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Cleyde Yáconis e o talento da simplicidade

Cleyde Yáconis era uma atriz de um tempo que já não existe mais. Há muito tempo. Nunca duvidou do talento comprovado em 72 peças, 31 novelas e oito filmes. Sabia, no entanto, que emprestaria a mesma dedicação e competência se fosse, por exemplo, uma médica, esta sim a vocação sonhada na adolescência. “Sou uma mulher […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h03 - Publicado em 16 abr 2013, 01h39

Atriz paulista de Pirassununga morreu aos 89 anos em São Paulo (Foto: Mario Rodrigues)

Cleyde Yáconis era uma atriz de um tempo que já não existe mais. Há muito tempo. Nunca duvidou do talento comprovado em 72 peças, 31 novelas e oito filmes. Sabia, no entanto, que emprestaria a mesma dedicação e competência se fosse, por exemplo, uma médica, esta sim a vocação sonhada na adolescência. “Sou uma mulher das ciências, introvertida, diferente do esperado de uma artista”, afirmou ela, em novembro de 2009, na área externa do teatro que leva seu nome no bairro do Jabaquara, para logo depois reclamar das fotos que ainda seriam feitas. “Não gosto de fotografia, nunca gostei, o meu trabalho é incorporar da melhor maneira uma personagem e não ficar fazendo pose para fotos.”

Atriz Cleyde Yáconis morre aos 89 anos em São Paulo

O súbito mau humor logo passa despercebido quando se tenta analisar a trajetória de Cleyde Becker Yáconis. A grande atriz não parecia realmente vocacionada. Para ela, o teatro, a televisão e o cinema eram veículos de trabalho. Apenas isso. Estreou nos palcos para apagar um incêndio. Durante a temporada da peça “O Anjo de Pedra”, de Tennessee Williams, em 1950, Nydia Licia ficou doente, e a única saída do diretor Luciano Salce foi chamar a irmã de Cacilda Becker, figura comum nos bastidores do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), sempre mais interessada nos figurinos e nos detalhes de produção. Cleyde era dona de uma memória prodigiosa e sabia de cor as falas de todo o elenco. O dinheiro começou a pingar, e veio mais um espetáculo quatro meses depois, “Pega Fogo”. E mais outro. E mais outro. Quando se deu conta, ela era uma das atrizes mais requisitadas da companhia e dividia os créditos e os elogios com a irmã que já era diva – e fazia questão de ser – há pelo menos uma década.

Ser irmã mais nova de Cacilda levou Cleyde talvez intuitivamente a trilhar um caminho oposto. Não no rigor da interpretação e tampouco na excelência do repertório. Mas em uma discrição absoluta e um estilo de vida que passava longe do de qualquer estrela. Mesmo nos áureos tempos do TBC e da Companhia Teatro Cacilda Becker, pouco frequentava os restaurantes e locais mais badalados. “Mais de seis pessoas para mim já é uma multidão”, costumava dizer. Viveu as últimas décadas em um sítio localizado em Jordanésia, na altura do quilômetro 39 da Via Anhanguera. Por lá, ela cuidava do jardim e brincava com os cachorros. Só abandonava o sossego em nome do trabalho. E sem frescuras.

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Durante as temporadas dos espetáculos “Longa Jornada de um Dia Noite Adentro” (2003) e “Cinema Éden” (2005), ambos encenados no Centro Cultural Banco do Brasil, era comum vê-la chegando para as apresentações em seu próprio carro, depois de desbravar o trânsito imprevisível. Por insistência dos produtores, aceitou um motorista para conduzi-la aos teatros nos suas peças seguintes e derradeiras, “A Louca de Chaillot” (2006) e “O Caminho para Meca” (2008).

Vez ou outra, cedia aos apelos da Rede Globo e do amigo Silvio de Abreu para participar de suas novelas. Foi assim, por exemplo, em “Rainha da Sucata” (1990), no ar em reprise do Canal Viva, e, mais recentemente, em “Passione” (2010). Quando a produção da emissora carioca perguntava em qual hotel ela gostaria de ficar nas estadas no Rio, Cleyde era certeira: “Em algum bem longe da praia, o mais longe possível. Gosto de ficar perto do mato. O Rio de Janeiro que gosto é o da Floresta da Tijuca.”

A última aparição de Cleyde no palco foi entre 27 e 29 de julho de 2012 no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Ao lado da atriz Denise Fraga, ela participou de um recital batizado de “Elas Gostam de Apanhar”, em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues. Foi o dramaturgo quem lhe deu uma de suas personagens mais célebres, a prostituta Geni de “Toda Nudez Será Castigada”, montada em 1965, e quem viu disse que não teve outra igual.

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