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Sobrevivente do Holocausto faz seu Bar Mitzvá aos 91 anos

Andor Stern não pode realizar cerimônia no tempo certo, pois foi criado na Hungria em pleno período nazista e acabou em campo de concentração

Por Ana Carolina Soares
12 nov 2019, 20h02

A fita sagrada passa pelo antebraço esquerdo de Andor Stern, consultor técnico de 91 anos, e cobre a tatuagem com um código, 169S8. “Sem dúvida, aquele foi o momento mais especial do meu bar mitzvá”, emociona-se. A cerimônia judaica que marca a passagem de um garoto à vida adulta ocorreu no Memorial do Holocausto, no Bom Retiro, no início da noite da segunda (11).

Na tradição, os meninos realizam esse ritual na adolescência, mas na vida desse paulistano nascido no Bixiga, ocorreu com 78 anos de atraso. Stern não pôde fazer o processo na época certa porque se criou na Hungria em pleno período nazista. Foi preso e passou treze meses em Auschwitz, na Polônia, o mais letal campo de concentração. Lá, deixou de se chamar Andor para virar o código no corpo. Naqueles anos, viu sua mãe e seus avós morrerem nas câmaras de gás, além toda espécie de atrocidade em um cotidiano infernal que terminou em 1º de maio de 1945, quando foi libertado pelos soldados americanos. Tinha 17 anos e pesava 28 quilos.

Tefilin é o nome da fita sagrada e simboliza amarrar pensamentos e ações a Deus. “É uma simbologia muito grande. Os nazistas se foram, mas nós estamos aqui”, conclui. Stern conseguiu voltar a São Paulo em 1948 ao ganhar uma bolsa de estudos de uma multinacional. Virou funcionário, mas, depois, decidiu abrir uma empresa do ramo químico. “Fali no Plano Collor, mas não desisti e sigo trabalhando”, conta. Hoje, trabalha como consultor de qualidade de uma multinacional brasileira. “Minha saúde é ótima e não falto ao trabalho. Tanto que hoje dei o expediente antes de vir à festa”, gaba-se.

Stern é casado há 65 anos com Therezinha Figueira, 89, e teve cinco filhos. Dois deles foram à cerimônia. A esposa não pôde ir porque sofre de algumas doenças que abalaram sua mobilidade.

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Por que só agora fazer o bar mitzvá?O rabino David Weitman me convidou. Mais do que um religioso, ele é um homem que acredita no ser humano e ajuda muita gente. Acredito mais em boas ações do que em dogmas”, diz o judeu que se casou com a bênção de um padre e, de vez em quando, vai a igrejas católicas. “Depois da guerra, principalmente quando vim ao Brasil, passei a evitar me declarar judeu. Minha mulher, católica, diz que foi enganada”, brinca.

Simpático e falante, Stern reconstrói seus terrores e os transforma em lições de vida. “Mais do que religião, o que importa é ser uma boa pessoa, estender a mão para os outros e não ficar ostentando. Dia desses, vi na VEJA a Luciana Gimenez nua, só com uma bolsinha que custava mais de 20 000 reais. Quanta gente poderia ser alimentada com esse dinheiro? Deveríamos focar em outras coisas. Riqueza é o milagre de acordar todo dia em uma cama com lençol limpo e um sabonete para tomar banho”, acredita.

Margot Bina Rotstein: sobrevivente da Noite dos Cristais recebe carinho de suas amigas da ONG onde trabalha em Santos (Aline Marcovici/ Divulgação/Veja SP)

Após o bar mitzvá de Stern, houve uma cerimônia para lembrar os 81 anos da fatídica Noite dos Cristais. Na madrugada de 10 de novembro de 1938, ocorreu o primeiro grande ataque à comunidade judaica na Alemanha comandada por Adolf Hitler. Casas de judeus e sinagogas tiveram fachadas e vidros destruídos. “Lembro de Berlim em chamas e os soldados destruindo minha casa à procura de meu pai”, conta Margot Bina Rotstein, 87, uma das homenageadas naquela noite. Ela tinha 7 anos quando sua família precisou fugir da Alemanha. “Saímos com a roupa do corpo, mas conseguimos nos livrar dos campos de concentração.”

Primeiramente, mudaram-se para La Paz, na Bolívia. Quando Margot tinha 15 anos, a família migrou para São Paulo. Aqui, conheceu seu marido, o empresário Ignácio Rotstein, tiveram três filhos e ficaram casados durante 54 anos. “Cumprimos o juramento do ‘até que a morte os separe’”, lembra Margot, com orgulho, sobre seu companheiro que faleceu em 2007.

Há quase quinze anos, ela se mudou para Santos, trabalha como voluntária em uma ONG e de vez em quando gosta de sair com as amigas. Nunca pensou em sair do Brasil, observa a política com atenção e se diz admiradora do presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Eu me considero uma pessoa de centro e votei nele por falta de opção, mas está fazendo um bom governo”, conta. Ela observa alguns movimentos racistas, mas acredita que se trata de um problema mais frequente no exterior. “Aqui não tem isso. Vocês, brasileiros, não sabem o que é fascismo. As pessoas deveriam parar de cultivar o ódio”, ensina.

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