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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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“No Coração do Mundo” e a reinvenção de “Casa/Cabul”

Lançada pelo dramaturgo americano Tony Kushner em 2001, a peça “Casa/Cabul” trouxe à tona conexões e colisões entre as culturas do Oriente e do Ocidente. Ganhou o palco simultaneamente aos violentos conflitos internacionais que aterrorizaram o planeta. Em maio do ano passado, o diretor Zé Henrique de Paula e os atores do Núcleo Experimental apresentaram […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h46 - Publicado em 7 dez 2012, 13h16

Tony Giusti, Chris Couto e Renata Calmon no drama “No Coração do Mundo”, do Núcleo Experimental (Fotos: Ronaldo Gutierrez)

Lançada pelo dramaturgo americano Tony Kushner em 2001, a peça “Casa/Cabul” trouxe à tona conexões e colisões entre as culturas do Oriente e do Ocidente. Ganhou o palco simultaneamente aos violentos conflitos internacionais que aterrorizaram o planeta. Em maio do ano passado, o diretor Zé Henrique de Paula e os atores do Núcleo Experimental apresentaram uma desastrosa versão integral do texto que beirava três horas de duração – e pareciam mais de dez de tão fatigante – no Sesc Santana. Absolutamente nada se salvava naquela montagem. A encenação trazia atores em diferentes registros, muitos completamente inseguros, e o peso político da trama a tornava nebulosa e de difícil identificação com a plateia, apesar do conteúdo factual.

Não deixa de ser surpreendente verificar que o mesmo grupo, um ano e meio depois, tratou de fazer uma revisão do mesmo projeto. Rebatizado de “No Coração do Mundo”, o drama em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental com entrada franca não se mostra apenas uma tentativa agora bem-sucedida de levar ao palco a obra de Kushner. É principalmente uma prova de humildade e também de grandeza do diretor Zé Henrique de Paula, um dos mais talentosos e profícuos da cena teatral na última década, em reconhecer um fracasso e tentar transformá-lo para oferecer algo melhor ao espectador. Chris Couto, Herbert Bianchi, Eric Lenate, Alexandre Meirelles, Thiago Ledier e Fábio Redkowikz, todos do elenco original, atuam aqui junto de mais seis atores. Se os diretores, produtores e atores deixassem de olhar um pouco para seus umbigos e assumissem as falhas e desacertos de seus projetos talvez a produção teatral de São Paulo ganhasse em qualidade.

Eric Lenate e Renata Calmon na nova versão do texto de Tony Kushner

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Nessa livre adaptação assinada pelo próprio diretor, a ação está mais voltada para o intimismo do que para a visão política e conquista a atenção pela plasticidade e por uma encenação multifacetada. Em um monólogo inicial de 25 minutos – antes eram mais de 50 –, Chris Couto interpreta, dessa vez com firmeza, a Sra. Ceiling, uma dona de casa inglesa sentada em uma poltrona de sua casa, afogada no tédio e domada por antidepressivos. Durante a leitura de um guia de turismo sobre o Afeganistão, ela mergulha na cultura e nas relações de um território tomado pela violência, mas não menos devastador que sua rotina infeliz. O público é convidado a pegar carona nessa viagem – imaginária ou real? – e, em outro ambiente do teatro, se vê na cidade de Cabul em meio à fumaça, tiros e pessoas amedrontadas. Lá, o marido da protagonista (papel do ator Tony Giusti) e sua filha (a atriz Renata Calmon) tentam descobrir o que aconteceu de fato com ela. Para alguns, ela teria sido executada. Existe ainda a possibilidade de a mulher ter se casado com um cidadão local e se convertido à cultura dele. Em meio a essa busca, um coro afegão (composto pelos atores Thiago Carreira, Laerte Késsimos e Felipe Ramos) e ainda a atriz e cantora Nábia Vilela apresentam temas musicas que remetem àquele povo e clássicos conhecidos na voz de Frank Sinatra.

Alçada ao plano central, a personagem de Chris Couto vaga aleatoriamente pelo cenário e sua depressão toma forma em dimensão tão dilaceradora quanto a da guerra. Essa é a grande sacada da releitura. Ao humanizar ao extremo os personagens, o Núcleo Experimental convida a plateia a fazer parte daquela história sem pesar a mão no discurso político. No elenco central, Renata Calmon não apresenta a mesma segurança dos colegas, mas não compromete o resultado. Do time coadjuvante, mais uma vez o ator Eric Lenate – talvez o único destaque da encenação de 2011 – volta a impressionar com sua caracterização e, assim como Chris – que nem parece a mesma atriz da versão passada -, Herbert Bianchi cresce na confusão mental de seu personagem.

 

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