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Formados em universidades de ponta, eles querem ser deputados

Quem são os candidatos diplomados por escolas como Harvard e Yale que, neste ano, encaram a primeira campanha eleitoral

Por Mariana Rosario Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 set 2018, 15h16 - Publicado em 28 set 2018, 06h00

No próximo dia 7, o eleitor paulista escolherá setenta deputados federais e 94 estaduais para a Câmara, em Brasília, e a Assembleia Legislativa. Uma novidade deste pleito é o surgimento de um grupo de candidatos de primeira viagem, em sua maioria na casa dos 30 anos, formados em grandes universidades estrangeiras, como Harvard e Yale, nos Estados Unidos. Eles tentam conquistar os eleitores com um discurso pautado nos conhecimentos adquiridos durante os anos de estudo no exterior.

Além da formação internacional, essa turma também tem em comum a participação em movimentos sem partido definido, caso do RenovaBR, organizado como uma incubadora de políticos. Na hora de escolher a legenda, inclusive, os novatos costumam fugir das tradicionais, como PT e PSDB, nas quais não há ninguém com esse perfil.

Apesar do sucesso nos boletins, esse grupo enfrenta árdua tarefa nesta campanha, pois o paulista tem preferência por candidatos à reeleição. Em 2014, por exemplo, 69% dos deputados estaduais foram reconduzidos ao cargo, o maior índice da história. Neste ano, mais da metade dos parlamentares tenta continuar na Casa. “Os eleitores acabam preferindo nomes tradicionais e mais velhos”, explica o professor Rodrigo Prando, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas do Mackenzie. “É difícil romper essa tendência consolidada há anos”, completa.

FOCO NO ENSINO BÁSICO

A cientista política Tabata Amaral (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Aos 24 anos, a cientista política Tabata Amaral garante estar pronta para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados, em Brasília. Formada pela prestigiada Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a moça de origem humilde, nascida na Vila Missionária, Zona Sul da capital, conseguiu chegar à instituição após ganhar uma bolsa de estudos em uma escola particular graças a seu bom rendimento na Olimpíada Brasileira de Matemática.

Quando surgiu a oportunidade no exterior, pensou em não mudar de país. “Poucos dias depois de eu receber a notícia de que tinha passado na Harvard, meu pai morreu, eu quis desistir de tudo”, diz. Convencida por professores, decidiu viajar e estudou astrofísica na instituição. Com o passar dos anos, mudou o foco de sua formação para ciência política, com trabalho de conclusão de curso sobre a educação brasileira.

Durante o tempo que ficou nos EUA, conheceu o presidenciável Ciro Gomes, com quem mantém contato desde então. A relação foi uma das razões que a levaram a candidatar-se pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Entre suas propostas, o principal foco é a educação. “Quero acabar com a indicação para cargo de diretor escolar”, declara.

VOUCHER PARA SE FORMAR

O economista Daniel José (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Caçula entre onze irmãos, o economista Daniel José, 30, relembra um colega de classe do período de mestrado na Universidade Yale, em New Haven (EUA). “O rapaz era neto de um ex-presidente dos Estados Unidos. Meu avô, por outro lado, morava no interior do Brasil, quase medieval”, compara. Ao terminar os estudos por lá, recebeu convites para trabalhar em empresas de Nova York e do Vale do Silício, mas decidiu retornar para São Paulo, onde atuou na área de educação pública.

“Percebi uma crise de liderança e pensei que ajudaria mais ao me candidatar a um cargo público do que liderando um time de consultores”, conta. Inspirado na própria trajetória — chegou a pedir bolsa em escolas de idiomas —, propõe a criação de um “voucher” para que alunos de colégios abaixo da média possam estudar em escolas particulares, sem custo para as famílias. Em sua campanha à Assembleia, pelo Novo, também defende a cobrança de mensalidades em universidades públicas para alunos de alta renda.

ESPECIALISTA EM SEGURANÇA

O professor universitário Heni Ozi Cukier (Marcelo Justo/Veja SP)

Há onze anos, o professor universitário Heni Ozi Cukier, 41, teve uma surpresa desagradável ao conseguir emprego no Conselho de Segurança da ONU. “Havia pouca efetividade, seria melhor estar em uma reunião de condomínio, mas tendo resultado prático”, conta. Para chegar ao cargo, ele havia vendido tudo no Brasil e embarcado para os Estados Unidos a fim de estudar na Barry University, na Flórida, onde cursou filosofia e ciência política. Na sequência, concluiu o mestrado em paz internacional e resolução de conflitos na American University, em Washington, e teve uma passagem pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

De volta ao Brasil, em 2008, começou a prestar consultoria na área de responsabilidade social. Nas últimas eleições para prefeito, há cerca de dois anos, ajudou o Novo, seu partido atual, a organizar a campanha. Do trabalho, surgiu o convite para tornar-se secretário adjunto da pasta de Segurança da prefeitura, área que quer priorizar se eleito deputado estadual: “Quero integrar câmeras de vigilância privadas para ajudar na segurança urbana”.

PARA LEVAR O RH ATÉ BRASÍLIA

A administradora Flavia Goulart (Marcelo Justo/Veja SP)

O carro da administradora Flavia Goulart, 34, não é mais o mesmo desde o início de campanha para deputada federal. Decidida a não ter um comitê eleitoral, a moça carrega no porta-malas todo tipo de santinho, um alto-falante e bandeiras para as carreatas, principalmente na capital e em São José do Rio Preto, onde nasceu. “Já rodei mais de 40 000 quilômetros”, diz. Sua proposta é levar conceitos de recursos humanos (o famoso setor de RH) a Brasília. “Um cargo de confiança, como o dos secretários, precisa ser ocupado por especialistas”, afirma.

Ela também diz ser contra benefícios dos quais poderia usufruir se eleita, caso do auxílio-moradia. Antes de se aventurar na vida pública candidatando- se pelo partido Novo, Flavia acumulou quilometragem cuidando da gestão de ONGs. Em 2015, tornou-se especialista da área na Harvard, onde passou três anos concluindo dois mestrados nas escolas de negócios e de administração pública. “Sempre soube que trabalharia com um propósito.”

PELA LICENÇA-PATERNIDADE

O administrador Humberto Laudares (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Em 2006, o administrador Humberto Laudares precisou se adaptar. Apesar de ter sido selecionado para receber uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, o rapaz teve o benefício negado por ser muito jovem. “Peguei todas as minhas economias, fiz um empréstimo e fui mesmo assim”, conta. Lá, concluiu um mestrado na Universidade Columbia e trabalhou dois anos no Banco Mundial. Pouco tempo depois, foi convidado para fazer parte do Fundo Global de Luta contra Aids, Malária e Tuberculose, em Genebra, na Suíça, onde ficou quatro anos e tornou-se PhD. “Após esse período eu já estava cansado e queria voltar para o Brasil”, lembra.

Aqui, prestou assessoria sobre assuntos econômicos a uma comissão do Senado Federal e, na época do impeachment, ajudou a fundar o movimento intitulado Onda Azul. Na hora de escolher um partido, no entanto, deixou de lado a relação estreita com o PSDB, principalmente por não conseguir negociar mudanças na legenda junto aos colegas do movimento. Desse modo, optou por candidatar- se pelo Partido Popular Socialista (PPS). Hoje, aos 38 anos, Laudares diz que vai priorizar os assuntos da área econômica, caso consiga uma vaga na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Tenho a proposta de aumentar a licençapaternidade para quarenta dias, isso diminuiria a desigualdade entre homens e mulheres”, diz.

(Arte/Veja SP)
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