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Carteirinha pode ter sido causa de assassinato na Cracolândia

Segundo a polícia, o auxiliar Bruno Tavares, encontrado morto na segunda (8), carregava um documento do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar

Por Adriana Farias
Atualizado em 12 Maio 2017, 13h04 - Publicado em 12 Maio 2017, 12h53

A Polícia Civil investiga se Bruno de Oliveira Tavares, de 34 anos, foi confundido com um policial pelos traficantes que o sequestraram. Encontrado morto na Cracolândia na segunda (8), ele portava uma carteirinha do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.

Ex-usuário de drogas, Tavares é carioca e trabalhava como autônomo havia 15 dias em uma companhia de resgate de dependentes químicos chamada Restart Remoções. Ele tinha desaparecido na quarta (3), ao tentar tirar da área uma usuária de entorpecentes de 27 anos a pedido da mãe, que é comerciante. A suspeita é de que ele tenha sido assassinado por traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). O rapaz estava com as mãos amarradas por fita adesiva e tinha diversas marcas de ferimento pelo corpo.

“Descobrimos que ele tinha uma carteirinha colorida e plastificada dos bombeiros porque havia feito um curso de socorrista. Nela, há uma inscrição que diz ‘Corpo de Bombeiros da Polícia Militar’”, explica o delegado titular do 3º Distrito Policial (Campos Elíseos), Osvany Zanetta Barbosa, responsável pela investigação. “Isso pode ter levado à desconfiança dos criminosos, mas ainda é uma hipótese que estamos investigando”.

Marcio Melani, proprietário da Restart Remoções e motorista da ambulância que socorreu a garota, conta que foi buscar Bruno em uma pensão na região da Barra Funda, Zona Oeste, para levá-lo ao ponto de drogas para o trabalho de resgate. “Deixamos a mãe esperando em uma esquina, e Bruno e eu entramos no fluxo para buscar a garota. Pedimos autorização para alguns ‘disciplinas’”. Na Cracolândia, “disciplinas” são traficantes responsáveis por manter a ordem no espaço. Ao entrar na área, homens que estavam no local pediram a Melani e Tavares a presença da mãe. “Fui buscá-la, e quando voltei, o Bruno não estava mais lá”, relata. “Ele não atendia o celular. Perguntei por ele aos ‘disciplinas’, e disseram que ele estava trocando ideia com os caras. Insisti em perguntar e pediram para eu ficar de boa. Em seguida, colocaram um rapaz para me guiar e encontrar a menina. Fomos meio que escoltados por esse sujeito”. Melani conta que, depois de uma hora procurando pelo colega, fez um apelo ao rapaz que o escoltava. “Disse que ele era pai de família, do bem, e aí me falaram que ele estava lá porque tinha se identificado como sendo do Comando Vermelho [facção rival ao PCC]”.

Na sexta-feira (5), antes de o rapaz ser encontrado morto, a reportagem de VEJA SÃO PAULO esteve na região e ouviu dos próprios usuários de drogas que um homem havia sido sequestrado no local. “A coisa tá tensa ali, ‘tão’ interrogando o cara há horas, até saí porque não aguentava mais ficar ali sentado”.

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A reportagem apurou com assistentes sociais da região que Tavares já foi visto algumas vezes perambulando pelo local em busca de pensão, e havia uma suspeita de que ele tivesse recaído nas drogas. Seu colega de trabalho discorda. “Não é verdade. A meu pedido, ele fazia exames de urina constantemente para constatar a presença de drogas no organismo, e sempre dava negativo. Ele estava o tempo todo comigo e eu sempre sabia onde encontrá-lo”, diz Melani.

O delegado Osvany Zanetta relata que, antes de achar o corpo, pediu à Polícia Militar para que a Tropa de Choque auxiliasse no resgate do rapaz, mas não obteve autorização. “Disseram que não havia certeza de que ele estava lá, ou que podia estar por opção, por ser um ex- dependente químico”.

A reportagem tentou falar com a mãe da garota, mas ela não quis atender. Alegou que estava abalada e com medo da situação. Sua filha segue internada para reabilitação em uma clínica da capital. Os familiares de Tavares também se recusaram a falar com a imprensa.

Pânico, arrastões e corre-corre

Há dois dias, uma operação envolvendo a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e a Policia Militar (PM) para atender a uma ocorrência de roubo de celular na Cracolândia causou confusão no centro.

Revoltados com a ação, usuários de drogas e traficantes armaram duas barricadas com fogo em pneus na entrada da Alameda Dino Bueno e da Rua Helvétia para impedir a entrada da polícia. A Avenida Rio Branco também chegou a ser interditada. Os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo e os usuários revidaram com paus e pedras.

Duas horas depois, ao menos trinta lojas estavam com as portas fechadas devido a arrastões que ocorriam na região. Uma loja de instrumentos musicais teve prejuízo de 50 000 reais e ao menos 50 pessoas foram assaltadas. Ao menos duas pessoas haviam sido presas na ação.

Nesta sexta-feira (12), o clima já estava mais calmo, porém ainda era possível ver dois carros incendiados no local.

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