corta e queima o pé.” Depois do passeio, Christine, que evita ostentar roupas de grife “para não passar a imagem de que está do lado do luxo”, foi descansar em um hotel dos Jardins. Antes de sair do táxi, um palpite sobre as coleções das grifes para a próxima estação: elas devem seguir os conselhos legais e ficar mais discretas. No lugar dos dois “C” característicos, a Chanel, por exemplo, vai se identificar pelo trançado e pelo matelassê. Isso deve dificultar a vida dos falsificadores.

Barato, mas grosseiro

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É fácil identificar as cópias à venda nos camelôs

Carteira “Gucci” (20 reais)

Couro legítimo tem cheiro de couro. A carteira pirata tem cheiro de plástico. Além disso, o “G” é colocado ao contrário e as costuras se desfazem com facilidade.

Relógio “Rolex” (15 reais)

A imitação é muito mais leve que o original. Um Rolex de verdade nunca será entregue em saquinhos plásticos.

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Óculos “Ray-Ban” (15 reais)

Nos originais, o nome da grife é gravado na lente. Nos piratas, trata-se de uma etiqueta colada. Além disso, lê-se o nome de outra marca nas hastes.

Camisas diversas (10 reais)

Símbolos como o jacaré da Lacoste e o cavalo da Polo Ralph Lauren aparecem desfigurados e mal costurados. A qualidade da malha é inferior e as costuras, toscas. A gola, em geral, é torta.

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