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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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Agosto com Nelson Rodrigues nos palcos paulistanos

Entre 1941 e 1978, Nelson Rodrigues (1912-1980) escreveu dezessete peças. Suas tramas giram em torno de conflitos familiares, relações muitas vezes incestuosas e obsessões que envolvem respeitáveis senhores ou mulheres de sólida formação moral. O que importa nesse momento, quando todo mundo fala – ou deveria falar – do centenário do nosso maior dramaturgo é […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 12h19 - Publicado em 19 jul 2012, 20h14

O dramaturgo pernambucano criou uma identidade para o teatro brasileiro em dezessete peças (Foto: Silvestre Silva)

Entre 1941 e 1978, Nelson Rodrigues (1912-1980) escreveu dezessete peças. Suas tramas giram em torno de conflitos familiares, relações muitas vezes incestuosas e obsessões que envolvem respeitáveis senhores ou mulheres de sólida formação moral. O que importa nesse momento, quando todo mundo fala – ou deveria falar – do centenário do nosso maior dramaturgo é salientar que antes dele o teatro brasileiro praticamente não tinha uma identidade. Escandalizando muita gente, o tal Anjo Pornográfico colocou na sala de estar da classe média temas que só poderiam ser tratados em cenários como bordéis, hospícios ou outros ambientes não lá muito higienizados.

Os palcos de São Paulo já estão fervendo. Marco Ricca e Maria Luisa Mendonça protagonizam respectivamente “Boca de Ouro” e “A Falecida”, dirigidos por Marco Antônio Braz, no Teatro do Sesi. Capitaneada por João Fonseca, Alinne Moraes dá corpo para a maldita “Doroteia”, que estreia no dia 28 no Teatro Raul Cortez. As crônicas de “A Vida Como Ela É” inspiraram a coletânea “Rodriguianas – Tragédias para Rir”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, e até uma inusitada montagem de “O Grande Viúvo”, outra história publicada na imprensa, ganhou forma no breu pelo grupo Teatro Cego, comandado por Paulo Palado.

Os teatros da Prefeitura começam a aplaudir Nelson Rodrigues nas próximas semanas. Espetáculos já aprovados pelo público e pelo menos duas novidades cumprem temporada com entrada franca. Os ingressos devem ser retirados uma hora antes das apresentações nas próprias bilheterias. A performance “Tirando os Pés do Chão”, dirigida e coreografada por Erica Rodrigues, ganha sessões no Teatro João Caetano, entre 9 e 26/8, de quintas a domingos. Aqui está a programação teatral da mostra “Agosto Cem Nelson”:

 

Renato Borghi contracena com Hudson Senna em “O Beijo no Asfalto” (Foto: Lenise Pinheiro)

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O Beijo no Asfalto. Escrita em 1961, a tragédia é um clássico absoluto. Sob a direção de Marco Antônio Braz, o espetáculo traz um elemento raro nas diversas incursões pela obra de Nelson: o mesmo espírito transgressor. Interpretado por Hudson Senna, Arandir é o sujeito que, num ato de humanidade, se ajoelha diante de um atropelado e lhe beija a boca. Presenciada por um repórter (Élcio Nogueira), sua atitude vira manchete de jornal e desencadeia perversos segredos envolvendo o sogro, Aprígio (Renato Borghi), a mulher, Selminha (Gabriela Fontana), e a cunhada Dália (Lívia Ziotti, muito convincente). Apoiado em uma trilha sonora de sambas, o diretor dá total liberdade aos atores para transitarem sem medo de exagerar nas suas caracterizações. Borghi e Nogueira, principalmente, aproveitam a brecha em cenas de forte impacto, como aquela em que o jornalista incentiva o sogro a vingar-se do genro.

Teatro Alfredo Mesquita. 22 e 23/8. Terça e quarta, 21h.

Teatro Cacilda Becker. 3 e 10/8. Sexta, 21h.

Boca de Ouro: Nos últimos quatro anos, o Grupo Gattu, liderado pela atriz e diretora Eloisa Vitz, recriou o universo do dramaturgo com encenações caprichadas e que, muitas vezes, dialogam com o circo, a dança e a música. Com a volta ao cartaz dessa versão da tragédia carioca, o público ganha a chance rara de ver dois exemplares do mesmo texto no palco. Escrita em 1959, a trama é centrada em um bicheiro que troca a dentadura natural por outra feita de ouro. A história é contada em três versões por uma de suas amantes, dona Guigui, depois do assassinato do protagonista, envolvendo o casal Leleco e Celeste.

