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Pátria, série espanhola da HBO, faz autópsia do grupo terrorista basco ETA

Em oito episódios, a história traz os conflitos de duas famílias rivais em locações nas cidades de San Sebastián, Bilbao e Vitoria.

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 fev 2021, 15h33

Texto de Raul Juste Lores

Depois de ouvir tiros, uma mulher corre desesperada ao encontro do marido baleado, caído no meio da rua, sob intensa chuva. Apesar dos seus gritos, nenhum vizinho aparece para socorrê-los.
A primeira série produzida pela HBO Europa com estreia mundial (em sessenta países, no ano passado) consegue explicar essa omissão, cada vez mais frequente nos mais diversos contextos.
Pátria traz a história de duas amigas, donas de casa que têm sua relação transformada pela atuação do extinto grupo terrorista basco ETA (1959-2018). O registro é local, mas a trama põe a audiência global em um mesmo divã: o estrago dos boatos e das teorias conspiratórias; a covardia de quem se cala diante de linchamentos e da brutalidade da manada; como o ódio se apropria dos nossos sentimentos e decisões. Por fim, como saber escutar e se reconciliar em tempos de polarização é difícil e doloroso.

Bittori fica viúva quando o marido, dono de uma pequena transportadora em um vilarejo basco, não consegue mais pagar o chamado “imposto revolucionário” do ETA. É assassinado, depois de uma campanha de difamação, como “traidor da causa”, em pichações por todos os cantos. Sua presença é tóxica e os velhos amigos fazem de conta que não o conhecem mais. Miren, a outra dona de casa, vê o filho ingressar no grupo separatista e começa a justificar as ações violentas do grupo. O terrorismo impôs que cada basco escolhesse um lado, e a série vai demonstrando como a comunicação entre conterrâneos vai desaparecendo.

Apesar de contar com apenas oito episódios, o primeiro deles, lento e soturno, pode afugentar o espectador mais apressadinho. Resista! Não se vê a Espanha solar mediterrânea ou andaluza, nem o Almodóvar light de La Casa de Papel. Os bascos, como boa parte do norte daquele país, têm austeridade quase escandinava. Não só nos sentimentos, no clima mais chuvoso, nas cores escuras: há poucos símbolos de riqueza na série, mesmo tendo locações nas três maiores cidades da região, as ricas San Sebastián, Bilbao e Vitoria. Os diálogos também são secos. “Em vez de enterrá-lo, parece que o estamos escondendo”, reclama a viúva Bittori.

Nas quase três décadas cobertas pela série (baseada no caudaloso romance de Fernando Aramburu, lançado no Brasil pela Intrínseca), ninguém sai muito bem dessa autópsia dos anos ETA. A polícia espanhola humilha e bagunça as casas onde faz buscas, esbanjando preconceito e mesmo tortura; as extorsões e a demagogia dos jovens terroristas são expostas pela xenofobia com que olham aos vizinhos que nasceram ali, mas não têm “sangue puramente basco”.

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A série já foi chamada de “faroeste de senhoras” pelo enfrentamento (às vezes, com humor ) das duas protagonistas. No etarismo tão comum na mídia, é um deleite ver atrizes veteranas (Elena Irureta, 65, e Ane Gabarain, 59) dominarem a cena com todas as nuances do ofício, da ingenuidade ao ódio brusco, em mínimos gestos. Amigas na vida real, são mais conhecidas pelos personagens cômicos em seriados da TV e do teatro bascos. Mas conheceram a tragédia de perto (o elenco inteiro é local). Vale prestar atenção nos jovens intérpretes Loreto Mauleón e Iñigo Aranbarri. Seus personagens têm uma possível grande história de amor interrompida pelo racha das famílias. Por razões distintas, são silenciados pela guerra. Os bastidores da filmagem mostram quão recente é o drama apresentado. Prefeito do vilarejo que inspirou a história, membro de um partido separatista, não permitiu que cenas fossem gravadas ali. HBO GO ou na HBO pelo NOW. 

 

 

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