Continua após publicidade

“Não admito que a Paulista seja segunda cracolândia de São Paulo”, diz presidente de associação

Lívio Giosa, do Paulista Viva, lidera projeto de metas para uma avenida mais “verde” e espera ver mais locais abertos para pedestres

Por Humberto Abdo
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h30 - Publicado em 24 set 2021, 06h00
A imagem mostra Livio, de pé, em uma faixa de pedestres da Avenida Paulista
Lívio Giosa, presidente de associação da Paulista: foco em manter a diversidade da avenida (Alexandre Battibugli/Veja SP)
Continua após publicidade

Membro da Associação Paulista Viva desde a sua criação, em 1996, o empresário e ex-deputado estadual Lívio Giosa atua como presidente do grupo há pouco mais de dois anos. Com a chegada dos 130 anos da avenida, Giosa defende uma série de metas para transformar a Paulista em um polo sustentável com menos emissão de CO² e ações de conscientização. Enquanto isso, tenta atender às reclamações de moradores sobre as aglomerações aos domingos e o aumento de furtos e assaltos na pandemia.

O que o senhor planeja para o aniversário de 130 anos da avenida?

A data é em dezembro e estamos no esquenta. Já tivemos um fórum de sustentabilidade e lançamos um programa de conscientização com ações voltadas à eficiência energética.

Queremos reduzir as emissões de CO2 da região, atrair o poder público e a iniciativa privada para melhorar o paisagismo e a integração com os parques. A ciclovia já faz parte do conceito da avenida, agora a meta é trazer pontos de carga para carros elétricos. Esses planos começam em outubro e não têm data para terminar.

Como pretendem reduzir a sujeira nas calçadas, uma das principais reclamações dos frequentadores, e consertar passeios irregulares?

Já foi muito pior. Hoje temos mais adesão a essas reivindicações pelo ótimo diálogo com a Subprefeitura da Sé. Mas a avenida é gerida por três subprefeituras e nem sempre o contato fica alinhado, não há quem se entenda.

Continua após a publicidade

Enquanto a Sé nos atende imediatamente, a Praça Oswaldo Cruz está às moscas porque a Subprefeitura da Vila Mariana não toma medidas condizentes com nossos pedidos. Nessa primeira fase, vamos distribuir vinte lixeiras com imagens do Masp e mais quarenta bituqueiras. As calçadas fazem parte da discussão na programação de 130 anos, que inclui ideias de reurbanização.

Vários prédios comerciais restringem os espaços públicos com obstáculos de ferro, uma alternativa conhecida como “arquitetura hostil”. A avenida não deveria servir de exemplo e acolher seus pedestres?

Sim, as gentilezas urbanas geram e promovem as gentilezas humanas. Esse foi o tema de um dos nossos painéis e estamos alinhados com a presidente da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (Regina Monteiro).

Em alguns casos, as grades e ferros só estavam lá para uma reforma na pandemia. Os demais têm dificuldade de conviver com a população em situação de rua, que aumentou muito nesses últimos meses. Muitos instalam grandes vasos para diminuir essa alocação.

Continua após a publicidade

+Assine a Vejinha a partir de 8,90.

A associação tem algum projeto para ajudar os moradores de rua?

Hoje essa ocupação é maior no entorno dos parques. Nós temos mecanismos e mão de obra suficientes para atacar isso, mas quem deve conduzir é o poder público. O problema da prefeitura é que ela quer enxergar a cidade como um todo, e isso não dá certo.

Precisa conhecer essas pessoas e criar uma situação digna, elas devem se sentir acolhidas. Com roupas, alimentação, asseio, chamando-as para um artesanato e uma nova prática profissional, isso pode ocorrer. Normalmente, de 100 pessoas só virão dez. E está ótimo, porque essas dez vão dizer para os outros moradores de rua “Opa, vocês não sabem o que estão perdendo”. Eu já fui deputado e sei que, se não tiver vontade política, não sai nada.

Continua após a publicidade

Alguns moradores dos edifícios na avenida alegam que os furtos e assaltos aumentaram muito na pandemia. Como vocês têm lidado com esse problema?

Nosso papel é o tempo todo tentar fornecer dados e informações para a polícia. Temos um grupo de WhatsApp de segurança com todos os síndicos, conquistamos uma base móvel no Trianon, doamos vinte bicicletas para policiais ficarem circulando e a Guarda Civil Metropolitana sempre se apresenta, mas não consegue minimizar esses casos.

Temos a intenção de trazer de volta aquelas cabines físicas nas esquinas, que servem de espaço para um policial militar. Seria mais uma maneira de ter autoridades no local e coibir esses crimes.

“Muitos prédios instalam vasos nas calçadas para diminuir a presença de moradores de rua, que aumentou nos últimos meses”

Continua após a publicidade

Desde 2016, a “minicracolândia” da Praça José Molina tem venda de drogas e presença de usuários. Isso cresceu no último ano?

Cresceu, sem dúvida, e estamos cuidando ativamente disso porque não admito que a Paulista seja a segunda cracolândia de São Paulo. Todo dia a Guarda Civil está lá tentando desfazer, tira, depois volta, a briga é diária. Bastaria mobilizar times de hospitais da região e criar uma metodologia de acolhimento. As pessoas foram levadas a estar ali, mas, se não se dá nenhuma porta de saída, a entrega é total.

+Assine a Vejinha a partir de 8,90.

Na Paulista aberta para pedestres aos domingos, as aglomerações geram incômodo aos moradores, assim como o som alto de artistas de rua, que muitas vezes se apresentam próximos uns dos outros. Como distribuir melhor essa ocupação?

Os próprios músicos e artistas perceberam que não adianta colocar uma banda em frente ao edifício residencial, eles acabam migrando para áreas que não têm efeito direto. Quando o projeto da avenida aberta nasceu, o impacto foi grande. Ali é passagem para pelo menos sete hospitais e a associação dos moradores foi contra na época. Nós somos a favor desse modelo que vai até as 16 horas. Se vai até as 18 horas, o uso de drogas e bebida alcoólica é uma loucura, supervisível.

Continua após a publicidade

Falta fiscalização para controlar os comércios ambulantes também?

Ainda falta muito e houve uma certa parcimônia compreensível na pandemia quanto a eles. Esse tema foi uma das nossas reivindicações desde o início, pois as regras não estavam claras. Quando não há regra, tudo pode e um ocupa mais espaço na calçada que o outro. Fica desorganizado.

O senhor vê potencial para novos eventos na Paulista pós-pandemia?

A Avenida Paulista já está saturada. Nós temos três grandes eventos: réveillon, Parada do Orgulho LGBTQIA+ e a Corrida de São Silvestre. A capital tem vários locais fantásticos que poderiam reproduzir a Paulista Aberta, por exemplo, como o Largo do Pacaembu, o Vale do Anhangabaú e a região do Memorial da América Latina. São lugares com pouco movimento e é preciso criar esse mapa para regionalizar a circulação das pessoas, fazer com que esses espaços públicos sejam mais rotativos. A Paulista acolhe todos os espaços culturais, nunca vai deixar de ser o símbolo da cidade e nesse sentido estamos bem servidos.

+Assine a Vejinha a partir de 8,90.

Publicado em VEJA São Paulo de 29 de setembro de 2021, edição nº 2757

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 49,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.