Teatro Alfredo Mesquita. 8 e 9/8. Quarta e quinta, 21h.

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Teatro Cacilda Becker. 24 a 26/8. Sexta e sábado 21h; domingo, 19h.

Carol Carreiro e Gabriela Fontana em cena de “17 X Nelson – Parte 2 – Se Não É Amor Não É Eterno” (Foto: Bob Sousa)

17 X Nelson – Parte 2 – Se Não É Amor Não É Eterno: Em 2005, o diretor Nelson Baskerville organizou um grande trailer, como ele mesmo define, da obra do dramaturgo. Criou um espetáculo com uma cena de cada uma das dezessete peças escritas entre 1941 e 1978 e alcançou um resultado calcado no trágico característico do autor. A repetição da fórmula poderia parecer “mais do mesmo”, mas se mostra inventiva e renovada. Pelo palco, circulam onze atores e sessenta personagens envolvidos em conflitos familiares e temas tabus, como as irmãs Alaíde e Lúcia, de “Vestido de Noiva”, ou a prostituta Geni de “Toda Nudez Será Castigada”. Baskerville não estabelece uma unidade – investe na estética e no apelo visual, reafirmando sua maturidade de encenador. Entre os momentos inspirados estão os recortes de “O Anjo Negro”, “Doroteia”, “Boca de Ouro” e “A Falecida”, que homenageia Fernanda Montenegro na projeção de trechos do filme dirigido por Leon Hirszman e estrelado por ela em 1965.

Teatro Alfredo Mesquita. 15, 16 e 24/8. Quarta, quinta e sexta, 21h.

Teatro Cacilda Becker. 1 a 9/8. Quarta e quinta, 21h.

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Doroteia. Escrito em 1949, o poético drama farsesco integra a galeria de peças míticas do autor. A personagem-título é uma ex-prostituta que busca abrigo na casa de três viúvas. Acredita que o convívio com as castas Dona Flávia, Carmelita e Maura a absolverá de todos os seus pecados. Sob a direção de Brian Penido Ross, figuram no elenco Giovanna Ghiurghi, Paloma Galasso, Rita Giovanna, Ana Claudia Fanchini, Zeza Motta e outros.

Teatro Zanoni Ferrite. 10 a 19/8. Sexta e sábado, 20h; domingo, 19h.

Myrna. Dirigido por Renato Borghi e Élcio Nogueira, o espetáculo é uma das novidades nos nossos palcos. Luciana Borghi e Roque Gomes protagonizam a peça baseada nos textos publicados por Nelson no jornal “Diário da Noite” sob o pseudônimo, claro de Myrma. Conselhos sentimentos, uma visão irônica do amor e reflexões divertidas sobre a condição feminina foram costuradas no roteiro assinado por Elias Andreato.

Teatro Zanoni Ferrite. 3 a 5/8. Sexta e sábado, 20h; domingo, 19h.

Einat Falbel está à frente do elenco da versão musical de “Senhora dos Afogados” (Foto: Guto Marques)

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Senhora dos Afogados: O diretor Zé Henrique de Paula foi corajoso ao transformar em musical a tragédia de 1947. Mais confortável seria permanecer fiel às palavras do dramaturgo e dispensar a inserção de versos de terceiros. Responsável por “R&J”, “Cândida”, “Side Man” e “Bichado”, o encenador provou competência para não comprometer o clássico nessa produção lançada em 2007. A história de dona Eduarda (interpretada por Einat Falbel) e Misael (papel de Tony Giusti), que acabam de perder a filha caçula, está intacta. “Pedaço de Mim” e “A Ostra e o Vento”, de Chico Buarque, “A Ilha”, de Djavan, e “Meu Veneno”, de Milton Nascimento, figuram entre as onze canções inseridas na trama. Interpretadas pelo elenco na companhia de Fernanda Maia ao piano e Luciana Rosa no violoncelo, vez ou outra elas soam excessivas, mas o bom trabalho dos 21 atores garante a tensão dramática e mostra que renovar Nelson é possível.

