“Quando me avisou que eu ganharia o pâncreas, a enfermeira disse: ‘Seu doador é de Guarulhos, tinha 16 anos, caiu da moto e bateu a cabeça. E você foi premiada’. Sou mãe de um garoto de 14 anos. Saber que tive um salvador adolescente, como meu filho, mexeu demais comigo. Mesmo que eu quisesse esquecer, as pessoas adoram falar nisso. Algumas diziam que ainda não teria sido a hora de ele morrer, que poderia estar buscando seu caminho de luz. Isso mais atrapalha do que ajuda. Rezo por ele, agradeço, mas preciso retomar meu dia a dia e fazer o que antes não era possível. Uma coisa que sempre achei lindo é dirigir. Via todo mundo passando na rua, velhinhos sozinhos nos seus carros, tanta independência, liberdade. Diabética, com a saúde bem frágil, eu não podia. Corria o risco de ficar cega. Um dia, acordei gritando, enxergando um monte de manchas escuras, como se uma caneta tivesse estourado dentro dos meus olhos. Agora, corri para tirar carta, estou fazendo academia. Dou valor a cada pequena realização.”
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