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Marcelo Marcus Fonseca, do Teatro do Incêndio, diz que sofreu censura na rede: “‘De Dionísio para Koré’ não é uma peça de apelo sexual”

O diretor Marcelo Marcus Fonseca, da Cia. Teatro do Incêndio, foi pego de surpresa no último sábado, dia 31. O Facebook lhe enviou uma advertência sobre fotos publicadas em sua página relativas ao espetáculo “De Dionísio para Koré”. As imagens de cenas da montagem, que entra em cartaz em 14 de novembro, traziam atores seminus […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 14h17 - Publicado em 5 nov 2015, 11h43
Marcelo Marcus Fonseca, diretor do Teatro do Incêndio: "O espetáculo não tem 'cenas fortes'" (Foto: Don)

Marcelo Marcus Fonseca, diretor da Cia. Teatro do Incêndio: “O espetáculo não tem ‘cenas fortes’”

O diretor Marcelo Marcus Fonseca, da Cia. Teatro do Incêndio, foi pego de surpresa no último sábado, dia 31. O Facebook lhe enviou uma advertência sobre fotos publicadas em sua página relativas ao espetáculo “De Dionísio para Koré”. As imagens de cenas da montagem, que entra em cartaz em 14 de novembro, traziam atores seminus e atrizes com os seios à mostra. A conta de Fonseca voltou ao normal no dia seguinte e, logo, ele fez um desabafo sobre o ocorrido em seu blog e compartilhou o link no Facebook. Desde lá, o ator, diretor e dramaturgo afirma que está impedido de fazer novos posts na rede social e, aqui, fala um pouco sobre o episódio.

Vou começar com uma pergunta careta, ok?   Qual é a justificativa dramatúrgica para as cenas de nudez no espetáculo?

O espetáculo é uma encenação de 42 poemas do meu livro “De Dionísio para Koré” com música, dança, teatro e performance. É sobre o dionisismo e amor dilacerado. Na verdade, o espetáculo é praticamente todo nu. É sobre o corpo tomado, arrebatado, sobre a beleza do corpo, capaz de realizar o amor, a dor, a embriaguez e gerar a vida. Não é nenhuma nudez banal. Algumas vezes, temos figurino e, em outras, o corpo é o figurino. Considero, na verdade, uma ode ao ser em sua natureza primária. É uma peça agreste, do culto ao deus Baco, promove a libertação. E, nesse caso, na mitologia, a libertação é dos sentidos, das roupas e das dores.

Como você percebeu que a conta do Facebook teria sido bloqueada por causa das fotos de nus relativas ao espetáculo?

A rede social disse que minha primeira foto tinha sido denunciada. Eu fico imaginando o sujeito que até deve me conhecer e se presta a um papel desses. Bastava ocultar a foto ou me excluir. Como não achei que era nada além disso, fiz uma resposta e publiquei a famosa foto de Jonh Lennon e Yoko Ono nus e, depois, om tarjas pretas. A rede me avisou que essa foto, símbolo da paz, do amor e da liberdade, também havia sido denunciada. Excluíram as fotos e me deixaram de “castigo” por 24 horas. Em seguida, relatei isso no meu blog e coloquei o link no Facebook. Recebi a mensagem que removeram o link e me bloquearam por três dias. Nesse meio tempo foram “limpando” minha página. Tiram de lá o link de uma matéria jornalística sobre a cantora que cantou nua e até mesmo a foto de um ator do meu espetáculo com o peito nu. Seria o mesmo que retirar a foto de alguém com sunga na piscina ou na praia.

"De Dionísio para Koré": cena da peça que estreia no dia 14 (Fotos: Don Fernando)

“De Dionísio para Koré”: cena da peça que estreia no dia 14 (Fotos: Don Salvador)

O episódio pode beneficiar o espetáculo em termos de divulgação? Você pensa em alterar alguma coisa na montagem, talvez imaginando alguma reação negativa do público?

Pode, infelizmente. Não beneficiar, mas confundir as coisas. A última coisa que importa nesse experimento é a nudez. Ela nunca foi nem uma questão entre o grupo. “De Dionísio para Koré” não é uma peça de apelo sexual. É sobre poemas que beiram o classicismo. Acho impossível que alguém se sinta ofendido com um espetáculo de dança e poesia. O público poderia deixar suas roupas em nossos camarins e se sentar à vontade que ninguém nem prestaria atenção nisso. O episódio revela uma questão mais séria: uma infelicidade geral com a vida mercantilista, uma raiva da liberdade que pode nos levar aos piores crimes, ofensas, formas de entender a diversidade, o outro.

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Não me lembro de já ter visto “cenas fortes” nas suas outras montagens, mas também não sou parâmetro para isso? Você já teve alguma reação mais complicada do público?

O espetáculo não tem “cenas fortes”. Ele é delicado e misterioso, no sentido que é pelo mistério que você se descobre.  Até hoje a única reação mais complicada que tive com um ou outro espectador foi em uma cena da peça “São Paulo Surrealista” em que jogadores de futebol compravam crianças por seus empresários para estuprar e depois comemoravam com axé music com camisetas contendo mensagens religiosas. A cena não tinha nudez alguma, nem parcial. A pornografia era a própria realidade transmitida aos domingos de futebol.

Até que ponto as redes sociais colaboram para aumentar o grau de conservadorismo que a sociedade vive e de que forma se pode reverter a situação? 

A rede social deveria se prestar a marcar o encontro entre todos nós e não nos isolar dentro dela. O cara é um covarde na vida, mas senta atrás da tela e vira um leão, o diretor do mundo. Quantas postagens homofóbicas, racistas, machistas, de intolerância religiosa a gente vê, esfregando em nossa cara uma total incapacidade de diálogo, de discernimento das coisas. O teatro é justamente a via contrária a isso tudo, pois é o último lugar na terra onde pessoas se encontram, conversam, geram uma energia com, sem dogmas e com direito ao pensamento divergente. O resto é tudo mecânico, artificial.  É essa cultura do isolamento que a televisão iniciou.

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