Teatro Alfredo Mesquita. 17 a 19/8. Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h.

Sala Olido. 24 a 26/8. Sexta e sábado, 20h; domingo, 19h.

Diogo Pasquim e Daniela Rocha Rosa na versão do Grupo Gattu para “A Serpente” (Foto: Lenise Pinheiro)

A Serpente: Lançada no ano passado, trata-se de mais um montagem do Grupo Gattu. A diretora Eloisa Vitz investiu na peça de 1978, uma das menos estimadas do autor, e, graças ao já comprovado empenho, se saiu bem. Duas irmãse os respectivos maridos dividem um apartamento. Enquanto Guida e Paulo vivem felizes, Lígia desespera-se com a impotência de Décio. A crise é deflagrada quando Guida oferece o parceiro à irmã. Sem transgressões nem adaptações radicais, a montagem conquista pelo conjunto. À primeira vista convencional, se comparado às várias incursões inventivas na obra de Nelson, o espetáculo esbanja ingredientes para cativar o público que busca qualidade.

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Teatro Alfredo Mesquita. 10 a 12/8. Sexta e sábado, 21h; domingo 19h.

Teatro Cacilda Becker. 22 e 23/8. Quarta e quinta, 21h.

Adriana Guerra, Renato Borghi, Élcio Nogueira e Débora Veneziani em “Os Sete Gatinhos” (Foto: Bob Sousa)

Os Sete Gatinhos. Uma forte e original releitura. A tragédia de 1958 é centrada na família do funcionário público Noronha (o ator Renato Borghi), na qual todos se sacrificam, sem pudor algum, em torno de um objetivo: fazer com que a caçula, Silene (papel de Greta Antoine), se case virgem. Quando a garota é expulsa do colégio interno por estar grávida, o clã entra em colapso. Em uma montagem irreverente e inventiva, o diretor Nelson Baskerville transformou o cenário principal no próprio inferno, inseriu números musicais e em nenhum momento subtraiu elementos da trama original ou menosprezou a essência dos personagens de Nelson. Com Élcio Nogueira, Roberto Arduim, Gabriela Fontana, Caroline Carneiro e outros.

Teatro Alfredo Mesquita. 25 e 26/8. Sábado, 21h; domingo, 19h.

Teatro Cacilda Becker. 4 a 12/8. Sábado, 21h; domingo, 19h.

Valsa nº 6: Trata-se do único monólogo escrito pelo autor. Depois de ser revisado no último ano por Marco Antônio Braz e Dan Rossetto, o texto ganha a direção de Eric Lenate na montagem inédita. Renata Clamon interpreta uma angustiada  garota de quinze anos. Entre obscuras lembranças, Sônia evoca o seu suposto assassinato. Na busca incessante por saber quem é e onde está, a personagem dá vida e voz a outras figuras que formam o universo do seu subconsciente: os pais, o médico da família, as criadas da casa, o homem por quem é apaixonada e as comadres da vizinhança.

Teatro Décio de Almeida Prado. 3 a 12/8. Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h.

Teatro Zanoni Ferrite. 24 a 26/8. Sexta e sábado, 20h; domingo, 19h.

Cléo De Páris interpreta Alaíde na montagem de “Vestido de Noiva” pela Cia. Os Satyros (Foto: André Porto)

Vestido de Noiva. Lançada em fevereiro de 2008 em uma rápida temporada no Itaú Cultural, a montagem da Cia. Os Satyros para o clássico que revolucionou a dramaturgia brasileira em 1943 foi pouco vista. Sob a direção de Rodolfo García Vazquez, a peça mostra Alaíde (a atriz Cléo De Páris), que, após sofrer um acidente, relembra o amor pelo marido (Ivam Cabral) e a rivalidade com a irmã (Katia Calsavara). Entre memória e alucinação, a jovem ainda encontra a cafetina Madame Clessy (Helena Ignez), com quem vive um embate. Mais 10 atores completam o elenco.

Teatro Cacilda Becker. 16 a 19/8. Quinta e sexta, 21h; sábado, 18h e 21h; domingo, 19h.

 

 

 

 

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