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“Chegou aqui um cachorro com a pata queimada por água sanitária”

Pet com intoxicação por produto de limpeza, cão com focinho quente e demora para buscar atendimento: veterinário conta rotina no diário dos sem-quarentena

Por Hannan Eduardo Bacelar em depoimento à Mariani Campos
Atualizado em 24 dez 2020, 10h09 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00

“No período de 19 de março a 10 de abril, o movimento aqui no Hospital Veterinário Santana caiu 80%. Tivemos de remanejar os funcionários, trinta pessoas. Reduzimos os horários e os salários também, mas conseguimos evitar demissão. Agora já voltamos ao normal, atendendo 24 horas, mas focados nas emergências. O ser humano é difícil, a pessoa traz o animal para vacinar e vêm junto o pai, a mãe, o vizinho e uma criança de colo. A vacinação é importante, mas, se o animal não sair na rua durante este período, não tem problema. Estamos instruindo os donos a trazê-los depois que tudo isso passar.

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Os atendimentos de animais com intoxicação por produtos de limpeza aumentaram em 20%. Com a Covid-19, os tutores passaram a fazer faxinas mais pesadas em casa e até mesmo nos pets: chegou um cachorro aqui com as patas queimadas porque a dona passou lenço umedecido com água sanitária para limpar. Outro teve convulsões, pois usaram Lysoform na limpeza. A gente precisa sempre reforçar que os animais não pegam nem transmitem a Covid-19. A desinformação leva a situações como essas e ao abandono, que aumentou neste período também. As pessoas ligam muito aqui falando de animal abandonado na rua, mas a gente não tem muito que fazer, como acolher todos. Teve gente trazendo o gato na clínica achando que ele estivesse com corona porque o bichinho espirrou, vê se pode. Gatos espirram bastante mesmo, é normal do sistema respiratório deles. Também trouxeram um cachorro porque estava com o focinho quente e logo associaram a febre, e da febre ao corona. A temperatura dos animais é realmente superior à nossa, por volta dos 39,5 graus.

“Sou completamente apaixonado pelo o que eu faço”: veterinário não cogitou parar de atender mesmo com a Covid-19 (Rogério Pallatta/Veja SP)

A minha rotina agora é chegar em casa e esperar para abraçar meus filhos, Luiza, de 3 anos, e Lucas, de 7. Eles pararam de ir à escola já em fevereiro. Entro em casa, tiro a roupa, tomo banho e só depois os abraço. O Lucas está tendo aula on-line, então à noite eu o ajudo com o dever de casa. Ainda que a situação seja preocupante, não tenho medo de pegar a Covid-19, não. Muito menos pensei em parar de trabalhar, ficar só em casa. Eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja veterinária. Tenho muito orgulho da minha profissão, recebi até uma honraria na Câmara dos Vereadores, foi um baita reconhecimento. Sou completamente apaixonado pelo que faço.

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Eu sabia que ia ser veterinário desde criança. Minha avó era da roça, então eu cresci no meio dos animais. Tenho um tio que é veterinário e me levava para o hospital junto com ele quando eu tinha 11 anos. Fui evoluindo de ajudante para estagiário, enfermeiro, até que corri atrás do meu sonho, que era ter meu próprio hospital. Eu me formei em 2005, pela Universidade de Guarulhos, e em 2007 fiz pós-graduação em cirurgia geral e ortopédica, que é a minha paixão.

As pessoas têm de se conscientizar que ter um animal é mais do que dar só água e comida. Agora que muita gente está ficando sozinha em casa a ideia de adotar um pet é muito tentadora, mas não é tão simples. Uma senhora trouxe um cachorro aqui durante este período, tirou-o da rua e colocou para dentro de casa. Informei-lhe que, como não conhecíamos o histórico do animal, era necessário fazer alguns exames para ver se estava tudo bem. Procedimentos marcados, ela não apareceu com o cão no dia combinado. Quando ligamos perguntando o que havia acontecido, ela disse que tinha soltado o cachorro de novo na rua porque não queria gastar dinheiro com os exames.

Percebo que a quarentena tirou o imediatismo das pessoas, de um jeito preocupante às vezes. Teve o caso de um gatinho que engoliu linha de costura e a tutora não viu. Essa linha ficou presa debaixo da língua até o estômago dele. O bicho começou a vomitar e a dona, com medo de sair na rua e se contaminar, medicou-o em casa mesmo. Ele aparentemente melhorou, mas voltou a ficar ruim depois. Quando ela o trouxe aqui, tivemos de fazer uma cirurgia, pois tinha um novelo no estômago do animal. Agora está tudo bem, ele já se recuperou.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 10 de junho de 2020, edição nº 2690. 

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